Uma Metáfora Sobre a Vida e Elefantes.
O espetáculo acabou e o grande circo baixou suas lonas para sempre, deixando para trás todo o alumbramento de risos e aplausos. Aquilo que outrora era alegria, em um fechar de cortinas, virou só melancolia. O picadeiro agora vazio, está em luto pela morte dos palhaços, as gargalhadas viraram pranto de saudade. O mágico tornou-se obsoleto, sua magia esvaiu-se da cartola; a bailarina envelheceu e suas pernas trêmulas pediram descanso. O domador? Tornou-se domado, não pelas feras, mas pelo próprio chicote. Os trapezistas desistiram de arriscar-se nas alturas e agora preferem a segurança do chão. O lançador de punhais distraiu-se e dilacerou o coração da donzela. Mal sabia ele que ali fazia morada.
De repente o silêncio...
Em um canto qualquer, largado à própria sorte, um imenso elefante preso em pequena estaca por frágil corrente, foi abandonado. Toda a trupe dissolvera-se como poeira ao vento. O circo não mais era seu lar, seu abrigo e amparo. Dias e noites sozinho, relembrando e chorando ( sim, elefantes são seres que possuem memória, sorriem e choram, são sensíveis para lamentar seus mortos dando a eles reverência, sofrem de depressão e estresse pós-traumático).
Lamentável!! Tão majestoso animal ali largado para morrer sozinho, após tantos anos de dedicação.
Em uma noite, o céu cobriu-se de nuvens escuras e uma tempestade anunciava-se. A programação do desamparo registrada na mente do elefante, o impedia da tentativa de testar sua força latente. Desde pequeno sempre foi acorrentado, quando cresceu, sua mente condicionada era incapaz de perceber que com seu tamanho poderia arrancar a estaca com um simples movimento.
A tempestade aproximava-se, o vento fustigava-lhe os olhos e varria do chão as folhas, que pareciam dançar em nervosa ciranda. Viu sobrevoar perto de si, com imensa dificuldade, um frágil e pequeno pássaro, ainda que as circunstâncias tentassem impedi-lo, soprando-o para lá e para cá.
Em um ímpeto de admiração e instinto colaborativo, o elefante, mesmo percebendo-se sob tragédia anunciada, agarrou o pequeno pássaro com a sua tromba, protegendo-o do impiedoso vento. E assim, inspirado por aquela força demonstrada pela ave em busca da liberdade, moveu sua pata quebrando a corrente sem muito esforço. Ele não conhecia a força que tinha até ser colocado à prova.
Pôs-se, então em disparada em meio à tempestade, até que ela cessou. O medo foi vencido, a corrente quebrada, a estaca arrancada. Chegaram em campo aberto, o pássaro lançou voo e o elefante encontrou uma manada à qual se juntou para somar.
O circo agora só era parte da sua memória de elefante. Ficou grato pela tempestade que o ajudou a libertar-se e também ao pássaro com o qual aprendera preciosa lição:
" Não é necessário ser grande para ser forte, mas é necessário ser forte para ser grande".
Gislaine Cristina C. da Luz