O observador louco
Olhava com extrema atenção para todas aquelas pessoas sãs e ria, chegando a virar os olhos de tanto gargalhar. O louco observava o caos em que elas viviam e notava, mesmo em seu estado de insanidade, que não estavam bem. Quando alguma das pessoas sãs tropeçava na vida, ele ria até sentir o abdômen doer; e quando alguém se feria, seja de modo físico ou psicológico, e chorava, o louco parecia, de início, entender e estar comovido, parecendo que iria chorar junto, mas após algum tempo começava a gargalhar ininterruptamente. Era sempre assim, se divertia prazerosamente com a derrocada daqueles que ainda estavam lúcidos.
Fazia tempo que havia se tornado louco e independente do caos e desordem em que se encontrava a sociedade, ria e aplaudia. Não se importava com nada e nem tinha mais sanidade para isso, lhe restando apenas observar aqueles que ainda tentavam se manter de forma sã num mundo caótico, fazendo escárnio de tudo e de todos, e rindo a todo instante de qualquer acontecimento, fosse ele bom ou ruim. Não fazia por mal, até porque não conseguia distinguir mais nada. Apenas ria, gargalhava e se divertia, pois, no subconsciente bem aprisionado dentro de si, sabia que já havia sido são também e, talvez, por intuição, o louco tinha ciência que muitas pessoas sãs não conseguiriam resistir por muito tempo, e em breve teria a companhia delas para partilhar a loucura junto dele, rindo e gargalhando daqueles que tentariam fugir de um rumo aparentemente inevitável.