FÁBULA DA COLMÉIA SONHADORA
Havia uma colmeia semi destruída por intempéries que, no entanto, tinha um enxame de abelhas trabalhadoras. No entanto, nos arredores vivia um sapo cururu impertinente, volta e meia solidarizado por uns poucos sapos chatos da mesma espécie. Se achando maioria em relação às abelhas, de tempos em tempos azucrinavam, comiam várias e assim o sapo cururu vivia feliz no seu charco, se julgando rei.
Obviamente, não eram maioria, e seu reinado era apenas o de uns seis sapos, tão babosos e repugnantes quanto ele próprio. Mas, preocupadas todo o tempo em trabalhar e produzir, as abelhas não se davam conta disso e nem pensavam em rechaçar o sapo. Ainda, devido ao seu tamanho individual, talvez por isso não lhes ocorresse a ideia de sua superioridade numérica, e de que um enxame de trinta mil abelhas têm todo o potencial de acabar com um único sapo.
Um dia, por infelicidade, ficaram sem a rainha, que por um golpe traiçoeiro o sapo papou. E as abelhas, revoltadas, enfim acordaram para a necessidade de desalojar aquele sapo que se julgava rei por estar rodeado de uns poucos cururu presunçosos, sem fazer outra coisa na vida que não comer e azucrinar, enquanto as milhares de abelhas trabalhavam.
No entanto, sem a rainha, ficaram sem vetor de liderança. E alguns zangões ocultamente aliados dos sapos, já que também eram itens do cardápio dos predadores, amarelaram nas tratativas da empreitada, considerando entre eles que se alguns poucos zangões morriam no bucho dos babosos, a maior parte normalmente se colocaria a salvo, em especial se evitassem ataca-los.
Assim, o enxame revoltado, porém inexperiente e ingênuo em estratégias predadoras, teve que se virar para tentar arredar por si o perigo - mas, apesar de toda a sua bravura íntegra nos propósitos, posta esta mesma inexperiência em artes de predação, faliram, miseravelmente.
Uns zangões já amolados com aquela agitação incomum naquele trecho da mata, que poderia lhes custar outros muitos mortos de sua espécie, de algum modo as convenceu, traiçoeiros, de que, se estacionassem um tempo perto de seus enxames, daquele ângulo estariam a salvo, pois somariam esforços em caso de necessidade aniquilando o sapo presunçoso e seus poucos correligionários esfomeados, visto que eles nunca se aventuraram muito por ali dada a proximidade de certa cascavel feroz que, por sua vez, adorava se alimentar deles.
Desafortunadamente, o enxame incauto caiu no ardil. E se aglomeraram nos limites pantanosos dos zangões, onde tudo era um charco lodoso e derrapante, na esperança de atocaiarem os sapos em bloco num ataque surpresa e os enxotarem da região.
Um dos cururu vigilantes, atento ao movimento que aos poucos as mobilizou todas, alertou o pretenso sapo / rei. E ele, informado da eficiência da armadilha, apareceu com seus babosos amigos que, experientes em charcos pegajosos, as jantou todas.
O baboso 'rei', ainda como prêmio à solidariedade traiçoeira dos zangões, os premiou, modificando o cardápio de seu grupo para manter, nele, apenas as infelizes abelhas.
Fim da fábula das abelhas sonhadoras.
Final alternativo:
Dez anos depois, a cascavel, que no passado não participou e nenhum interesse teve naquela encrenca, em dando com um antigo charco ressequido pelas alterações climáticas habitado apenas por alguns sapos então esquálidos, em decorrência da extinção dos insetos naquele habitat, atocaiou-os fácil.
E os jantou.
Moral da história
Em terra de abelha-rainha morta, um cururu não passa de um falso rei.