A noiva de Luzerna

A noiva de Luzerna

Félix Maier

Era uma vez, em um pequeno bairro isolado nas montanhas de Luzerna, uma lenda sombria que assombrava os moradores. Contavam que havia muitas histórias arrepiantes na região, mas nenhuma era tão intrigante quanto a história da Noiva de Luzerna.

Contavam os mais antigos que em um dia chuvoso de outono, uma jovem chamada Maria preparava-se para seu casamento com o amor de sua vida, Pedro. O casal apaixonado tinha sonhado com esse dia por anos, e a felicidade parecia estar ao alcance das mãos.

Maria estava radiante em seu vestido branco, enquanto caminhava pela rua de pedras para pegar o Jipe e ir até a igreja matriz. Mas, inesperadamente, algo terrível aconteceu.

A bela noiva, de cabelos esvoaçantes e vestida de branco, voltou correndo para casa e trancou-se no quarto. Enquanto batiam à porta, ela pulou pela janela dos fundos e correu até perto do cemitério, onde se enforcou em uma árvore, no alto do morro.

A tragédia chocou a todos e, desde então, as lendas sobre a Noiva de Luzerna se espalharam, tornando-se parte do folclore da região.

Até hoje, essa tragédia está envolta em nuvens de mistério, ninguém sabe na cidade o que levou a jovem noiva a cometer essa ação desesperadora. Teria sido alguma traição do noivo? Medo em ter que ser mãe de família e criar filhos? Ou teria sido simples ato de loucura?

Com o passar do tempo, há aqueles que afirmam ter visto muitas vezes o fantasma da Noiva, pedindo ajuda, com lágrimas nos olhos, buscando redenção na escuridão. Acreditam que ela estava arrependida e clamava por ajuda para encontrar a paz. Porém, havia também aqueles que duvidavam da veracidade da lenda, alegando que tudo não passava de imaginação e superstições populares, ou seja, de mais uma lenda urbana.

A aura de mistério que envolve a Noiva de Luzerna continua a persistir ao longo dos anos. A história de amor e tragédia que a cercava continua a assombrar o lugar. A verdade sobre o ocorrido naquele fatídico dia está encoberta nas brumas do tempo, perdida nas lendas populares que se mantém vivas na memória dos moradores.

Alguns fofoqueiros afirmavam que Frei Bruno deveria saber alguma coisa. O frade costumava pregar peças aos fiéis na região e supostamente tinha o poder de bilocação, aparecendo ao mesmo tempo em Luzerna e em Joaçaba, outra cidade próxima. Afinal, quem pode estar ao mesmo tempo em dois lugares, pode também estar em três, em dez lugares. Ele talvez tivesse ouvido a suicida antes do enforcamento e, não podendo quebrar o sigilo da confissão, só aumentava a fantasia das pessoas.

Apesar das especulações, a verdade sobre a Noiva de Luzerna permanecia um mistério. Anos se passaram, gerações se sucederam, Frei Henrique continuava a torcer orelhas dos seminaristas travessos, mas a lenda continuava viva em Luzerna, repleto de espanto e de histórias intrigantes. A Noiva de Luzerna, com sua aura misteriosa, continuava a vagar pelas noites, deixando sua presença marcada na memória dos moradores, que jamais esqueciam as lendas sobre a tragédia que ocorreu naquele local.

E assim, a Noiva de Luzerna se tornou uma figura lendária, envolta em mistério e especulações, uma história que perdura ao longo do tempo. Seja real ou fictícia, a lenda da Noiva de Luzerna continua a intrigar e a fascinar.

Moral da estória: há estórias que se tornam imortais por não terem sido reveladas e, assim, o mistério perdura.

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Leia mais sobre Félix Maier em "Dados biográficos e memória" -

https://felixmaier1950.blogspot.com/2021/04/felix-maier-curriculum-vitae.html

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Leia, ainda, a postagem feita por Félix Maier no site Usina de Letras, em 30/09/2003, "A noiva de Luzerna e outros contos", de diversos autores - https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=9175&cat=Contos

"A Noiva de Luzerna

NUM BAIRRO DE LUZERNA, contam que uma mulher vestida de noiva, no dia de seu casamento, enforcou-se em uma árvore no alto do morro perto do cemitério. Dizem que a mulher se arrependeu e, por isso, pessoas a vêem pedindo por ajuda, de noite, vestida de branco. Muitos moradores deste bairro juram que viram a mulher suplicando por ajuda, pois não queria morrer. Outras pessoas garantem que estas aparições não são verídicas, que nunca viram nada e que isto é coisa da imaginação das pessoas.

