Um conto fantástico do Brasilistão
Um conto fantástico do Brasilistão
Félix Maier
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Once upon a time...
Había una vez...
Era uma vez um país tropical, governado por um rei que era amado pelo seu alegre povo, que tinha nos três bês sua maior fortuna: bola, batucada e bunda. Futebol, samba e mulata. Esse maravilhoso país moreno, que causava inveja a muitos reinos branquelos de além-mar, era o Brasilistão.
O Rei Sebastião XIII vivia muito feliz no Brasilistão, com sua esposa espanhola Maria Isabel, com quem tinha sete filhos. O Reino vivia em paz, a economia BACO (boi, açúcar, café e ouro) sustentava os barões do trabalho e os parasitas dos salões, não havia guerra com os reinos vizinhos, como o Peronistão, o Guaranistão, o Cocaquistão e o Cannabistão, com os quais o Rei fazia muitos negócios e negociatas, sempre com grande vantagem para o Reino e, principalmente, para si.
A filha mais velha do Rei, Princesa Teodora, tinha uma beleza estonteante, com sua tenra tez cor de canela e era muito “empoderada”, como dizia uma famosa influenciadora sexual de San Pablo, autora do best seller “Viva a Vulva”. A poderosa moça havia sido prometida em casamento ao filho do Rei do Cannabistão, de nome Carlitos, famoso por ter caçado um leão em plena selva amazônica, depois de ser quase atropelado por elefantes, girafas e cangurus em fuga devido a mais uma queimada. Sim, você leu corretamente. Leão na selva amazônica, o que foi comprovado pelo galã Leonardo DiCaprio no Twitter, até estrelou um filme montado numa zebra, e outras autoridades ambientalistas durante uma Cúpula do Clima, como o presidente de Françaquistão, seduzido por sua professora quando era menino. Com a pele do animal, Carlitos fez uma vestimenta para si, imitando um Rei Zulu que ele viu pular no carnaval do Brasilistão, na Bahía de Todos os Santos. Carlitos passou a ser conhecido como Príncipe Carlos León.
Vale lembrar que uma ONG, a WWF, cujo primeiro presidente foi o Príncipe Philip, do Reino Unido, marido da Rainha Elizabeth II, durante a década de 1950 treinou pássaros gigantes para salvar girafas cercadas por incêndios na Amazônia, onde até os igarapés de terceira ordem pegam fogo. Essas imensas aves eram os Pelagornis chilensis, considerados extintos, mas que haviam migrado do Chile e se adaptado à selva amazônica, depois de serem domesticadas por uma tribo isolada da Amazônia. Inimigos mortais dos elefantes, os Pelagornis haviam feito amizade com as girafas, em longos bate-papos nas copas das árvores. Enquanto as girafas comiam folhas no almoço, os piscívoros Pelagornis descansavam nos galhos, para tomar novo fôlego e sair à caça de mais um peixe para a janta.
“Girafas na Amazônia”: Reginaldo Monteiro colocou charge em
postagem de Carlos Jordy no Facebook - 24/08/2019.
Com muito orgulho, Carlos León sempre contava seu feito amazônico nas rodas de festas e rodadas de cachaça, sendo alvo de Greta Pirralha em várias COP sobre o clima, a qual prometia largá-lo numa das rochas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, do Brasilistão, com direito só a um anzol e duas minhocas, com vara e fio de tripa-de-mico.
Arquipélago de São Pedro e São Paulo, a 1.000 km de Pernambuco e
1.820 km de Guiné Bissau.
O Rei Sebastião já se prontificou a sediar a COP 30 no Reino do Brasilistão, em 2025, em plena selva amazônica, com direito aos convidados para fazer um curso rápido de sobrevivência na selva, do tipo Largados e Pelados, podendo só comer folha, ramos e raiz de árvore, cupins à moda pica-pau, beber água de igarapé ou de taquara aberta com os dentes, e bicho-do-coco de babaçu como sobremesa. Nada de matar leões, girafas, zebras e leopardos para fazer churrasco, nem comer formiga carnívora Tocandira, para preservação da espécie. Aviso às moças: cuidado com o boto-cor-de-rosa, para não voltar prenha para casa...
Quando a Princesa Teodora completou 15 anos, o Rei Sebastião organizou uma festança em seu castelo, para apresentar ao beautiful people a sua amada debutante, ocasião que também seria aproveitada para apresentá-la ao futuro noivo, Príncipe Carlos León, do próspero reino do Cannabistão.
As aias que cuidam pessoalmente da Princesa Teodora tiveram um intenso trabalho para colocar as várias vestimentas na debutante, como a anágua de seis aros, e sofreram para apertar a larga cinta, que deixou Teodora parecendo ter cintura de vespa em seu longo vestido plissado azul celeste tomara-que-caia-mas-não-caiu. Foi contratada uma personal hair stylist, que fez um esplendoroso penteado coque cacheado vintage, realçando a pele morena da Princesa, tanto das faces, do pescoço, do colo e até das orelhas, de onde pendiam enormes brincos de esmeralda importadas do Cocaquistão.
