Os meninos, o Sábio e a borboleta
Me disseram um dia desses que por estas paragens moravam dois garotos muito arteiros.
O Venâncio e o Palhano.
Os dois viviam levando bronca na escola, na rua, em casa, e até onde não apareciam, levavam a culpa por algum mal-feito.
Certo dia a professora, que desmentindo as histórias de cidade pequena, não era bonita nem virtuosa, mas era feia e bruta no trato com as crianças, resolveu soltar o verbo em cima dos dois meninos:
- Se vocês dois continuarem assim, nunca serão nem sábios nem famosos.
Venâncio olhou Palhano e Palhano olhou Venâncio.
- Ora, professora... Não existe neste pedaço de chão debaixo deste céu uma pessoa mais sabida que o meu amigo, o Palhano.
Palhano ficou todo cheio de si, e concordou com o amigo.
Mas Alice, que era a mais doce das alunas e a mais esperta também, tratou de tirar a alegria dos meninos.
- Professora, nem Venâncio nem Palhano, são os mas sábios desse pedaço de chão debaixo desse céu.
Raivosos os meninos queriam saber de onde Alice havia tirado aquela ideia sem pé, cabeça ou rabo.
- Lá no alto da montanha, onde tem neve o ano inteiro, mora um velho sábio. Ele sabe tudo que é sabido pelo homem. Não existe no mundo uma pergunta que ele não conheça a resposta.
- Pois, bem. - respondeu Palhano - Pois eu vou subir nesta montanha e se ele não souber a resposta da pergunta, provo que sou mais sábio do que ele.
Terminada a aula, Venâncio e Palhano começaram a subir a montanha. Mas não sabiam que pergunta fariam ao velho sábio.
Foi então que Palhano viu uma borboleta, e mais que rápido prendeu a coitada entre as mãos.
- O que foi, Palhano?
- Ora, Venâncio. Vou levar esta borboleta escondida nas mãos atrás das costas. Quando chegar na casa do sábio vou perguntar: a borboleta esta viva ou morta? Se ele responder morta, eu a solto, e ele erra. Se ele disser viva, eu esmago a borboleta nas mãos e ele erra.
- Mas então não há resposta certa para esta pergunta e o sábio não será mais sábio.
- Então eu provo que sou o mais sábio neste pedaço de chão debaixo deste céu.
E foram subindo a montanha.
Quando chegaram na casa do velho sábio, ele os esperava com um chá quente para vencer o frio da neve.
Os meninos ficaram assombrados.
- Como o senhor sabia que nós estávamos chegando?
- Ora menino, tome seu chá e não queira saber o que eu sei. Só sei que você não sabe que é falta de sabedoria andar pela neve sem casaco.
Os meninos agora sabiam o que antes não sabiam.
- Mas o que querem afinal, dois meninos que quase nada sabem?
Palhano então falou:
- Me disseram que o senhor é o homem mais sábio desse pedaço de chão debaixo desse céu.
- Huhum. - resmungou o sábio.
- Então me responda se souber, eu tenho nas mãos uma borboleta. Ela está viva ou está morta?
O sábio olhou bem nos olhos do menino, serviu mais chá e respondeu com um sorriso.
- Ora, menino, a resposta está em suas mãos, basta você escolher qual você quer.
O menino surpreso soltou a borboleta que saiu voando dali, fugindo da neve e voltando para o vale ensolarado.
Depois disso, Venâncio e Palhano, sempre que possível voltavam a montanha para aprender tudo que podiam saber sobre o que se poderia saber.
E Alice?
Alice casou com Venâncio, que no assunto de amor, era mais sabido que Palhano...