Rainha da selva, serva da natureza
Nossa história se passa na maior floresta tropical do mundo - na Amazônia. Lá, entre vários bichinhos que existem, habita a dona Onça, que por ela está no topo da cadeia alimentar, gosta de mandar muito nos outros e se acha o centro do mundo. Esse felino vive dizendo que não merece comer qualquer coisa na floresta. Nem se junta para conversar com qualquer um. Vive sozinha com o fuço para cima.
Um dia acordou sem vontade de caçar, o grau do ego dela era tão grande que pensava que os bichos é que deveriam ir até ela. Dizia que não podia saí por aí caçando ninguém. Estava no topo. Sorte dela é que ela era, por natureza, muito inteligente, por isso arrumou um jeito para não se humilhar correndo atrás de ninguém. Como na mata choveu muito na noite passada, formou-se uma pequena poça de água muito limpa, tão limpa que de perto parecia um vidro de tão transparente.
Aí que teve a ideia que os animais da floresta veriam até ela, influenciados pelo lago, quando estiverem com sede. A Onça se relaxou perto da poça de água e só esperou a primeira presa cair no golpe. Chegou perto uma pequena Andorinha com as asas molhadas da chuva e uma das patas quebrada, pobrezinha. Chegou perto e cantou com seu bico: -Posso beber, onça?
A onça revirou os olhos, com um certo nojo disse:
-É frágil demais, tá um nojo.
A Andorinha ficou sem entender. E a Onça, tentando fingir, corrigiu-se: -É água demais, tá fresquinha.
A Andorinha bebeu e afastando, com dificuldades, alguns passos para trás, voou para longe para os topos das árvores.
A onça ficou com nojo de devorar aquele pássaro magro e doente.
Passando-se uns minutos chegou uma Anta. Chegou entrando de uma vez dentro d'água, sujando toda a água e, ademais, molhando a própria Onça - já furiosa.
— Que Anta mal-educada - resmungou a Onça.
E no mesmo momento pensou que se devorasse aquele animal a faria ficar menos inteligente. Então optou por não comer. A Onça esperou, esperou e esperou outro animal passar. Mas nada!
Ninguém passava. Quando estava quase pegando no sono na beira do lago, um viado apareceu. Disse "oi, dona Onça" tão alto que o felino tomou um espanto, o que era difícil acontecer. O veado perguntou como estava seu dia, como conseguiu aquelas pintas pretas no seu corpo amarelo, como fazia xixi e o que sonhava quando dormia. A Onça ficou tão aterrorizada com tantas perguntas que mostrou seus dentes para o veado, este saiu correndo tão rápido quanto uma flecha no ar. Ainda irritada com tantas perguntas bestas, sentiu um fedor horrível vindo de algum lugar. Era um Tatu bem atrás dela. Era um fedor azedo de suor. A Onça ordenou que o Tatu ficasse longe dela, bem distante. O Tatu, assustado, nem bebeu a água, saiu rolando pela mata para bem longe.
O Tatu, como tinha muitos colegas, falou que a Onça estava muito brava e que não queria ninguém por perto. A notícia rolou por todos os cantos, até os besouros souberam. A orgulhosa da Onça permanecia a beira da pequena poça de água, lambendo suas patas, deitada. A Onça estranhou porque nenhum animal passava mais por ali. No meio do dia o sol esquentou bastante, o que fez com que a água toda do seu lago evaporasse. Secou totalmente. A Onça, com sede de tanto lamber as patas, ficou preocupada, não viu água nenhuma por perto e nem um bicho.
Assim, teve de sair para alguns lagos por perto. Mas todos os outros animais fugiam dela. Os pássaros ajudavam as cobrinhas que não fugiam rápido, e os macacos gritavam dando sinal que a Onça estava por perto. Quando voltou ao seu lugar estava se sentindo fraca e com fome. Foi aí que adoecera. A orgulhosa da Onça estava magra e desidratada, porque já nem tinha forças para beber nos rios por perto.
Os outros animaizinhos passavam por ela e não ajudavam com medo dela tratar mau eles. A Onça começou a refletir se era mesmo o centro do mundo, o topo de tudo. Caída, enxergava besouros desfrutando o mesmo ar que os pássaros e ela ali no chão quente e imóvel. A dor forte atacou sua barriga e ela fechou os olhos e morrera. A Onça que estava no topo da cadeia alimentar morrera naquela terra seca após passar fome. Os fungos e bactérias foram os únicos a ajudar ela a desaparecer na terra, pois foram os únicos que não conseguiram ouvir, de tão pequenos, a história que a Onça era chata. Eles fizeram a composição da matéria. Ali ela ficou só o esqueleto. A chuva veio de novo e a poça de água voltou. As Andorinhas se repousavam em cima da costela da Onça. Os veados comiam os gramados por ali perto. Os tatus rolavam alegremente e as antas banhavam loucamente no lago, salpicando os ossos da Onça. A mãe natureza continuo seu ciclo de nascer, crescer e morrer. Ninguém estava melhor que o outro.