A crème de la crème dos seis Continentes, incluindo a Atlântida, compareceu no acontecimento, que foi uma ocasião para as misses e mistresses vestirem seus vestidos suntuosos e usar suas joias para ofuscar os olhos dos convivas. Valsas de Viena e do Brasilistão se revezavam na grande Orquestra Sinfônica do Brasilistão, com naipes de cordas, metal e flautas de pan feitas de taquara peruana. As danças eram regadas com vin d’honeur Confraria Grand Cru e canne à sucre d’honneur Vale Verde, e Weber Haus, para abrir o apetite e as bocas dos convivas, cada vez mais alegres, desbocados e inconvenientes.
Quando as mulheres estavam mais exaltadas, devido a doses extras de licor feito com folhas de pé de figo, açúcar e Caninha Queima Rosca, a melhor cachaça de Aracaju, pediram à Sinfônica para tocar funk, para baixarem seus principescos bumbuns até o chão, batendo nas nádegas, umas das outras, como se fossem tambores do Olodum. Decotes enormes, que iam do pescoço até o umbigo, mostravam profundos vales do silicone. Vez por outra, sem querer, ou querendo, um seio pulava fora do vale do silicone, para delírio da rapaziada.
A grande festa organizada pelo Rei do Brasilistão foi comentada pelo jet set internacional e caboclo durante meses, não só devido à fartura da comida e bebidas caras, mas também pela quantidade de belas mulheres que impressionaram os convivas, especialmente as afrodescendentes, famosas pelos passos de dança exibidos na maior festa popular do planeta, as evoluções das Escolas de Samba nas avenidas de muitas cidades do Brasilistão. Os miseráveis do Brasilistão continuam cada vez mais miseráveis, mas a corte de aquém e além-mar tirou a barriga da miséria durante a comilança: frutos do mar e dos lagos, churrasco de chão à moda gaúcha, arroz carreteiro, vatapá, bobó de camarão, além de petiscos e doces diversos provenientes das Alterosas.
Meses depois, a Princesa Teodora participou com seus irmãos e amigos da Corte de uma festa do pijama no castelo real.
As preceptoras da Princesa Teodora e de seus irmãos, que ministram aulas de etiqueta, história, geografia, pintura, piano, política, sociologia, antropologia, arqueologia, entomologia, lepidopterologia e ecologia, além de cinco idiomas, acompanharam os adolescentes reais e seus amigos na festa do pijama, para a realização de jogos de xadrez, gamão, sinuca, baralho, pingue-pongue, jogo de queimada, peteca, adivinhas e cantos folclóricos. Por fim, houve a famosa guerra de travesseiros, com penas de ganso enchendo os ambientes feminino e masculino, imitando o cair de neve, com todos já recolhidos nos devidos dormitórios onde iriam dormir, as moças separadas dos rapazes.
Durante as brincadeiras, a Princesa Teodora foi ao banheiro e, quando abriu a porta, encontrou um pajem com o qual já havia se esfregado há tempos, com amassos e beijos, em encontros furtivos nos vastos corredores do castelo.
Teodora pensou em gritar, pedir socorro, mas o pajem fez gesto de caluda, com o dedo indicador sobre os lábios, dizendo para que não ficasse alarmada e provocasse um escândalo na corte. Mais calma, Teodora se deixou encantar com os arrulhos do rapaz, deixou-se apalpar, pois estava com saudade de uns afagos, e pouco a pouco foi perdendo a resistência ao avanço do pombinho. Com o coração latejando e as faces em fogo, Teodora deixou-se abraçar e aceitou o carinho percorrendo seu corpo por ávidas mãos e beijos ardentes. Com alguma dificuldade, o pajem conseguiu levantar as vestes rodadas da Princesa e tiveram uma rápida mas memorável relação sexual, que terminou com um grito abafado da Princesa, num misto de dor e gozo. Era a primeira vez que Teodora sentiu ser uma mulher plena. De fato, tornara-se mulher, ainda que o ato consumado tenha sido feito em pé, não deitada numa fofa e luxuosa cama, como merecia uma respeitável princesa do Reino do Brasilistão.
Os relógios cuco do castelo real não se cansaram de cucar as horas e as meia-horas do tempo nos próximos anos e ficou decidido pelo Rei que quando a Princesa Teodora completasse 17 anos ela se casaria com Carlos León.
