O nascimento de Jesus contado pelos animais   

 

 

 

           É noite de Natal. Na fazenda os animais estão assustados pelas luzes festivas e por saberem que serão escolhidos para o grande banquete. Tudo é alvoroço: 

 

— Quem será o escolhido desta vez?— Apreensivo indaga o boi.

— Eu estou muito magro! Diz logo o porco! —Tentando se livrar. 

 

            O galo guardava um segredo e com grande arrependimento resolveu contar aos amigos para tentar acalmá-los. E começou assim, a contar a história do Natal que ouviu de seus antepassados:

 

           " No tempo em que os animais falavam como homens e como eles agiam, numa cidade chamada Belém nasceu um menino numa manjedoura junto aos animais. Belém ficava no meio do deserto, por onde seguiam os viajantes vindos de Nazaré, entre eles José e Maria que estava grávida de nove meses daquele que viria ser chamado Jesus, o menino prometido para salvar a humanidade.

 

           A noite estava escura e com dores de parto Maria pediu ao seu esposo José que parassem para descansar, pois era chegada a hora de dar à luz. José amoroso com sua esposa, buscou abrigo, mas todas as casas estavam cheias, pois os migrantes se hospedavam nas estalagens buscando pouso e descanso, para ao romper do dia seguirem viagem.

 

            José preocupado com sua esposa, buscou guarida de casa em casa. Bateu de porta em porta, mas não fora atendido, pois na pequena cidade já não havia um lugar 

para abrigar Maria e seu filho. Sem desistir, José foi à última casa do vilarejo, procurou o dono que com piedade da família disse não haver quarto vago, mas que tinha um curral na saída da cidade, e que se eles quisessem podiam descansar na estrebaria.

Já cansados de caminhar, José e Maria acharam o curral onde viviam unidos os animais. Estes por sinal ao passearem pela cidade, já tinham ouvido falar sobre o medo do rei da época: Perder o trono para um novo rei. E por isso havia dado a sentença de matar qualquer um que ajudasse o menino rei vir ao mundo.

 

           À meia-noite surgiu no céu uma estrela bela e singular e iluminou o curral, e os animais logo entenderam que era um sinal de que ali nascia o salvador. Com grande medo de serem mortos por desobedecerem ao rei, por saberem o paradeiro do menino, o galo logo gritou: 

 

            — Je-sus-Cris-to-nas-ceu! — anunciando para todos ouvirem, e se livrar assim da morte  

Em seguida mugiu o boi:

— Aonde?

A ovelha baliu:

—Em Belém. Em Belém!

E o peru também receoso, logo gorgolejou:

—Degola, degola, degola!

A galinha guiné ainda sonolenta ao ouvir o peru, logo pediu:

—Traz a faca! Traz a faca!

 

No entanto, entre eles estava o papagaio, que conhecia muito bem os pensamentos dos homens, e vendo o menininho num coxo onde os animais comiam, desnudo e com frio, sem conforto algum, encheu-se de ternura e com muita pena, disse:

 

—É mentira! É mentira! Tentando ocultar o nascimento.

 

O jumentinho que nada dizia, pois era sempre repreendido por não ter ideias inteligentes, desta vez convicto e seguro zurrou:

 

           —Este é o filho de Deus. É do mundo, o Salvador.

 

Em meio a algazarra, achegaram-se pastores para ver o que acontecia.  E guiados pela estrela guia, chegaram também reis do oriente com presentes para o menino. 

Tudo ali se fez silencio, e do céu ouviu-se o lindo canto dos anjos que dizia:

"GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS

PAZ NA TERRA AOS HOMENS

 QUE ELE QUER BEM.”

 

Todos se admiraram e em paz dormiram junto ao menino e seus pais, mas num sonho, o anjo avisou a José que fugisse com Maria e o menino pois o rei já soubera do nascimento e queria matá-lo. Nesta hora com grande ímpeto o jumentinho levanta-se e se oferece para ajudá-los, atravessando o deserto da Judeia até o Egito, levando o menino a salvo, e por isto, o jumentinho foi aclamado, pois salvou o rei de toda criação.

 

 

Quando o galo acabou de contar a história do Natal, todos os bichos entenderam o motivo pelo qual, os animais ganharam fama por assistirem o nascimento de Jesus, mas deixaram de falar como os humanos, com exceção do papagaio que por ter se compadecido do menino Jesus, ainda hoje pode imitar a fala humana. E entenderam também, como um burrinho se tornou exemplo de simplicidade e força, e muitos anos depois, seu descendente pôde voltar ao lugar onde o menino nascia e entrar triunfal pelos portões de Jerusalém levando o salvador que agora era acolhido e aclamado pelos seus seguidores. 

E explicou que por consequência de seus atos, até hoje o peru e outras aves são servidos na ceia de Natal, e o galo por denunciar aquela noite o nascimento de Jesus, carrega consigo a sina de cantar diariamente para acordar o sol, mesmo que agora cante com intensa alegria, pois nos faz lembrar daquele dia, na linda noite, em que a verdadeira luz veio ao mundo.

 

Paula Belmino