Colaboração: Cristiane Martendal, Franciele Schroeder, Gladir Salete Mattevi e Vânia Lochstein, professoras da região de Luzerna, cidade vizinha a Joaçaba SC, alunas da faculdade de Pedagogia da UNOESC (Literatura Infantil, 2º sem. 2002)

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O Batismo de um Burro

CONTAM AS PESSOAS IDOSAS do município de Jaborá que, por volta de 1925, numa das visitas do Padre que vinha do Rio Grande do Sul (Gaurama), algumas pessoas faltaram gravemente com respeito para com este religioso, impondo-lhe realizar o batismo de um burro, animal de propriedade de uma pessoa poderosa do município.

Em virtude do fato, o religioso teria lançado uma maldição sobre esta localidade, dizendo que jamais Jaborá haveria de progredir.

O povo, anos mais tarde, preocupado com esse fato negativo, pediu ao então Padre responsável pela Paróquia, Frei Albino, que solicitasse uma bênção do Papa para anular a maldição. E assim foi feito: Frei Albino conseguiu essa bênção apostólica do Papa Paulo VI, em 20/05/66.

Mesmos assim, o povo não perdeu o receio da maldição nesta localidade e, ainda hoje, relaciona o fato de Jaborá continuar sendo uma cidade pequena à maldição, lançada pelo antigo Pároco.

Colaboração: Cleusa Manthey, professora Jaborá SC, cidade do Oeste do estado, e aluna da faculdade de Pedagogia da UNOESC (Literatura Infantil, 2º sem. 2002)

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A Fonte Prodigiosa

SEGUINDO EM PEREGRINAÇÃO, levando consigo a certeza de que o povo de Catanduvas estaria espiritualmente encaminhado através da futura edificação da primeira capela, João Maria se instala em Águas Claras. Sua estada, nesta comunidade, reuniu grande número de pessoas e, após abençoar a nascente de água suave e límpida, passou a batizar o povo, abençoar, aconselhar e até prescrever remédios a base de ervas, ficando o lugar até hoje conhecido como o "Pocinho de São João Maria".

Mais adiante, também em Águas Claras, já a caminho de sua nova peregrinação, provavelmente para os Campos de Palmas, João Maria pernoitou próximo a uma pequena estrada. Quando partiu, novamente o povo fez um cercado no local, o qual foi conservado por muitos anos -- mas hoje resta apenas uma vegetação que foi plantada na ocasião (palminhas). O local ficou conhecido popularmente como o "Pousinho de São João Maria", sendo considerado um lugar abençoado de descanso.

A fonte permanece como uma relíquia da crença e da religiosidade popular transmitida pelo Monge.

Os tropeiros não passavam por esses pontos citados sem levantar a aba do chapéu, em sinal de veneração à pequena ermida, ou sem descer do animal para beber a água benéfica, abençoada pelo milagroso João Maria, fazendo também suas preces e orações.

É impressionante como, ainda hoje, muitas pessoas mantém esta crença no Monge, conservando o conteúdo imaginário em seu mesmo estado de pureza originário.

do livro Memórias de Catanduvas, da professora Gisleine Maria Maccagnan Pazini.

Colaboração: Neile Teresinha Maccagnan Ferreira, Rosmari Pecinato e Tânia Nora, professoras da cidade da região de Catanduvas SC e alunas da faculdade de Pedagogia da UNOESC (Literatura Infantil, 2º sem. 2002)

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A lenda da Gruta do Bicho

GUAECÁ É uma das mais belas praias de São Sebastião. Nesta praia, existe uma grande gruta. Sua entrada é bem grande e, quanto mais se penetra nela, seu tamanho vai diminuindo até não passar mais nada. De suas entranhas, goteja água constantemente.

Contam que aí, muito tempo atrás, morava uma enorme serpente. Esta serpente era maligna. Atraía para si as embarcações e devorava seus tripulantes. O terror era tanto que as embarcações procuravam navegar bem distante da praia.

Nesse período, Anchieta viajava de Bertioga para Ubatuba e ficou sabendo da serpente pelos marinheiros do navio em que navegava. Intrigado, Anchieta resolveu verificar se era verdade o que lhe contavam. Desembarcou em Barequeçaba, subiu o Morro das Sete Voltas e ficou esperando para ver a enorme serpente.