O dia festivo do matrimônio estava se aproximando. A Princesa Teodora passou a ter noites mal dormidas, com pesadelos e suores, pensando em como iria dizer à mãe que ela não era mais virgem. E o casamento se aproximando, que horror! O pior de tudo é que Teodora perdeu o selo virginal com um pajem gay! Um pajem que se fingia de gay para pegar a criadagem do castelo, feminina e masculina. Teodora viraria piada em todo o Reino do Brasilistão pelo inusitado calamengau feito com um bissexual! Quem sabe, o Rei do Cannabistão não iria declarar uma guerra, para lavar a honra de toda sua nação, por quebra de contrato, pois não iria aceitar tal afronta, de seu filho ter que desposar uma perdida!
A mãe de Teodora, ao saber do ocorrido, teve um piripaque, desmaiou e teve que ser atendida pelo médico da corte. Voltando a si, a Rainha queria ter certeza de que a filha não estava grávida, para levar o fato ao Rei e estabelecer uma estratégia para encobrir a falta de decoro da Princesa, que havia envergonhado a família real. Faltava menos de um ano para o casamento da Princesa e a questão virginal foi levada ao Rei, para solução do caso, se é que havia solução para tal afronta com o noivo do Reino vizinho.
O Rei, ao tomar conhecimento do escândalo, mandou imediatamente o pajem para remar as galés do Reino pelo resto da vida. Assim, o falso gay seria mais útil para o Reino, ser um remador perpétuo, do que o Rei ter que mandar abrir uma cova para enterrar o abusado ou jogá-lo aos carcarás.
O Rei mandou chamar a Princesa para uma conversa séria e quis saber se houve só um agarramento para valer ou se o fato voltou a se repetir. A Princesa disse que foi só uma vez, durante a festa do pijama, uma rapidinha, de pé, nem tiveram tempo para se deitarem, nem espaço havia, foi no box do banheiro.
Depois do médico da corte constatar que a Princesa não estava grávida, o Rei matutou com seu sábio bestunto de colecionador de ossadas de dinossauros do Brasilistão, como o Amazonsaurus maranhensis, e falou quase gritando à esposa-rainha e ao doutor:
- Foi a lei da gravidade! Obrigado, Sir Isaac Newton!
- O que gravidez tem a ver com gravidade? - quis saber o médico.
- Foi a lei da gravidade, seu tonto! - respondeu o Rei. Se eles tivessem se deitado para realizar o ato sexual, ela poderia estar grávida. Ainda bem que foi de pé. A lei da gravidade salvou minha filha!
No que o médico concordou imediatamente, pois não era tolo para contrariar o Rei em tão delicada situação.
Mas havia um problema sério: como resolver o caso de a Princesa não ser mais virgem? Carlos Leão poderia querer ver sangue no lençol na prima nocte.
O Rei do Brasilistão deu ordem para o médico providenciar para o casamento um frasco de sangue puro, sem HIV ou cólera ou zica ou malária ou Covid-19, para a Princesa colocar no seu vaso sagrado durante a noite nupcial.
O médico disse ao Rei que tal solução era de difícil execução, havia os afagos iniciais dos noivos, para aquecimento da relação sexual, o rala-rola na cama, quem sabe um felatio feito pela noiva, e o noivo não podia se dar ao luxo de chupar uma perereca com sangue, sem ser a semana da menstruação. Era melhor pensar noutra solução.
Dias depois, o médico da corte procurou o Rei e disse que tinha uma solução para o problema da Princesa.
- Diz logo, chega de enrolação - falou o Rei, impaciente.
O doutor explicou que havia um médico famoso, o cirurgião plástico Dr. Evo Pitanga, que faz todo tipo de restauração física, desde a harmonização da face e do pescoço, fazendo matronas parecerem ter só 30 anos, até a harmonização vaginal, ou seja, a restauração do hímen, para que moças se tornem novamente virgens. Que muitas moças do Reino e até das Arábias haviam sido salvas pelas mãos mágicas do Dr. Pitanga.
A Princesa Teodora viajou escondida na carruagem do Correio Real, de madrugada, junto com caixas de encomendas, uísque falsificado do Guaranistão e pássaros contrabandeados da Amazônia, para ser recauchutada na famosa clínica do Dr. Pitanga.
E assim foi feita com sucesso a himenoplastia, a reconstituição do hímen de Teodora. A Princesa estava pronta para as festividades matrimoniais e uma longa vida de felicidade, paz e harmonia junto ao Príncipe Carlos León. E o Reino do Brasilistão foi salvo em sua honra, o que era o mais importante desta fantástica história que ora acaba.
Moral da história: qualquer semelhança com o Ogro de Nove Dedos, o ficha-suja que foi lavado com clareador e secado com toalha de 1.000 fios egípcios pelo STF, e passado talquinho no bumbum pelo TSE, não é mera coincidência. Como Teodora, o Ogro se tornou novamente virgem, puro como um bebê recém-batizado, para felicidade de todos os súditos do Brasilistão.