ESTRADA DO ABACATEIRO

Enquanto caminhávamos, ele me olhava e assim sem falar nada, sem dizer palavra, indicava que devia seguir por aquele caminho. Um abacateiro enorme, bonito, sem comparação com árvore nenhuma: "por ali", disse.

Afinal, nenhuma árvore pode ser comparada. Todas são mesmo lindas, tem função e cumprem suas missões. Uma árvore nunca diz que não cumprirá sua missão. Mesmo quando não vai longe na idade, já terá servido de moradia, de interesse, de alimento.

Fiquei esperando ele, por um instante, mas assim mesmo, com os olhos, disse que não ia comigo. Caminhei.

Segui alguns instantes sozinha (na minha visão tacanha, de humano com fé bruxuleante). De repente avistei um campo imenso, muitas cabanas, algumas pessoas com panos de cor verde, lilás e azul. Outras, com panos de cor rosa, amarelo, vermelho. Percebi que era uma sinalização. As tiras de pano estavam cingidas na cintura de cada um.

Caminhei até alguém que me chamava com a mão, assim acenando. Ali recebi um pedaço de pano azul, uma espécie de faixa. O pano foi cingido à minha cintura, por sobre minha roupa, que nesse momento era um vestidão sem modelo, tipo de saco de estopa.

Fui orientada a seguir os que ostentavam essa tira de pano. Uma criança me dizia para fazer tudo como eles fariam. Depois me pôs uma pedra brilhante, azul, na testa. A pedra acoplou rapidamente ali e sumiu. Passei a mão para ter certeza. Tive.

A criança disse que aquela tarefa havia de ser para breve. Perguntei onde estávamos. Ela disse, "na área de triagem". Seguimos. Reunimo-nos para uma Prece. Vi pessoas que já foram para a Pátria Espiritual. Fiquei alegre. Acenaram discretamente. Acenei de volta. Dali fomos para nosso campo de trabalho. Acordei.

Solineide Maria.

Luanda, 20/10/2022