OS BEIJA-FLORES
Estava eu sentada, na sala, lendo o livro “Lisístrata: a Greve de Sexo”, de Aristófanes, quando pousaram dois beija-flores no peitorial da janela em frente as minhas orquídeas e violetas. Um deles falou:
– Olha! Olha! Que beleza!
– Não viste que é impossível irmos até às plantas para nos deliciarmos com seus néctares?
– É! Há rede na janela?
– Deve ter crianças. Tristezas de um, alegria de outros!
– Não é bem assim! Cabe às famílias protegerem suas crianças. O nosso universo é a natureza!
Enquanto os ouvia, chamou-me a atenção o quanto era intenso o balançar de suas asas. Fenomenal!Tentei acompanhar os movimentos. Sem chance! Por alguns segundos, um deles me pareceu estar imóvel no ar. Nesse ir e vir, fiquei sem saber como era o voar de meus visitantes. Para frente, para trás?! Como? As cores de um eram brilhantes e chamativas; a do outro, suaves e discretas. Perguntei-me:
– Um casal? Resposta que nunca terei!
Meu devaneio foi interrompido, ao ouvir o comentário de um dos beija-flores:
– Por que os humanos dificultam a vida dos outros seres? Embora estejamos no lado de fora, onde está a nossa liberdade de ir e vir?
– Tens razão! Tiraram-na! Aqui, pelo que pude observar, o forragear as flores seriam ótimo! Quantas?!
– Sem chances, vamos a outro lugar!
– É impressão minha ou a senhora pareceu-me ficar triste ao olhar-nos?