Jovem Passarinho
Um ninho de passarinho se instalou na porta de correr da sacada do apartamento, bem ao meio, justamente por onde mais transitávamos.
Como foi ali construído tão rapidamente sem ninguém perceber?
Que passarinho idiota colocaria seu ninho justamente ali?
O fato é que o ninho estava lá e era uma pequena construção feita de barro, tão bem feitinha que dava pena retirá-lo, pois havia o risco da mãe rejeitar o ninho se fosse trocado de local.
Por um buraco na parte debaixo da casinha deu para ver três ovinhos.
Não havia jeito! Agora era necessário retirar urgentemente a casinha da passagem, pois seriam meses da mãe passarinho sendo impedida de se aproximar do ninho por causa da nossa presença constante.
Retirei cuidadosamente, mas não percebi que os ovos estavam vulneráveis dentro da casinha e dois deles se espatifaram no chão.
Fiquei profundamente triste e abalado por ter sido tão negligente. Eu devia ter sido mais cuidadoso!
Restava ainda um ovinho pequenino intacto dentro do ninho.
Olhei ao redor para buscar um local em que a casinha pudesse ser colocada, livre de sol, de chuva e de pessoas transitando.
Estranhei que não houvesse nenhum sinal da mãe até aquele momento. Imaginei que já era para ela estar por ali, vigiando o seu ninho feito com tanto zelo, mas nada, não havia nenhum sinal da presença dela.
Resolvi pegar o ovinho que sobrou e percebi que estava gelado, muito gelado, então coloquei entre as palmas das mãos e ali o mantive para que ficasse aquecido.
De repente, comecei a ouvir piados bem baixinhos. Fiquei surpreso ao ver que era do ovinho que estava em minhas mãos.
Percebi que o pouco calor que forneci com minhas mãos àquele pequeno ovinho havia dado a ele um desenvolvimento repentino a um filhotinho que estava dentro dele. Inacreditável!
Resolvi continuar aquele processo e passei a esfregar suavemente as mãos para dar mais calor a ele e fui e os piados foram ficando mais altos e fortes, asinhas foram surgindo do ovinho já meio quebradiço pelo esforço de um pequeno ser que surgia lá de dentro.
Finalmente aquelas asinhas foram se tornando grandes e fortes, maiores do que as minhas mãos e um lindo passarinho de cores amarelo claro e branco se agigantou em minhas mãos.
Resolvi abrir as mãos e as ergui, fiz movimento de impulso para que voasse, e antes mesmo que concluísse o movimento, um lindo pássaro abriu belo par de asas e saiu voando maravilhosamente.
Voou, cambaleou um pouco, caiu, mas logo se recuperou e voou com mais habilidade do que na primeira vez.
Após alçar vôo em altura longínqua, retornou e repousou em meu ombro direito.
Que felicidade indescritível isso me deu!
Comecei a chamar pelo meu filho para que visse aquilo e explicar a ele como aquele milagre havia acontecido, porém ele não aparecia, então caminhei com o meu pássaro no ombro.
Era mágico! O passarinho começou a me acompanhar em todos os lugares que eu ia. Era meu companheiro. Às vezes voava alto ou baixo, mas sempre voltava e ficava ao meu lado. Eu tinha medo dele voar em lugares fechados e se chocar contra ventiladores no teto de uma sala, por exemplo, e por zelo eu sempre o avisava dos perigos imaginados na minha mente.
Um segundo ovinho que estava quebrado no chão peguei para ver. Com o calor das minhas mãos, mesmo quebrado, começou a ter vida, mas o passarinho que dele surgiu era muito fraco e não tinha a beleza do outro. Não conseguia voar e até a aparência era de um pássaro doente e velho.
Decidi que não podia fazer nada por ele e então o deixei, embora um tanto mal com isso, mas convencido de que precisava me dedicar ao que estava vivo.
Voltei-me ao primeiro passarinho e esqueci o outro. Ele seguia sempre curioso e com aquele ar jovial de passarinho novo, com aquele espírito de satisfação das novidades.
Andamos por lugares abertos e de gramas verdes de campo e o vi voar seguidas vezes. Fomos ao supermercado e lá escolhi a melhor ração para o meu amiguinho, juntamente com a minha esposa que também apareceu por lá.
Um dia ele deitou numa cama para descansar como se fosse um jovem rapaz, falou algumas palavras aleatórias que os humanos falam quando estão sonhando e nem parecia mais um pássaro.
Agora, ele parecia muito mais com um jovem humano com suas humanidades comuns a todas as almas viventes da espécie homo sapiens, estava sem camisa na cama, deitado com a cabeça sobre as mãos cruzadas na nuca, de peito para cima, como se meditasse sobre o sentido da existência.