Quando Deus fez o homem, ele achou tão bom o que havia feito que resolveu dar-lhe muitos anos de vida. Está escrito nos livros sagrados que os primeiros homens viviam centenas de anos. Adão, Set, Enoc, Lamec, Matusalém, Noé, foram pessoas que viveram muitos séculos. 

     Mas logo alguns homens começaram a fazer tanta bobagem na vida que Deus arrependeu-se de tê-los criado. Isso também está escrito e não sou eu que estou inventando. Como Ele não tinha uma pinça com a qual pudesse tirar da terra somente os indivíduos malvados, e também os irresponsáveis, os mentirosos, os viciados, etc., nem tinha como separar uns dos outros, (pois o bem com mal tinha se misturado de tal forma que era impossível saber o que era um e o que era outro), o Criador achou mais fácil acabar com a criação inteira e começar tudo de novo. Fez como o cara que para se livrar da água suja, joga fora a bacia com o bebê dentro.

     É que Deus é Deus e tudo pode. Foi então que mandou cair um pavoroso dilúvio sobre a terra para afogar todo mundo. Assim, quando optou por desenvolver uma nova criação a partir da família de Noé e dos animais que Ele decidiu salvar, (os pré-históricos não estavam entre eles porque eram muitos grandes e não cabiam na arca), Deus resolveu também que os novos homens não deviam viver tanto tempo quanto antes. Destarte, se eles se tornassem maus, eles logo morreriam por si mesmos e Ele não precisaria ter tanto trabalho para fazer tudo de novo.

      Claro que Deus é eterno e um dia, para Ele, é como um milhão de anos. Mas convenhamos que mesmo para um Ser tão infenso assim às calendas, deve ser terrivelmente inconveniente ter que esperar centenas de anos para tirar naturalmente de circulação uns caras que só lhe dão dor de cabeça. As autoridades atuais que o digam. Quantos anos levariam para começar a fazer uma limpa nas quadrilhas do Rio? E nos meios políticos? Será que um dia isso vai ser feito? A Lava a Jato tentou isso durante dos cinco anos, conseguiu botar na prisão uma meia dúzia e deu no deu. A maioria deles a “Justiça” já soltou.

      Mas Deus tem sabedoria. E foi por isso que Ele deu aos homens daquele tempo pouco mais de trinta anos de vida média. Essa informação consta dos anais antropológicos e não sou eu que estou inventando. Nos tempos dos antigos patriarcas que viveram depois do dilúvio, a vida média dos homens não passava dos trinta. Se passasse disso, ele logo era considerado um mau sujeito. Por isso aquele velho ditado: “não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Dessa forma, as pessoas morriam logo e a criação ia se renovando, sem muito trabalho nem muito estresse para o Criador.  

 

      Quem não gostou dessa decisão foram os filhos de Noé. (Isso sou eu que estou inferindo por conta das minhas próprias observações).

       – Injustiça – clamaram eles. – Nossos antepassados viviam várias centenas de anos. Nós e nossos descendentes só temos direito apenas a umas poucas dezenas!

       Foram reclamar com o Juiz Supremo, mas suas queixas resultaram infrutíferas. Deus já sabia com quem estava lidando e não queria mais correr riscos.

       Foi então que os solertes filhos de Noé imaginaram um estratagema para aumentar o tempo de vida deles e de seus descendentes. Quando as águas baixaram, eles reuniram todos os animais que estavam na arca e exigiram uma parcela do tempo a que cada um tinha direito por conta do fato de lhes ter salvo a vida e garantido a perpetuação das suas espécies. Como os bichos não tinham alternativa – ou concordavam ou ficariam na arca e morreriam de fome – eles concordaram.

      Assim, os animais tiveram seu tempo médio de vida diminuído e os homens aumentaram os seus. Um cachorro que tinha direito a uns 20 anos ficou reduzido a 15. Bois, que poderiam viver trinta ou mais perderam uns dez. Galinhas e outras aves passaram de dez para cinco e assim por diante. Por conta dessa negociata os homens não voltaram à antiga média, por que os animais não eram tão longevos assim, mas conseguiram que alguns pudessem emplacar pelo menos uns cento e poucos anos de vida.

 

      É também por isso que o homem hoje vive cerca de trinta anos como ser humano e passa o resto da sua vida se comportando como animal. Ora é serpente, ora é pomba. Sucede também às vezes ser leão, para no momento seguinte tornar-se um carneiro. Nietzsche disse que ele sofre, ao longo da vida, três transformações. Primeiro para camelo, de camelo para leão, de leão para criança. Mas eu sustento que esse transformismo é muito maior. Ele, às vezes, também é macaco, lobo, cachorro, hiena e porco. Galinha igualmente. Isso quando não é verme, rato, lesma, cobra e outras formas da espécie, inclusive veado.... E para compensar sucede ser ocasionalmente, também abelha,  borboleta, beija-flor, porque afinal, nem tudo precisa ser tão feio na vida.... 

   O problema não é comportar-se como animal. Porque não existe maldade nem intencionalidade nas ações praticadas por um animal. Cada um é o que é segundo a sua natureza. São bons e belos naquilo para o qual são feitos.       A questão é escolher o tipo de animal certo para a hora certa. Ás vezes é preciso ser simples como pombas e prudentes como serpentes, como Jesus disse. Ou ser valente como leões e mansos como cordeiros. Quando aprendemos a escolher a alternativa certa, não estamos vivendo uma vida emprestada. Estamos usando uma sabedoria acumulada em nossas células desde que a vida surgiu na primeira combinação protéica que a natureza engendrou. E como disse o sábio eclesiástico, há tempo e lugar para tudo. 

      Por isso não é tão importante o tempo que se vive, mas a intensidade com que se vive. Se ele for bem empregado, um dia será como um ano, um ano como um século. Por isso, uma vez mais, insistimos no conselho. Carpe Diem. Viva cada dia. O ontem não dá para recuperar e o amanhã só Deus sabe se virá. 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/09/2023
Código do texto: T7897068
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.