JARDIM DA D. CARMEM – EPISÓDIO 4 – UM SAPO PEDE SOCORRO

O dia estava ensolarado, perfeito para regar o jardim e, obviamente, D. Carmem já se preparava para sua rotina – pegar a mangueira e iniciar o que ela mais gostava de fazer. Mas, os seres do jardim não gostavam muito desse aguaceiro rotineiro, chamavam até de “o dilúvio”. Porém, algo inusitado ocorreu, as horas passavam e nada das águas rolarem pelo jardim. D. Carmem atrasara-se! Um murmurinho começou entre os insetos.

- O que será que aconteceu com ela? – Quis saber a Abelhinha voando por entre as flores.

- E eu sei lá! – Respondeu a Joaninha que estava embaixo da roseira. – Você que anda voando por aí, não sabe, por que eu deveria saber? – Perguntou toda aborrecida.

Resolveu não responder a afronta, pois desconfiava que a Joaninha estaria com algum problema, seguiu seu caminho e viu a andorinha José mais à frente.

- Olá andorinha, como estais? – Saúdo-o alegremente.

- Vou por aqui voando devagar. (risos) – respondeu.

- Alguma novidade? Percebi um alvoroço hoje cedo. – Perguntou na esperança de que ele soubesse de alguma coisa.

- Ah, logo cedo vi a D. Carmem bastante aperreada saindo apressada, parece que viu uma cobra entrar no jardim. E provavelmente foi procurar ajuda. Afirmou se despedindo.

- Minha nossa! Uma cobra! Preciso avisar aos outros para terem cuidado. – Saiu em disparada.

Enquanto isso, do outro lado do jardim ...

- Siiiiiiiiiii, cadê aquele sapo delicioso? Onde será que ele se meteu?

Resmungou a Serpente morta de fome. Entrou no jardim a procura do sapo, ou de alguma presa que estivesse de bobeira. Rastejou até sumir entre os arbustos da cerca.

Um pouco ali na frente, entre as roseiras, o Sapo Cururu pulava feito um louco em busca de um lugar seguro para ficar até aquela serpente maldita desistir e ir embora. Não sabia onde estava, apenas que o lugar era bonito e limpinho. Ele também estava faminto e não perderia tempo se encontrasse um inseto qualquer pelo caminho.

- Ei, o que pensas que estais fazendo? – Perguntou um Gafanhoto ao Sapo que estava de passagem pelo jardim.

- Ai, que susto! Não é da sua conta! – disse virando-se para saber quem era o curioso que acabava de lhe dar um susto.

- Você não é daqui. Nunca o vi por aqui. Espero que não venha causar problemas. – Exclamou desconfiado. – De quem você está se escondendo, em? – Quis saber o Gafanhoto.

O sapo viu a oportunidade de contar a verdade, ou esticar a língua e abocanhá-lo de uma só vez. Mas tinha um problema: O Sapo não era malvado, apesar da sua aparência. Por isso foi logo falando tudo.

- É o seguinte seu gafanhoto, estou fugindo de uma cobra jararaca das grandes. E achei que talvez aqui, ela não pudesse me encontrar. – disse um pouco desapontado. Sabia que as serpentes eram muito astutas e sapos nunca escapavam delas por muito tempo.

- O quê? Você está me dizendo que trouxe uma serpente pra cá? – Falou irritado.

- Eu não trouxe ninguém para cá! Ela quem veio atrás de mim. Defendeu-se o Sapo. – Por favor, não deixes que me encontre. Não posso morrer agora. Ajude-me!

O Gafanhoto bastou vê-lo todo cabisbaixo que ficou com pena dele.

- Está bem, irei ajudá-lo, mas com uma condição: que fique longe dos insetos deste jardim. Entendeu? – Falou com autoridade.

O coitado estava tão faminto que não conseguia nem mais pular de tanta fome que sentia.

- Entendi, mas é que estou morrendo de fome. Desde ontem que não como nada. O que farei então? – Respondeu numa tristeza só.

O Gafanhoto não perdeu tempo, levou-o para o depósito de lixo, onde ficavam várias moscas e o sapinho alimentou-se o quanto pode. De barriga cheia, quis deitar um pouquinho, mas o novo colega não perdeu tempo e levou-o para o centro do jardim, pois eram ali onde todos se reuniam.

D. Aranha de lá de cima viu quando o intruso se aproximou ao lado do viajante gafanhoto. Achou estranho, muito estranho. Resolveu descer da teia.

Os outros insetos quando viram ao sapo, começaram a correr para abrigar-se, e uma confusão estava prestes a acontecer, contudo, o gafanhoto voou e pediu ajuda a D. Cigarra. O zumbido dela foi tão alto que doía. Mas foi o suficiente para todos se acalmarem e escutarem o Gafanhoto.

- Calma galera! O sapinho aqui não come insetos desse jardim, apenas os da lata do lixo. – Falou olhando para a cara do sapo que não foi das boas. – Ele é feio, mas é do bem! Finalizou. (risos)

O alvoroço foi completo. – Silêncio! Continue! – Ordenou a D. Aranha.

- Então, encontrei esse carinha tentando se esconder aqui no Jardim. Pressionei-o e revelou-me que estava a fugir de uma serpente, especificamente, uma Jararaca.

- Isto significa que ela também está aqui no jardim? – Perguntou D. Aranha.

A Abelhinha não perdeu tempo e afirmou:

- Está sim! Foi vista por D. Carmem. Esta foi a razão dela não ter regado o jardim hoje cedo. Iria convocá-los para avisar, porém, o Gafanhoto chegou primeiro.

O Sapo tomou a vez e falou:

- Agradeço a acolhida. Prometo não ficar aqui mais que um dia. Quero apenas descansar as minhas pernas, pulei muito fugindo daquela cobra dos infernos.

Todos admiraram a bravura do Sapo Cururu. Enquanto estavam começando a relaxar, todos ouviram um chiado vindo dos arbustos do lado direito. E de repente, ela, a Cobra Jararaca surgiu e foi logo abocanhando o sapo. Enquanto ele pulava esquivando-se das mordidas dela os outros esconderam-se como puderam. Foi uma gritaria maior do mundo. O Sr. Rato, que também estava na reunião, tentou sem sucesso, distrair a cobra já que ele também seria presa fácil para ela.

- Não adianta pular, seu inútil. Você vai cansar e não adianta, eu sempre venço. – A cobra faminta falou em alto e bom som.

Nesse momento, o sapo pulou para perto do muro e viu que não teria para onde fugir. A Serpente viu a oportunidade de comê-lo.

Em outro panorama...

Dois gaviões-real sobrevoavam a região, um deles viu do alto uma movimentação estranha lá embaixo. Parecia uma cobra se movimentando bastante. Parecia maluca. Presa fácil.

-Olha aí amigo, a sorte está do nosso lado. Desce lá e toma o teu café da manhã. – Incentivou o amigo a descer.

E quando a serpente estava prestes a saciar a fome, foi surpreendida pelas garras de um Gavião-real e dificilmente sobreviveria.

- Nãaaaaaoooooo! Deixe-me em paz! Solte-me! – Gritou inutilmente.

E assim sumiu no horizonte. Passado o susto, todos voltaram a rotina. O Sapo Cururu seguiu seu caminho aliviado.

D. Carmem fez uma varredura no jardim. Vasculharam e nada da tal cobra. Sendo assim, tudo voltou ao normal e lá estava ela no dia seguinte, regando o jardim, como sempre fazia.

DÉBORA ORIENTE

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 06/06/2021
Reeditado em 16/01/2024
Código do texto: T7273040
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