As árvores irmãs
Era uma vez duas irmãs gêmeas muito, muito competitivas entre si, que já na infância se puseram a competir.
- Eu nasci primeiro! - dizia uma.
- Mentira! Fui eu! - garantia a outra.
A família, tentando amenizar, nunca servia de juiz. Piorou tudo: contendas em aberto não somem, apenas aumentam e geram outras.
Sim, vieram muitas outras disputas, e com a sutil provocação de que vencedora e perdedora se revezavam. A corrida no recreio, o garotinho com o topete irretocável, a melhor nota, o primeiro emprego, o maior salário… assim seguiram as irmãs, vida afora, disputando prêmios que só eram tentadores porque tirados uma da outra.
Um dia, uma fada soube dessa competição toda. Não qualquer fada, e certamente não uma de asinhas purpurinadas. Na verdade, era uma dessas fadas azedas que começam o dia sumindo com as chaves de quem está atrasado e o terminam rodando pesadelos claustrofóbicos em quem só queria uma boa noite de sono.
Pois essa fada, achando muito descabimento naquela competição nada esportiva, resolveu intervir.
Foram dias até conseguir achar as intragáveis ervas, e mais dias para extrair as entranhas de insetos cascudos, do jeitinho que a receita de sua tia-avó bruxa mandava. Quando cozinhou tudo, foi aos risos deitar o feitiço nas irmãs, que dormiam.
Quando as irmãs acordaram, logo se reconheceram uma ao lado da outra, na mais improvável condição de árvore.
A fada resmungou. Errou a receita; teria contado errado as pernas de barata? Era para saírem duas pedras, não árvores. Paciência, disse para si mesma. E, afinal, travessuras mágicas, mesmo erradas, ainda são travessuras.
Então a fada riu e falou na língua das árvores:
- E agora, hein, como é que vocês vão competir?
As árvores irmãs sequer escutaram a provocação: já estavam concentradas avaliando qual das duas trazia mais flores nas pontas dos galhos.