O jardim da D. Carmem- Episódio 6 -O baile das borboletas

Em dia de festa tudo fica diferente, mais colorido e até a alegria toma conta do ar. No jardim não foi diferente. A primavera havia chegado de forma estrondosa. Todas as flores brotaram no tempo certo. E os insetos que dependem delas ficaram entusiasmados com tanta fartura.

É nesse período que as borboletas e mariposas aparecem todas felizes atrás do néctar das flores abundantes do jardim da D. Carmem. A maior parte delas é ativa durante o dia, com exceção das mariposas, que são noturnas. E como vivem intensamente cada minuto da curta vida, elas não deixam passar nenhuma oportunidade que as façam felizes. Por esta razão três delas: uma da espécie Atíria e as outras duas Helicônia, muito amigas por sinal, resolveram em conjunto organizar um baile para comemorar a primavera.

Elas foram atrás da D. abelha para em busca de ajuda na organização da festa.

- D. Abelha, a senhora com certeza irá nos ajudar com os preparativos, né?

- Claro que sim meninas. Podem deixar que irei pessoalmente entregar os convites e orientá-las sobre o lugar onde ocorrera o baile mais esperado da temporada. – Argumentou toda feliz a D. abelhinha.

E assim se seguiu como o combinado. Os convites foram entregues em todas tocas e casulos encontrados no jardim. Não se falava em outra coisa no Jardim da d. Carmem.

Mas, como sempre alguém não estava satisfeito com o esperado baile. A borboleta Morpho Menelaus com seu azul vibrante estava morrendo de inveja e de raiva pois não esperava tanta popularidade das primas distantes. Ela sempre reinara absoluta, agora se via obrigada a engolir este maldito baile.

- Tenho que impedir que este baile ridículo ocorra. Tenho que pensar em algo rápido. – pensou por uns minutos. – Já sei! A tarântula está furiosa por não ter sido convidada e irei aproveitar-me para convencê-la a atacar uma das irmãs borboletas Helicônia. Isso! – Seguiu em direção aos buracos dos tijolos do grande muro que limitava o jardim. Sobrevoou o mais baixo que pode, até pousar bem na entrada escura.

- Tarântula Bele, onde estais? Sou eu a borboleta Menelaus. – Silêncio total! – Onde se meteu essa aranha? Pensou alto.

- Não sou uma aranha, e sim uma tarântula. – Respondeu irritada. – O que uma borboleta dondoca como você está fazendo aqui no meu recinto? – Continuou.

- Calma, tenho novidades! Vamos trabalhar em parceria? Tenho um trabalhinho bem saboroso para você. – falou indo direto ao ponto.

- Ihhhh! Já sei que vem treta aí. Desembucha logo! – respondeu toda desconfiada.

- Vamos estragar a festinha das borboletas que será amanhã. Sei que a senhorita não foi convidada. Então vim propor que estraguemos o baile.

- O que ganho com isso? – Perguntou toda curiosa a Tarântula Bele.

- Uma das borboletas como brinde. Eu atraio uma das irmãs Helicônia e você com suas garras afiadas ganhará uma grande refeição, além de estragar tudo. – Disse com autoridade.

A Bele encarou-a por um bom tempo. Não seria nada mau estragar assim algo que a irritou tanto.

- Tudo certo. Será minha vingança. – pois fim a conversa e recolheu-se devagar.

Bem ali próximo a Libélula esfuaçante observou de longe a conversa daquela borboleta Morpho Menelaus com a Tarântula mais horripilante do jardim.

- Que estranho! O que será que aquelas duas estão a conversar? – Seguiu seu caminho sem saber a resposta.

Os preparativos para o baile estavam em andamento. D. abelha reuniu todas as amigas, entre elas estavam a Joaninha, a aranha, a Libélula, borboletas, beija flores e muito mais. O lugar escolhido para o evento foi os fundos do jardim, onde fica a maior quantidade de flores das mais variadas espécies e cores. Tudo muito lindo, perfumado e colorido.

As borboletas Atíria e Helicônias ficaram bastante satisfeitas com o resultado da decoração.

- Que lindo! A dona aranha caprichou. – Elogiou as irmãs.

- Verdade! Ela é muito talentosa! – Confirmou a Atíria.

No dia seguinte, como tudo estava pronto, as borboletas contrataram alguns insetos para auxiliar no baile: o Louva-deus como recepcionista, o grilo e as joaninhas verdes como auxiliares do recepcionista, o escaravelho junto com o bicho-pau como seguranças e espia caso algum penetra resolva invadir. E por fim os pirilampos para iluminar o recinto quando escurecesse. Às 15h exatamente deu-se o início do baile da primavera, organizado pelas borboletas mais belas do jardim da D. Carmem.

Mas, de cima de uma roseira que ficava rente ao muro onde a Tarântula se escondia, estava a borboleta Morpho Menelaus de olho na movimentação. Ela estava com tanta raiva e inveja da bajulação que não via a hora daquela aranha horrorosa atacar e acabar logo com a festa. Como também fora convidada bolou um plano de atrair uma das irmãs Helicônia para o muro e empurrá-la em direção ao tijolo onde Bele se esconde. Bem, deste modo seguiu sobrevoando o salão devagarinho fingindo estar admirada com a decoração.

