A CORUJA E O PAPAGAIO

Do alto de uma mangueira, a coruja e seus filhotes ouviam as provocações de um velho papagaio que acorrentado por uma perna tagarelava do poleiro:

- Que olhos horríveis, dona coruja, dá medo em quem te olha, - disse a ave aprisionada - E esse canto tenebroso? Mal agouro, com certeza.

Ante o silêncio da ave, insistia o papagaio: “Passar noites acordada não te fez lá muito bem. Vê essa cara de velha que você tão jovem tem.”

Um filhotinho cismado, vendo o silêncio da mãe, pergunta:

- Por que temos olhos tão grandes?

- Para enxergar melhor no escuro, respondeu dona coruja.

- E nosso canto, minha mãe, por que não é mavioso como o das outras aves?

A coruja suspirou.

Indagou outro filhote: “Por que essa ave implica tanto conosco se nada de mal lhe fizemos?”

A mãe coruja irrompeu o silêncio: “Há muito tempo, meu filho, os nossos antepassados foram chamados para uma missão: ensinar outras aves a voarem no escuro. Até então éramos excelentes cantoras, nossas penas tinham mais cores. A missão era difícil, exigiu longas noites de estudo. Tanto que até hoje, enquanto muitas aves dormem, estamos ativas, caçando alimento, porque não dizer, conhecimento. De tanto ler e reler, tentando achar a verdade, nossos olhos foram crescendo até que chegaram a este tamanho que causa medo em alguns, mas isso não é defeito. Hoje, com nossos olhos gigantes, temos visão mais aguçada, capaz de ver o que muitos não conseguem. Enxergar na escuridão é um dom.

Sobre como perdemos a voz, aconteceu nas primeiras aulas: As águias não paravam na sala de aula, viviam viajando só Deus sabe por onde. Os pavões, não faziam outra coisa senão se exibirem, tirando a atenção dos colegas; o corvo, este não parava de tagarelar, e o quero-quero, ave encrenqueira vivia fuxicando.

Haja voz para manter a atenção dos nossos pupilos voadores... Como ninguém nos dava ouvidos, fomos calando aos poucos. Foi assim que os nossos ancestrais perderam a voz e essa herança trazemos até hoje.”

- E o papagaio, mãe?

- O papagaio se achava o esperto. Em vez de estudar, apenas repetia o que todo mudo falava, sem pensar, sem saber o que dizia. Se o corvo proferia uma bobagem, o papagaio a copiava, se o quero-quero xingava alguém, tinha a fala replicada. Tundo se tentou com ele: conselho, súplica, apelo. Tudo em vão. O pobre papagaio decidiu aprender sozinho, apenas imitando os outros seres. Abandonou as aulas, pois, segundo ele, era belo como os pavões, livre como as águias e não tinha tempo a perder com velhas corujas. Viajou o mundo até que chamou a atenção dos seres humanos pela sua habilidade de repetir qualquer bobagem. Até hoje vive aí, acorrentado, de asas cortadas, comendo apenas do que lhe dão. Por isso nos desprezam. Nós podemos voar livremente, embora tão desvalorizadas.

Isso se diz das pessoas que escolheram o magistério como missão na vida.