Por que o Cravo brigou com a Rosa?

Pedrina voltou da escola com uma “pulga atrás da orelha”. Ela estava intrigada com uma cantiga de roda que sua professora cantou. Quando chegou em casa não correu para frente da TV, como era de costume, foi direto até a cozinha onde Dona Celestina, sua mãe, estava terminando de preparar o almoço. Dona Celestina achou muito estranho a Pedrina não ter ido primeiro ligar a TV.

- Chegou da escola, minha linda! – Foi assim que Dona Celestina cumprimentou a filha.

- Mamãe, hoje a tia Ana cantou uma cantiga, na escola, muito legal.

- Que bom, Pedrina, que cantiga foi essa?

- O Cravo brigou com a Rosa debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido, a Rosa despedaçada... Era mais ou menos assim, mamãe.

- Hum! Já sei... Também cantei muito essa cantigazinha quando era criança, na escola e em casa; eu tinha até um cd que tinha essa música.

- Mas tem uma coisa, que me deixou muito intrigada, mamãe.

- O quê, menina?

- Queria saber por que o Cravo e a Rosa brigaram.

Dona Celestina, como sempre, diante das indagações de Pedrina, ficou desconcertada e sem resposta. Mas arriscou dizer um possível motivo para o embate do Cravo com a Rosa.

- Bem... Bem, deve ter sido por causa de água no jardim. Com certeza, o Cravo tentou pegar água da Rosa e ela não gostou...

- Mas, mamãe, o jardineiro não cuida bem de

todas as plantas?

- Acho que cuida, menina.

- Então, com certeza ele dá água para todas as

flores. Acho que esse não é um bom motivo.

Dona Celestina concordou com Pedrina e confessou que não tinha a menor ideia do motivo pelo qual o Cravo e a Rosa se agrediram.

Pedrina, que jamais ia descansar diante de uma investigação como essa, foi até o escritório do seu pai na tentativa de descobrir algo.

- O que veio fazer aqui, menina? Não ver que estou trabalhando? – Perguntou o Sr. Floriano. - Papai, você conhece a cantiga o Cravo brigou com a Rosa? – Perguntou Pedrina.

- Sim, filha, inclusive minha professora cantou muito essa cantiga na sala de aula.

- Papai, eu ando assim muito intrigada com essa cantiga. A gente sabe que eles brigaram, mas qual o motivo? Isso me deixa na maior dúvida.

O pai de Pedrina ficou meio desconcertado com a audaciosa pergunta de sua filha, gaguejou um pouquinho e não temeu em responder:

- Ah! Pedrina, claro que o Cravo e Rosa eram casados, e casais brigam de vez em quando. Com certeza, houve um desentendimento entre eles; então, eles brigaram feio.

Pedrina achou muito estranho o que o pai tinha lhe contado. Ela argumentou com o pai que ele e Dona Celestina nunca tinham brigado feio como o Cravo e a Rosa.

- Pode até ser, papai, mas qual o motivo?

O pai da menina, desapontado, pediu a ela que saísse de seu escritório, porque ele estava muito ocupado com as tarefas.

A conversa do pai de Pedrina não foi muito

convincente e não deixou a menina satisfeita. Pedrina continuou encasquetada com a briga do Cravo e a Rosa, mas de imediato teve uma ideia genial: ir perguntar ao Pancurão.

Pancurão era um menino muito esperto, que morava ao

lado. Com certeza ele saberia dizer por que o Cravo brigou com a Rosa. Pancurão não soube a resposta e, ainda, ficou muito curioso também. Ele não sabia a resposta, mas sabia onde descobrir:

- Já sei, Pedrina, nós vamos procurar ao meu avô Feliciano, ele já viveu muito e deve saber de muita coisa, até mesmo o motivo dessa briga.

- Então, vamos lá!

Pancurão e Pedrina foram até a casa do Sr. Feliciano. O Senhor Feliciano morava com sua esposa, a Dona Agripina, em uma fazenda um pouco distante da cidade.

A avó de Pancurão, Dona Agripina, veio recebe-los, com muita alegria. A vovó e o vovô ficam muito felizes quando as crianças vêm lhes visitar.

Os meninos entraram na casa, ansiosos para falar com o senhor Feliciano.

Chegando lá, Dona Agripina, primeiro, deu um bom lanche para os dois. Só depois, o vovô chegou. É que ele tinha ido olhar uma vaca no curral, que teve filhote. O vovô, muito contente com visita dos meninos, correu para abraçá-los.

- Vovô, nós viemos aqui porque precisamos de sua ajuda! – Falou Pancurão.

- Em que eu posso ajudar, meu netinho?

- A gente queria saber por que o Cravo brigou com a Rosa?