- Não gosto daquela borboleta ali! – Exclamou a libélula para o Colibri (espécie de beija-flor).

- Quem? – Olhou de relance e viu quem era a tal borboleta. – Ah, é a Menelaus! Não engana ninguém, com esse jeitinho todo debochado. – Respondeu e seguiram rumo ao centro do salão.

Quando as anfitriães chegaram, foi um alvoroço. Todo mundo que viesse cumprimentá-las pelo convite.

Aproveitando-se de um descuido das irmãs, a Menelaus aproximou-se de mansinho e soprou no ouvida da mais nova delas:

- Querida que baile maravilhoso! Obrigada pelo convite! – Fingiu mais uma vez.

- Que nada! Nós que ficamos gratas por todos estarem aqui, com exceção da Tarântula Bele. Perigosa e nada amistosa. – Exclamou com temos.

- A querida, tem um pequeno espinho em minha assa direita. Ajude-me a tirá-lo, por favor. Vamos até a roseira do muro e você retira. Pediu toda melosa.

- Claro, preciso apenas avisar as outras. – Quando foi afastando-se, a Menelaus impediu dizendo que seria rápido e não precisava avisar a ninguém. Assim, seguiram rumo a armadilha.

Porém, a astuta borboleta Morpho não esperava que estivesse sendo observada. Mais adiante, fora do espaço do baile, um ser estava atento e se perguntando “aonde elas estão indo?” E resolveu segui-las.

- Minha querida estamos chegando. Venha, suba mais um pouquinho e fique esperando bem aqui próximo ao muro. Já volto com outro espinho, e você me ajuda a tirar o outro. - Falou para a Helicônia esperar bem em frente da toca da aranha gigante.

A borboleta não entendeu, mas resolveu esperar. Neste exato momento, a tarântula soltou várias teias prendendo a Helicônia e começou a puxá-la para dentro. O desespero a frágil borboleta tentou sem sucesso voar, contudo, percebeu que as suas asas estavam presas nas teias da mais horripilante criatura. Agora ela tinha certeza de que a Morpho Menelaus era má e armou tudo. Que pena, no dia do grande baile ela iria morrer, pensou a lamentar-se.

De longe, a borboleta má voltou para a festa e perguntaram sobre a Helicônia, ela desconversou. Inventou uma história qualquer. Mas deram falta dela e passaram a procurar.

- Onde está minha irmã? Não podemos continuar o baile sem ela aqui. – Exclamou a outra borboleta.

- Eu a vi saindo daqui com a Menelaus. Assuma! Você sabe onde ela está? – Bradou a Libélula com firmeza. - Desembucha borboleta dos infernos!

Todos voltaram para ela, exigindo explicações. Tentou voar, porém, D. aranha de Jardim soltou uma teia que a prendeu pela cauda. Dali ela não iria para parte alguma. Sem saída, ela resolveu falar.

- Ahahahahahaha, a esta altura Bele já deve tê-la devorado ou no mínimo asfixiado para comê-la depois.

- O que a tarântula tem a ver com isso? Perguntou a borboleta Atíria perplexa. – Onde elas estão?

Todos ali sabiam onde a Bele, a tarântula, se escondia: no muro do jardim. Foram em direção os esconderijo Beija-flor, a libélula, o gafanhoto, o grilo, até as formigas de roça responsáveis pela limpeza, seguram na busca pela Helicônia.

Na pequena abertura no tijolo do muro, Helicônia lutava, sem sucesso, desgrudar-se das teias que a prendia. Gritou o mais alto que pode até perder a voz. Quando a grande aranha levantou as patas e mostrou seu venenoso ferrão, a borboleta encolheu-se e esperou a morte lenta e mortal. Algo a puxou com tamanha força que caiu na terra presa entre as teias e junto com ela foi a tarântula, desequilibrando-se no ar.

- Solte esta frágil borboleta sua desalmada e infeliz. Meta-se com alguém do seu tamanho. – Falou a voz de trovam conhecida por todos como a voz do gabiru do jardim. Saltou em cima da aranha e começaram a lutar. – Voe Helicônia, aproveite e vá. - Falou para a borboleta enquanto dava uma surra na Bele sem chance de sobrevivência.

Virou-se para fugir e deu de cara com a plateia horrorizada com a cena do gabiru massacrando a tarântula. As irmãs borboletas enfim ficaram juntas.

- Vamos todos voltar para o baile. - Chamou a D. abelha – A festa deve continuar, as cigarras já começaram a cantar.

E todos os insetos e não insetos voltaram aliviados e satisfeitos por ter dado tudo certo.

A Morpho Menelaus foi expulsa do jardim da D. Carmem por ter sido tão malvada e invejosa.

E o senhor ratazana mais uma vez salvou o jardim de mais uma tragédia.

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 09/07/2022
Reeditado em 16/01/2024
Código do texto: T7555622
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