Depois de um certo tempo de espera, o monstrou saiu da gruta. Era feio e enorme. Anchieta não teve medo pois Deus estava a seu lado. Fez uma oração e aspergiu água benta na enorme serpente... Esta soltou um urro tenebroso e começou a vomitar sangue dos náufragos que tinha devorado. Ancheita continuou a rezar e a aspergir água benta. A serpente não agüentou mais: saiu da gruta e jogou-se no mar.

As águas que gotejam na gruta, dizem que é milagrosa. Acreditam ser a água benta de Ancheita que proteje o lugar para que o monstro nunca volte.

VIVIANE, Patrícia (org.). Mitos e lendas de São Sebastião. il. Marcelo Brossler Toledo. 3.ed. São Sebastião SP : Secretaria de Cultura e Turismo, 1996. p. 17.

Colaboração: Rosângela Pereira, coordenadora da Escola Municipal Guiomar Aparecida da Conceição Souza, em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo.

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A Lagoa Sangrenta

UMA LENDA CONTADA há muitos anos, em nosso município, é a da noiva que aparecia na Lagoa Sangrenta. Durante a guerra de Anita que envolveu parte de nossa região que fazia divisa com o território do Rio Grande do Sul, aconteceu um fato curioso. Dois jovens muito apaixonados, mesmo sabendo que havia luta entre as tropas acontecendo nas ruas, resolveram casar-se num tal dia marcado.

Tudo preparado. Na noite do casamento, a noiva vestiu-se de branco e montada em um belo cavalo, partiu a caminho de seu amado. Porém, ao chegar perto de uma estrada onde havia uma lagoa, foi atacada pela tropa de guerreiros, que a confundiram com os inimigos. Essa tropa acabou por matá-la e seu corpo caiu na lagoa, deixando a água com a cor avermelhada de seu sangue: seu corpo sumiu entre a água e a escuridão.

Após esse dia, moradores da redondeza passaram a chamar essa lagoa de Lagoa Sangrenta. Mais tarde, pescadores que sempre ali pescavam começaram a ficar apavorados, pois afirmavam que, nas noites em que iam pescar, aparecia para eles a Noiva Vestida de Branco, montada em seu cavalo, acenando como se estivesse pedindo socorro.

Por muitos anos, essa lenda permaneceu em nossa cidade, sendo que nenhum pescador encorajava-se de ir pescar na Lagoa Sangrenta. Essa lenda é contada por antigos moradores dessa região e que, por muitos anos, viveram assombrados e com medo.

Colaboração: Carmen Land, Josie Martha von Borstel e Vanusa Nunes Vieira, professoras da cidade de Piratuba SC e alunas da faculdade de Pedagogia da UNOESC (Literatura Infantil, 2º sem. 2002)

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Kaguya Hime, A Princesa da Lua

UM CASAL DE VELHINHOS morava bem ao fundo de um bambuzal... Eles não tinham filhos e viviam modestamente fazendo cestos e caixotes de taquara. Certo dia, quando o velhinho cortava bambus, viu que um deles brilhava muito pela raiz. "Mas o que será isso?" Curioso, o velhinho cortou o bambu com o machado. Dentro do bambu, uma linda menininha! Ela era tão pequenina que cabia na palma da mão. O velhinho levou a menina para casa e mostrou para a mulher: "Foi Deus quem nos enviou!" A velhinha também ficou muito feliz e disse:

- Vamos chamá-la de Kaguya Hime!

Depois desse dia, o velhinho começou a encontrar outros bambus brilhando. E, de dentro, saíam muitas moedas de ouro. Só havia uma explicação: era a menina quem lhes trazia tanta sorte.

Kaguya Hime cresceu rápido. Depois de três meses, ela se transformou em uma bela moça, tão bela quanto um raio de luar. Logo a beleza da jovem começou a ser comentada pela região. Muitas pessoas vinham só para vê-la e formava-se uma longa fila em frente a casa. Pretendentes também não paravam de chegar: alguns vinham de muito longe, outros eram pessoas importantes. Mas ela...

Ela não queria se casar com ninguém!

No entanto, cinco dos pretendentes vinham todos os dias, sempre com pedidos de casamento. Kaguya Hime então disse "Se algum de vocês conseguir trazer os objetos que eu pedir, então me casarei com essa pessoa: um vaso de pedra dos deuses que nunca se quebra, o galho de uma árvore de pedras vermelhas, um manto de pele de animal que não se queima no fogo." Os objetos que Kaguya Hime pediu eram todos impossíveis de serem conseguidos. Os pretendentes tentaram falsificá-los, mas todos foram desmascarados.

