Minha mãe contava essa fábula quando éramos pequeninos, gostava muito e sempre ouvia como se fosse a primeira vez. Não sei se há um autor ou se foi invenção dela somente para nos distrair:
Existiu há muito tempo um formoso rei muito triste e solitário num reino afastado .Tinha o rei, como companhia, somente seu trono ,sua espada e inúmeros elmos que guardavam um triste segredo. Era o rei um homem piedoso e seus súditos muito o amavam e respeitavam pela afamada generosidade. Ocorre que o rei guardava um segredo que somente seus pais sabiam, mas já há tempos haviam falecido. Quando nasceu este rei, seus pais perceberam duas pequeninas pontas, como chifres, em sua fronte, mas guardaram o segredo a sete chaves, já que a anomalia não causara efeitos em sua saúde e poderiam os súditos temer o príncipe imaginando-o um demônio que poderia devorá-los ou coisa que se assemelhe. Então o príncipe ,agora rei, guardava consigo o segredo que temia conhecessem. Viveu assim solitário, pois não queria casar-se e partilhar seu segredo. Pensava então sozinho: - Jamais permitirei tal revelação ou de malvado demônio me chamarão. E usava os mais belos elmos, ornados de pedras preciosas, sempre protegendo a sua desdita . Um dia quando banhava-se o rei ,como de costume, só, adentrou a sala de banho um servo atrapalhado e atrasado em seus afazeres, trazendo nas mãos as perfumosas colônias para a real banheira.Um enorme susto ambos levaram,o rei e o servo. O rei a proteger a real cabeça aterrorizado ao ver seu segredo exposto e o servo que por pouco não tivera os olhos das órbitas saltados. Passado o primeiro impacto disse o rei: - Jamais em tempo algum alguém assistiu ao banho real e tampouco descobriu meu tão reservado segredo! Penso aqui olhando a ti, miserável! Morte ou língua a meus cães? O servo ajoelhou-se e implorou sabendo da bondade do seu rei: - Oh,meu rei ! Prometo-vos ! Em tempo algum, jamais revelarei o que neste recinto vi. Mate-me ou atire minha língua aos cães se o contrário suceder! O rei então ponderou enquanto observava o servo e apiedou-se de maneira que o perdoou, mas disse então: - Se um dia revelares o que viste aqui , terás o castigo mais cruel e a maldição de minha boca lançada a todos seus descendentes! Assim, o servo rapidamente saiu prometendo mais uma vez jamais revelar o segredo do rei. Mas acontece que o servo, não parava um segundo sequer de pensar nos chifres do rei e não suportando o segredo guardado em sua boca, correu desembestado o mais longe que pôde e cavando um enorme buraco no chão ,inclinou o seu corpo e com a boca no buraco revelou: -O senhor rei tem chifres! A seguir recolocou a terra no buraco enterrando o segredo. Voltou então aliviado por haver proferido, mesmo num buraco, o segredo que lhe fervia os miolos. Passados alguns anos no lugar onde o servo havia depositado seu segredo, nasceu uma planta que transformou-se em frondosa árvore. Vinham então as crianças do reino arrancar as folhas da árvore para fazer um de misto de brinquedo com instrumento musical. Dobravam as folhas e levavam aos lábios para tocar o que tinha um som parecido com o de uma flauta . Ao soprarem as folhas ,ouvia-se a seguinte frase junto a melodia: "O senhor rei tem chifres! O senhor rei tem chifres!" E a criançada divertia-se com o inusitado som. Não demorou e chegou ao ouvido real existir um brinquedo que revelava seu grave segredo. Chamou então o servo que em prantos lhe dizia: - Meu senhor, eu não revelei a ninguém vosso segredo! Apenas cavei um buraco e disse baixinho ao buraco, pois não suportei este segredo dentro de minha boca! Então o rei disse : - Tua língua não suportou manter-se em sua boca! Farei o favor pelo qual tua língua clama! E com sua afiada espada, arrancou a língua do servo e atirou-a aos cães que tiveram uma farta refeição, pois esta era enorme. O problema era o cheiro que exalava... E a esposa do servo, que gerou muitos filhos, passava o tempo a confeccionar rústicos chapéus para guardar o segredo que eles também tinham a esconder, a maldição, um par de pequeninos chifres cada. E foi assim por toda a descendência do servo que de tão linguarudo ficou mudo...
Moral da história :
*Se tiveres um segredo, guarde-o somente para si, do contrário sua língua pode ficar literalmente solta...