Seu Feliciano levou os meninos até o quintal, onde havia frondosas árvores. Chegando lá, se posicionaram a sombra de uma árvore. E vovô Feliciano, como era um exímio contador de História, foi logo relatando os fatos:

- Bem... Meninos, o Cravo ainda não era casado com a Rosa, mas já pensava em

casar. A Rosa era uma flor muito ciumenta; o Cravo era um garanhão e gostava de ficar xavecando as outras flores.

Pancurão ficou bem à vontade, sentou-se no chão. Pedrina ficou de orelhas antenadas para a história do vovô. Vovô continuou com a história:

- Certo dia, a violeta, por exemplo, ficou rocha de tanta raiva dos seus assovios e ainda chamou o cravo de abusado. A Margarida, toda meiga, até que gostava de ser enamorada pelo Cravo, mas morria de medo da Rosa, por isso não dava bola para os xavecos. Ah, mas tinha uma flor que não resistia aos encantos do Cravo: era a Camélia.

Vovô, enquanto contava a história do Cravo e a Rosa, andavam pelo quintal da casa, que era grande. Os menino sempre atentos, seguindo-o. E a história do vovô continuava:

- Outro dia, a Camélia ia passando na rua e o Cravo não se conteve e começou com os galanteios:

- Que pétalas maravilhosas! Como você está linda hoje! Que perfume, minha flor. Mal-me-quer? Ou bem-me-quer?! Mas para o azar do cravo, a Dona Hortência viu tudo. E como Hortência era uma fofoqueira de carteirinha, foi correndo contar tudo para a Rosa. Rosa era um amor de pessoa, mas quando se zangava ela era mais espinhos que flor. Ela ficou irada com o que a Hortência lhe falara, correu, foi procurar o Cravo para pedir explicações. Começaram uma discussão e depois se agrediram.

- Que feio esse Cravo ser “um galinha”, né, vovô? – Falou Pedrina.

- Sim, Pancurão.

Pancurão muito atento à história, mas ainda com muitas dúvidas, lançou outra pergunta:

- Mas, vovô, o Cravo saiu ferido, como foi isso? - Os espinhos das Rosa...

- Mas, seu Feliciano, a Rosa saiu despedaçada... Foi o Cravo que agrediu ela? – Indagou Pedrina. - Claro que não, minha filha, o Cravo tinha lá seus erros, mas era contra bater em mulheres. Ela ficou despedaçada porque saiu correndo feito uma louca, atravessou a rua sem prestar atenção e foi atropelada por uma bicicleta. Era o girassol aprendendo a andar de bicicleta. Por isso, meninos, é muito importante prestar muita atenção quando formos atravessar a rua.

- Eu sei, disso, senhor Feliciano, a professora já falou isso na escola.

- Vovô, como foi esse acidente, envolvendo o Girassol e a Rosa?

- O girassol vinha ladeira abaixo sem olhar para frente, ele insistia em olhar para o sol. Vocês sabem né, que o girassol não tira os olhos do sol. Ele foi errado! Mas foi também o girassol o grande salvador da pátria; pegou o Cravo que estava sangrando pelos ferimentos, causados pelos os espinhos, e o levou para o hospital. Dra. Açucena cuidou muito bem do Cravo. Ele se recuperou rápido, mas ainda estava fraco, portanto teve que ficar uns três dias no hospital tomando soro. A Rosa era briguenta, mas amava o Cravo, por isso ela foi ao hospital visitá-lo.

- Hum... Mas, vovô, por que o Cravo desmaiou e a Rosa chorou lá no hospital?

- Pancurão, é porque o Cravo quando viu a Rosa ficou com medo de mais umas espinhadas. E a Rosa, quando viu o Cravo desmaiado, pensou que ele tinha morrido. Mas tudo não passou de um engano. A Rosa foi lá para pedir perdão. Ele a perdoou e também pediu perdão a sua amada Rosa, que também lhe perdoou. E tudo se acertou! O Cravo se recuperou e nunca mais quis galinhar com nenhuma outra flor. Desde aquele dia, ele só tinha olhos para sua Rosa. Eles casaram-se e até hoje estão vivendo juntos, felizes...

Satisfeitos com a boa história do vovô Feliciano, Pedrina e Pancurão voltaram para suas casas. Vovô Feliciano ficou feliz por ter resolvido mais um problema da Pedrina e do Pancurão.

Na volta para casa, Pancurão comentou com Pedrina:

- Legal essa história do vovô, mas eu estou aqui pensando, Pedrina, e surgiu mais uma dúvida: e por que atiraram o pau no gato?

- Ih! Pancurão, eu não sei, mas o seu vovô deve saber!

Mas essa investigação vai ficar para outro dia, porque já é tarde; e Pedrina e Pancurão vão fazer as tarefas da escola.