O Quadro.
O Quadro.
Sentado numa pedra, a espera de um novo tempo, aquele homem, olhava atentamente a imensidão deste mar a sua frente, não via nenhuma Nau cruzando o manto azul, não via nenhum barco pesqueiro jogando sua rede em busca da sobrevivência, pois, aquela tristeza havia cegado sua visão, deixando rastros de lamentos, pensava que ninguém ouvira seu silêncio já que, ninguém esteve ali.
De repente pensou ter ouvido algo, olhando ao redor nada, balançou a cabeça como se estivesse louco, e então, uma voz soou num tom baixo:
- Boa noite.
Virou-se novamente, e, lá estava aquele senhor de aparência simplória, mas, sua postura atribuía a uma sabedoria além da nossas mentes.
- Boa.
- Posso apreciar a miragem contigo?
- Pode!
O velho sentou-se na pedra, e, olhando fixamente o mar por alguns minutos, falou:
- Hum! Hum! Não quero atrapalhar sua concentração, mas, o quê vê?
- Nada!
- Como assim?
- Nada, apenas espero ver uma mudança, uma embarcação, ou, mesmo uma pequena marola, porém, nada acontece.
- Hum! É tudo que consegue vê?
- Não vê? Está cego?
- Talvez esteja! Talvez não queira! Talvez nem deseje ver, já que, assim é mais fácil aceitar...
- Sem essa, vai me dizer que esta vendo algo mais.
- Sim! Talvez o que você esteja precisando não é encontrar uma mudança exterior, mas, interior.
- Ok. Agora virou profeta.
- Não! Longe de mim denegrir tal imagem a meu propósito, porém, se pergunte, o que estou fazendo para provocar mudanças externas? Sentado numa pedra apenas olhando o mar não ajuda. Você tentou sair dessa inercia e por os pés na água provocando assim pequenas ondas, experimentou não ver um pesqueiro como suprimento, e sim, a beleza do jogar da rede, tentou em sua jornada criar embarcações para seus conhecimentos, dessa forma empreender com sabedoria.
- Sei...
- Você mais do que eu é quem mais sabe, Odlavso, tens talentos divinos apesar de não crer, tudo bem se no decorrer de sua vivencia não encontrou apoio nem mesmo incentivo fazendo-o adormecer os sonhos, esconder aquilo de mais belo, mas, meu caro estes não morreram posso assentir.
- Como sabe meu nome?
- Simples, você esta próximo a água sentindo o vento presumo que é geminiano devido os elementos, depois, se encontra sentado numa rocha, talvez inconscientemente se relacione ao sobrenome, logo tens os dons proveniente dos deuses, e, o conjunto como um todo, era de se esperar que não se abalasse com nada, então, dei um chute, mas, admito que ver-lo assim deixou-me com dúvida.
O homem parou um instante para refletir o que aquele senhor dissera, e, no fundo sabia que ele tinha razão.
O velho continuou...
- Esta na hora de apostar em você, a vida lhe sorri novamente, agradecendo pela chance de reencarnação de um Dinho que estupidamente você sufocou.
Nesse momento ele pegou um pedaço do rochedo entregou ao homem dizendo:
- Jogue na água, verá ondas se formarem, então, surfe ao novo viver.
O velho levantou-se despedindo, e, antes que desaparecesse perguntei:
- Quem é você?
E, ele respondeu:
- Sou quem pintou o quadro que você até hoje não via cores, até hoje...
Texto: O Quadro.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 03/07/2023 às 18:25