Chocos: A busca por uma parceira

Parecia um efeito conjunto, todos aqueles que conhecia buscavam o mesmo que eu. Mas era compreensível, já que fazíamos isso no verão. Era assustador pensar que era a minha primeira e única vez, sentia-me intimidado pensando em quantos outros chocos também estavam atrás de uma fêmea.

 

Fiz aquilo ao meu alcance para não ficar para trás e encontrá-la antes que o verão acabasse. Andei praticando muito minhas habilidades de camuflagem especialmente para isso. Sabia que se eu seguisse o bando acabaria por achar uma, o problema era impressioná-la mais do que os outros. Mas caso soubesse usar bem minha camuflagem poderia procurar por outros cantos sem ser seguido.

 

Olhei ao meu redor, cada detalhe é importante para que eu consiga passar por invisível para os outros. Numa busca solitária, apesar de ter menos chances de encontrar meu objetivo, não serei seguido. Quando encontrá-la não terei a menor concorrência.

 

Não sei por quanto tempo vaguei pelo oceano procurando escondido, parava apenas para caçar e dormir. Chegava a ser cansativo, estava perdendo as esperanças e já aceitando ser um fracasso. Havia um motivo para não serem todos a fazerem como eu.

 

Finalmente eu encontrei-a, bela e solitária. Todo o meu esforço valera a pena se fosse para tê-la ao meu lado. Agora precisava mudar minha camuflagem do modo esconder para aparecer. Faria de mim iluminado e atrativo o suficiente para que me destacasse, assim ela só teria olhos para mim.

 

Com toda a minha capacidade de brilho e vontade de tê-la ao meu lado, mudei minha camuflagem para que ela me olhasse e por fim, desejasse-me. Logo que me senti com algum destaque e, consequentemente, chance de ser notado, percebi que muitos outros chocos também apareceram junto de mim. Eu não sabia se me seguiram ou se outros tiveram a minha ótima ideia também.

 

Um pouco decepcionado, pude sentir meu brilho diminuir, diminuindo ainda mais minha chance com ela… Quando pareceu que um fora escolhido, já não pude mais convencer-me a ficar ali. Diminuído, fui me afastar dali.

 

Aparentemente, não me destaquei o suficiente para o grande prêmio. Isso não queria dizer que não me destacara o suficiente para não ser caçoado. O grande vencedor passou por mim ao lado dela com um sorriso orgulhoso:

 

— Ora, ora… um pequenino e fracassado. — Ele riu. — Achou mesmo que tinha alguma chance contra algum de nós?

 

Humilhado e sem pensar se cairia ainda mais ou não no olhar da almejada, joguei minha tinta neles e nadei para o mais longe possível. Não sabia mais o que fazer para encantar uma fêmea, minha única ótima ideia havia fracassado.

 

Olhei a linda paisagem ao redor do meu caminho tentando me distrair. Eram algas, pedras. Tentei divertir-me contando os ramos de algas. Pensar em todos eles juntinhos fazia-me sentir falta dela…

 

Fiquei pensando nos outros chocos, assim não pensaria em mim. Será que os outros não escolhidos também estavam cabisbaixos como estou agora? Será que existiam outras fêmeas esperando serem encontradas? Será que elas partiam em uma jornada como a nossa em busca de um companheiro? Espera… é isso!

 

Animado, nadei rapidamente até o próximo grande grupo de chocos reunidos perto de uma fêmea. Usei toda a minha habilidade de acrobacias e camuflagem, mas consegui. Fantasiei-me de fêmea e passei sem ser perturbado por todos aqueles machos brigando entre si.

 

Assim que cheguei nela, desfiz meus truques, revelando-me como macho. Para provar o que realmente era, assumi um padrão típico de listras que só nós assumimos. Vendo minha nova aparência, ela percebeu meu truque inteligente e disse impressionada:

 

— Até que enfim algo diferente daquelas pinturas esquisitas que todos eles assumem como se eu realmente gostasse! Você é inteligente. — Ela sorriu.

 

— Obrigado. — Agradeci envergonhado.

 

— Venha, já cumpri meu dever aqui. — Convidou-me. — Não preciso mais ver essas demonstrações tolas de habilidade de camuflagem. Como se eu não fizesse melhor... — disse orgulhosa.

 

Aliviado e com a sensação de dever cumprido, fui ao lado de minha companheira, que só me custara um pouco de astúcia para encantar.

 


 

📙 Referências Bibliográficas:

https://br.icreb.org/3155-cuttlefish-freaks-or-a-miracle-of-nature.html

http://www.biorede.pt/text.asp?id=432

https://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2012/07/07/85113-enquanto-flerta-molusco-macho-se-finge-de-femea-para-enganar-rival.html