Os Lobos Também Amam...
Quando foi tempo de fartura, sobrava comida para todos os lados e para todos os bichos, inclusive para um lobo e uma ovelha, que cresceram juntos e se amavam tanto quanto podem se amar um lobo e uma ovelha. Mas, um dia, chegou a seca. Secaram os rios, a plantação murchou e a comida escasseou. O lobo e a ovelha decidiram abandonar o local onde moravam e começaram a peregrinar em busca de comida. Andaram horas. Andaram dias. E nada de comida. No quarto dia de jejum, o lobo, esquálido e fraco, aproximou-se da ovelha, que mal se aguentava nas pernas, e sussurrou com emoção:
- Ovelhinha, meu amor, meu coração não suportará ver-te morrer de fome! Com muita dor na alma, vejo-me obrigado a abreviar teu sofrimento...
Devorou-a, com toda piedade e fome que sentia, e com as forças revigoradas pelo reforçado almoço, retomou mais animado a caminhada em busca de lugares menos inóspitos. Mais um dia de viagem e alcançou uma montanha onde encontrou tanto alimento em abundância quanto uma errante alcateia, que o acolheu com simpatia. Principalmente uma loba cinzenta, de olhos dengosos, com a qual logo se acasalou.
Mas, em noites de lua cheia, uiva dolorosamente de saudades da ovelhinha. Porque os lobos também amam...
Antonio Maria Santiago Cabral
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