Um dia, o próprio príncipe chegou à casa de Kaguya Hime:

- Sua beleza é ainda maior que sua fama. - e ele pediu: Gostaria muito que se casasse comigo. Mas a moça respon-deu: "Eu não posso me casar com ninguém." O príncipe respeitando a sua vontade, voltou triste para o seu palácio.

As cores do Outono tingia o céu...

Kaguya Hime começou a olhar para a lua, com grande tristeza... uma tristeza que ia aumentando a cada dia. Os pais ficaram muito preocupados e, então, perguntaram:

- Por que você fica olhando a lua, assim tão triste?

- Estou triste porque logo preciso ir embora. Na verdade vim de muito longe. Sou uma princesa do reino da lua e, na próxima cheia, virão me buscar.

Os velhinhos ficaram muito assustados: como se separar de uma filha tão querida?

Chegou a temida noite de lua cheia.

Os velhinhos pediram ajuda ao príncipe que enviou um batalhão de mil homens para impedir que alguém se aproximasse da casa. A princesa foi levada para o quarto dos fundos e os velhinhos aguardaram ao lado da jovem.

De repente, a lua começou a brilhar, brilhar, brilhar cada vez mais forte. "Preparem os arcos!" -- gritou o chefe da Guarda! Cegos com a luz da lua, ninguém pôde ver a chuva de pétalas que caía, nem a grande comitiva que descia, montada em nuvens, trazendo uma carruagem dourada... Quando todos puderam abrir os olhos, a comitiva já ia alta, levando embora a princesa.

CONTAM AINDA que Kaguya Hime deixou para os pais uma poção mágica de vida eterna. Mas sem a filha querida, os velhinhos não quiseram viver eternamente. Então, queimaram a poção na montanha mais alta e, até hoje, um fio de fumaça bem branquinha continua subindo ao céu, ou talvez, até a lua... essa montanha é o Monte Fuji.

KAGUYA HIME, a princesa da lua. adapt. Lúcia Hiratsuka e Peter O Sagae. Narração: Bia Grimaldi. In: MUKASHI... IMA - contos e lendas do Japão. São Paulo: Casa de Bambu/MCD, 1997. faixa 1.

Visite a página da escritora e ilustradora Lúcia Hiratsuka.

Informações sobre o CD Mukashi... Ima.

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A lenda do Mau Agouro

O POVO ACREDITA que se uma pessoa falando constantemente uma palavra infeliz, atrai as energias negativas. As palavras ditas geralmente são: desgraça, maldito, inferno e outras mais.

No Bairro de São Francisco, existia um homem chamado Zé Bastos que constantemente praguejava. Era um pescador muito corajoso que não tinha medo de nada. Toda madrugada era chamado pelo seu amigo Constantino para pescar.

Constantino todo dia chamava os pescadores, de casa em casa, para saírem para o mar. Certa noite de lua cheia, indo chamar Zé Bastos, que era mestre de rede, apareceu a sua frente um homem estranho. Por mais que Constantino andasse para alcançar o homem todo vestido de preto, a mesma distância continuava entre os dois. Estranho!

Saindo da rua principal, dobrando a esquina, o homem de preto ia na mesma direção de Constantino... estavam na rua do Fogo, perto da casa do Zé Bastos.

Quando Constantino chegou na frente da casa do amigo, a figura humana desapareceu. Melhor assim.

Zé Bastos gostava de ser chamado delicadamente, assim não perdia o bom humor. Sabendo idsso, Constantino olhou por um buraco na parede de barro, para chamá-lo, em voz baixa.

Meu Deus! O que é isso?

No quarto do Zé Bastos, estava o homem de negro com os dedos nos orifícios de seu nariz: parecia estar sufocando-o. Assustado, Constantino chamou o amigo aos gritos. Zé Bastos deu um pulo da cama, preparado para briga, meio acordado, não entendendo nada. O homem de negro sumira.

CONTAM QUE o homem de negro nada mais era do que a "desgraça" que tinha vindo buscar Zé Bastos, pois vivia chamando-a para levá-lo para o outro mundo. Nesta noite, veio buscá-lo para a morte, mas ele foi salvo pelo amigo Constantino.

Zé Bastos nunca mais praguejou.

