A cor da meia noite.
Eu estava ali em silêncio naquela noite escura.
Não tinha lua cheia. Mas eu não estava vazia.
Eu estava contemplando aquele céu com nuvens que se misturavam entre rosadas e negras.
Sentindo o vento frio de uma noite estranha.
Vozes, risadas, músicas e conversas dominavam aquele ambiente.
Olhava para meu quarto e não acreditava.
Na minha cama, estava aquela cor.
Aquela presença, grande e forte. Até sufocante e assustadora. Que me tirava as palavras, a concentração.
Mas tinha algo no rosto, era um mistério.
Eu sabia que era doce e ao mesmo tempo maldosa.
Era meigo e ao mesmo tempo terrível. Inocente e ao mesmo tempo vivaz. Era uma sensação estranha ao olhar pra aquela cor. É a vibração que vemos em filmes, e não sabemos explicar, pois não conseguíamos sentir.
A cor da meia noite, tem olhos amendoados e açucarados. Será que são apenas ao olhar para mim?
Amêndoas escuras que parecem duas frutas de cacau.
Eu me perco também nesse olhar. Penetrante. É quase uma hipnose.
E nesse mesmo rosto há lábios, medianos, escuros, como ímãs para os meus. Eu respiro porque fico sem ar, suspiro pois tudo em mim treme.
É impossível acreditar nesse desejo que estou sentindo, depois de tanto tempo a cor da meia noite me arrebatar dessa forma.
Ela me pegou, a cor.
Ela me aperta. Me espreme. Me abraça. Me envolve. Me trata e maltrata. Me cheira. Me beija. Me cerca com toda sua cor. Me invade, entra bem dentro de mim. Sem saber, sem perceber ou conscientemente me abduz.
Há... o meu desejo por essa cor é difícil explicar aos normais.
Na minha mente toca jazz enquanto escuto rock, mas no meu ouvido escuto a voz me falando qual é sua fruta favorita e que a mesma, é a que reclama de tudo da vida...
Nossas mãos se entrelaçam e eu apoio a cabeça em seu ombro e ela, a cor, se enrosca nos meus cachos e se perde lá. E eu não me mando mais. Eu deixo.
Lá ela, a cor, esquece do mundo e reflete sobre a vida. Fico pensando, será que, lá, escondido, ela me desejas? Minha cor...
Essa cor.
A cor da meia noite...