OUTRO COELHO E OUTRO JABUTI
Um jabuti do mundo moderno resolveu apostar uma corrida com um coelho do seu mundo. Combinaram que teriam de percorrer uma distância equivalente a três quilômetros e aquele que chegasse primeiro ao ponto previamente estipulado seria o vencedor, evidentemente.
Alguns detalhes seriam previamente observados, ou seja, seriam combinados, bem como documentados pelos integrantes da organização desse evento sui generis, mormente pelas partes diretamente envolvidas.
O jabuti do mundo moderno, por sua vez, por ser muito robusto e deveras mais lento que seu adversário, disse que de vez em quando ele teria de parar um pouco, em pontos estratégicos, para tomar água e/ou descansar e, quem sabe, até atender suas necessidades fisiológicas em moitas previamente reservadas ao longo desse percurso.
O coelho moderno era, sem sombra de dúvidas, o mais veloz de ambos os corredores em disputa, e por uma questão de solidariedade animal para com um adversário supostamente mais fraco, ele concordou plenamente com as “exigências” advindas da parte do jabuti.
O coelho disse, ainda, que para não constranger seu adversário, se manteria um pouco próximo dele durante todo o percurso da corrida, mesmo naqueles momentos em que ele tivesse a necessidade de parar pelas razões já mencionadas anteriormente.
Finalmente, chegou o dia da realização desse evento inédito e todos os animais, principalmente os "torcedores" do coelho e do jabuti, respectivamente, estavam muito ansiosos para acompanhar de perto, o início e o fim dessa corrida.
Conforme combinado entre as partes e fiscalizados que o seriam pelos organizadores da corrida, os dois corredores sairiam no mesmo instante, mas o coelho manteria uma pegada mais forte desde o início, e fatalmente deixaria o jabuti um pouco para trás.
Desde o início, o jabuti deu a entender que estava se esforçando ao máximo e, como já era esperado ele parou duas vezes seguidas para se hidratar e descansar. Meio ofegante e com ar de quem estava meio cansado, ele voltou em seguida, em ambas as vezes, e a corrida foi retomada, sempre com o coelho se mantendo na dianteira.
Chegou a vez da terceira e última parada do jabuti e ele a aproveitaria para se hidratar, descansar e, decerto, atender às necessidades fisiológicas número 1 e número 2. Por isso, a fim de tentar fugir dos olhos dos curiosos que viam a corrida, ele teria de se embrenhar um pouco mais em meio aos arbustos que formavam as moitas.
Àquela altura dos acontecimentos, o coelho já se sentia um pouco exausto de tanto se hidratar e, por tabela, também descansar, mas sempre esperando seu adversário de pé; como o jabuti estava demorando muito para sair da moita, ele decidiu se recostar no tronco de uma árvore e acabou cochilando um pouco.
O jabuti muito esperto que o era não ficou muito tempo ocupando o espaço da moita. Ao atender rapidamente uma de suas necessidades fisiológicas, meio acanhado, ele não voltou por onde tinha entrado antes. E sem perceber que seu adversário tinha ficado para trás, ele saiu se esgueirando pelas beiradas de uma trilha paralela à continuidade do trajeto principal até chegar ao marco final e, casualmente, se tornou o vencedor da corrida.
O coelho que dormia como um ser angelical, recostado no tronco daquela árvore, só acordou com o alvoroço causado pelos "torcedores" que aplaudiam a chegada do jabuti. Se culpando por ter sido traído pelo sono e ter chegado em segundo lugar, ele ficou muito chateado com seu desempenho durante a corrida, como um todo. As más linguas animais estão falando que ele pedirá uma revanche.
Moral da história. Quem perde o ânimo e decide “cochilar” em momentos decisivos de sua vida, corre sério risco de ser ultrapassado por quem em nenhum momento deixou de estar atento ao atingimento de seus objetivos, ainda que para tanto ele tivesse que parar diversas vezes para beber água, descansar um pouco e até descartar parte do excesso das impurezas que estivesse aumentando o seu peso corporal.