VIVIANE, Patrícia (org.). Mitos e lendas de São Sebastião. il. Marcelo Brossler Toledo. 3.ed. São Sebastião SP : Secretaria de Cultura e Turismo, 1996. p. 13.

Colaboração: Rosângela Pereira, coordenadora da Escola Municipal Guiomar Aparecida da Conceição Souza, em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo.

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A lenda do Santo que pecou

EM SÃO SEBASTIÃO, morava um homem que se chamava Benedito Lopes. Este caiçara era temido por todos, principalmente quando bebia, ficava agressivo, brigava com todo mundo e sempre que passava em frente à Igreja, ele insultava São Sebastião com palavrões. O padre, preocupado, dava constantes conselhos a Benedito. Explicava que São Sebastião, um dia, poderia castigá-lo. Esse não escutava o conselho.

Certo dia, Benedito foi encontrado morto na frente da Igreja. Quem poderia ter assassinado um homem tão temido? Esta coragem só teria São Sebastião. O Santo foi acusado pela população de assassinato e foi a julgamento. Depois de dois dias de julgamento e prestar depoimento, o Santo foi acusado e penalizado à prisão por cinco anos. Durante cinco anos, o Santo ficou preso na cadeia local e só saía para as procissões e, assim mesmo, escoltado por policiais. Após ter cumprido sua penalidade, voltou à Igreja de São Gonçalo.

VIVIANE, Patrícia (org.). Mitos e lendas de São Sebastião. il. Marcelo Brossler Toledo. 3.ed. São Sebastião SP : Secretaria de Cultura e Turismo, 1996. p. 7.

Colaboração: Rosângela Pereira, coordenadora da Escola Municipal Guiomar Aparecida da Conceição Souza, em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo.

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A Lenda do Sino

POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, o lado histórico-religioso de Minas Gerais parece ter chegado também aos confins de Ibitipoca com razoável força. Em meio a tantas grutas e corredeiras, lá está o famoso Pião, no alto de uma montanha do parque. Íngreme a ponto da chuva ter destruído as trilhas de terra, o mirante ainda conserva escombros de uma pequena capela, construída no topo daquela montanha há cerca de 40 anos.

O padre do município de Lima Duarte viajava 30 quilômetros a cada três meses para rezar a missa. Após oito anos de funcionamento, a igrejinha foi destruída pela queda de um raio. Sobraram apenas alguns ladrilhos do piso sagrado e o velho altar de pedra, além da imagem de São Bom Jesus, padroeiro da cidadezinha. O santo foi levado para o arraial vizinho de Mogol. Os restos da igreja foram literalmente carregados pela erosão do tempo e do vento.

Conta a lenda que, logo após a destruição da igreja, o tilintar do sino pôde ser ouvido por vários dias em Ibitipoca. Todos acreditaram que o grande sino havia permanecido de pé. Entretanto, quando os moradores locais se dirigiram ao local para verificar o que havia acontecido, não havia vestígios do sino. Aliás, a peça nunca foi encontrada. Chegar até as ruínas implica uma caminhada de cinco horas de ida e volta. Para substituir os trabalhos da Igreja do Pião, foi então construída a Igreja da Matriz de Ibitipoca, localizada no centro da cidade.

CARIDE, Daniela. A lenda do sino. In: Os andarilhos da serra da Mantiqueira. Gazeta Mercatil, São Paulo, 13 de mai. 1997. D-1, Viagens.

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Uma de Carlos Magno

O IMPERADOR CARLOS MAGNO, já em avançada idade, apaixonou-se por uma donzela alemã. Os barões da corte andavam muito preocupados vendo que o soberano, entregue a uma paixão amorosa que o fazia esquecer sua dignidade real, negligenciava os deveres do Império. Quando a jovem morreu subitamente, os dignitários respiraram aliviados, mas por pouco tempo, pois o amor de Carlos Magno não morreu com ela. O imperador mandou embalsamar o cadáver e transportá-lo para a sua câmara, recusando separar-se dele. O arcebispo Turpino, apavorado, com essa paixão macabra, suspeitou que havia ali um sortilégio e quis examinar o cadáver. Oculto sob a língua da morta, encontrou um anel com uma pedra preciosa. A partir do momento em que o anel passou às mãos de Turpino, Carlos Magno apressou-se em mandar sepultar o cadáver e transferiu seu amor para a pessoa do arcebispo. Turpino, para fugir àquela embaraçosa situação, atirou o anel no lago Constança. Carlos Magno apaixonou-se então pelo lago e nunca mais quis se afastar de suas margens.

CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. 2.ed. trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 45."

(Textos extraídos de http://caracol.imaginario.com/estorias/index.html)

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Obs.:

1. Jaborá, a "cidade amaldiçoada", é uma vila próxima a Luzerna e Joaçaba.

2. Catanduvas é uma cidadezinha próxima a Joaçaba.

3. Guerra do Contestado:

João Maria de Agostini ou “Agostinho” foi o primeiro dos três monges messiânicos que fizeram pregação em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Ele era italiano, nasceu no Piemonte (1801), passou pelo Pará, Rio de Janeiro, Sorocaba, deslocando-se depois para o Sul do Brasil, construindo capelas e erguendo cruzes ao longo de sua passagem.

João Maria de Jesus foi o segundo andarilho religioso que surgiu no Sul. Disse ele: “Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho” (“João Maria – Interpretação da Campanha do Contestado”, de Oswaldo R. Cabral, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1960, pg. 155). Frei Rogério Neuhaus conheceu bem esse beato (Vide “Frei Rogério Neuhaus”, do Frei Pedro Sinzig, Ed. Vozes, Petrópolis, 2ª edição). Este monge profetizou a guerra que iria ocorrer anos mais tarde.

O último dos monges, José Maria de Santo Agostinho, cujo nome verdadeiro era Miguel Lucena de Boaventura, era um soldado foragido do Exército (segundo uma versão) ou da Força Policial do Paraná (segundo outra versão).

“Como ex-militar, organizou então os acampamentos, aos quais denominou de ‘Quadros Santos’, entregando aos adeptos que julgou mais capazes não só o comando como ainda a direção das rezas e da forma. Para a sua guarda especial, cercado da qual se apresentava, soberbo e importante, ante as turbas que o aclamavam, reuniu uma curiosa escolta de 24 sertanejos, aos quais chamou de ‘os Pares de França’.

As simpatias, segundo dizem, eram em sua maioria dirigidas para o regime monárquico, imperando uma certa forma deturpada de saudosismo nas pregações. Corriam, de boca em boca, as aventuras guerreiras, hauridas na ‘História de Carlos Magno’ ” (CABRAL, op. cit., pg. 180-1)

José Maria comandou os colonos fanáticos contra uma tropa do Paraná, nos Campos do Irani, região onde hoje se situa a vila de Irani e a “cidade da Sadia”, Concórdia, dando início a Guerra do Contestado no dia 22 de outubro de 1912. Na ocasião, morreram tanto o monge como o coronel do Exército, João Gualberto Gomes de Sá, chefe da tropa paranaense.

Muitos foram os herdeiros de José Maria, que se dispuseram a vingar o sangue do monge e dos companheiros derramados em Irani. A campanha militar dos “fanáticos” foi uma guerra de guerrilha, com os “redutos” (Quadros Santos) mudando continuamente de lugar (principalmente na região de Videira e Caçador), desgastando as forças policiais e, inclusive, o Exército, que chegou a empregar pela primeira vez aviões em combate, para reconhecimento aéreo. Os rebeldes atacavam continuamente as localidades de Canoinhas, Papanduva (que chegou a ser tomada), Itaiópolis, Calmon, a estação ferroviária de São João. Curitibanos foi parcialmente destruída em 26 de setembro de 1914.

O maior reduto foi Santa Maria, chefiado por Aleixo Gonçalves, que se situava na atual região de Caçador, cidade que abriga o importante Museu do Contestado. Santa Maria foi destruída pela artilharia do general do Exército, Fernando Setembrino de Carvalho, comandante geral das operações, no dia 2 de abril de 1915, quando Adeodato Manuel Ramos conseguiu fugir para organizar a Cidade Santa de São Pedro, onde reuniu 4.000 pessoas. Esse reduto foi destruído no dia 17 de dezembro de 1915. Alemãozinho, Bonifácio Papudo, Carneirinho foram alguns dos líderes revoltosos, porém o mais célebre dos herdeiros do monge foi Adeodato, cuja epopéia pode ser vista no filme do catarinense Sílvio Back, “A Guerra dos Pelados” (F.M.).

Félix Maier nasceu em Luzerna, SC, publicou "Egito - uma viagem ao berço de nossa civilização", Editora Thesaurus, Brasília, 1995, e é articulista de Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org).

Obs.: Publicado em Usina de Letras em 30/09/2003.