Knock Knock

Ester foi atender a porta, e para sua surpresa, era uma tia muito distante que ela só tinha visto uma vez, por ocasião da morte de sua avó. A menina ficou reparando como ela era estranha, tinha os cabelos brancos, sedosos e enrolados num coque ao alto da cabeça, olhos esbugalhados e um corpo magro, alto e um pouco curvado pela idade. Ela logo pensou que talvez a tia seria uma bruxa, o que trazia naquela mala antiga e empoeirada?

Tia Mary sentou-se e cabisbaixa conversou com a mãe de Ester, explicando que ficara viúva, estava muito doente e precisava da ajuda dos parentes. Sua mãe compadeceu-se da irmã e disse que ela poderia ficar no quarto de hóspedes, que era ao lado do quarto de Ester.

Logo a chamou: - Ester vai levar sua tia para acomodar-se no quarto de hóspedes. E assim, a menina foi, um pouco desconfiada de tudo. Chegando ao quarto, saiu, mas ficou no corredor escondida, para ver se via algo estranho. A tia, por sua vez, fechou a porta e Ester veio sondar atrás da porta. Tentou ver pelo buraco da fechadura, mas não conseguiu ver nada, já ia saindo quando ouviu um barulho estranho, um grunhido forte e rouco. Ah que medo ela sentiu, mas a curiosidade era maior e ela ficou ali parada, ouvindo e tentando ver alguma coisa. Nada.

A menina desistiu naquele momento, mas foi embora mais intrigada ainda. Foi correndo conversar com sua mãe para saber mais sobre a tia estranha que acabara de chegar. A mãe contou que a irmã sempre foi muito quieta, muito estudiosa, e que arrumou um namorado e logo casou-se e foram morar muito longe, motivo pelo qual, passaram-se anos sem a ver, a não ser pela ocasião da morte da mãe, que ela veio, mas sozinha e logo retornou.

Um dia bem cedinho, a tia saiu e Ester pulou a janela e entrou no quarto, já que a tia sempre trancava o quarto. Procurou em tudo e nada encontrou a não ser a mala empeirada sobre uma cadeira. Ah, ela tentou abri-la, mas a tia neste momento estava do outro lado da porta, já quase entrando. Neste momento Ester correu para debaixo da cama e ali ficou, quase sem respirar, para que não fosse descoberta.

A tia entrou e sentou-se na cama por um tempo e depois pegou sua mala e colocou-a sobre a cama. Ester ficou paralisada. Ouviu grunhidos e ficou com muito medo de ser descoberta. Mas logo em seguida a tia fechou a mala e a colocou de volta na cadeira, mas trancou-a.

A mãe de Ester veio até a porta e chamou a tia para irem tomar café e comentou com ela onde Ester teria se enfiado, já que ela chamou e procurou pela casa e quintal e não a encontrou. A tia cuidadosamente trancou a porta do quarto e foram para a cozinha tomar café.

Ester saiu rapidamente de baixo da cama e veio de encontro com a mala. O que tem aí dentro que a tia esconde? Hoje não poderia descobrir, mas amanhã voltaria de novo e decidida a abrir a mala. Pulou a janela de volta e disse à mãe que estava conversando com amiga que era vizinha da casa deles. A tia olhou fixamente para Ester e ela pensou que a tia desconfiara e logo mudou de assunto pedindo para a tia contar sobre o lugar distante de onde ela veio. A tia não disse muita coisa, apenas que era bem de vida, pois o marido deixara uma pequena herança e que um dia ela contaria mais sobre. Ester ficou mais curiosa ainda, pensando que a herança poderia estar dentro da tal mala empoeirada. O que a tia escondia?

Com medo de que a tia desconfiasse, a esperta Ester, esperou alguns dias para finalmente por em prática seu plano tão estudado nestes quatro dias.

A mãe de Ester convidou a irmã para irem às compras e com muita insistência a tia foi junto. Ester ficou super animada, pois seria o momento oportuno para por seu plano em prática. Logo que as duas saíram, Ester pulou a janela do quarto com algumas ferramentas decidida a abrir a tal mala misteriosa. Ufa! Enfim dentro do quarto! Colocou a mala no chão e começou a tentar abrir e nada. A fechadura era diferente das que ela conhecia. Foi quando ela num súbito disse, poxa mala, abre e, misteriosamente a mala abriu-se. Um calafrio tomou conta da menina que tampou o rosto com as mãos e não tinha certeza se abria os olhos e encararia o desfecho ou a encrenca que tinha se metido. Mas para sua surpresa, dentro da mala tinha uma espécie de vaso, urna, ela não sabia bem ao certo. A única coisa é que ele brilhava muito, que a quase cegava. O que fazer agora? Ficou com muito medo de tocar nele. E se tivesse as cinzas do marido da tia? E se ele falasse? Pois ela ouvia ruídos de dentro do quarto. Pensou em correr e deixar tudo lá, mas voltou-se e olhou fixamente para o objeto. Ele se moveu e saiu da mala e veio para perto da menina e ela ouviu em bom e alto tom: - Não fuja menina curiosa! Agora que chegou até aqui, termine! Trêmula a menina respondeu: - Eu só queria saber o que minha tia trazia nesta mala! E neste momento o vaso transformou-se num lindo cavalo e ele disse ser encantado, que sua tia já havia feito dois pedidos e faltava um único pedido. Agora que estava diante dele, a menina deveria fazê-lo. Ester com muito medo, disse, eu não quero ouro, nem riqueza, pois meu tesouro é minha família! Se puder, cure a tia, ela sim precisa de um desejo bom!

Ele consentiu com a cabeça e disse: - A partir de hoje sua tia já está curada! Ela vai recuperar toda jovialidade e viverá muitos anos ao lado de vocês! A menina sorriu, agradeceu e disse que seria grata para sempre! Neste momento o animal sumiu e voltou a ser apenas um vaso.

A menina colocou a mala sobre a cadeira e ela se fechou. Tratou de ajuntar as ferramentas e pulou a janela de volta. Ficou ansiosa esperando as duas voltarem das compras e para a surpresa de Ester, sua tia lhe trouxe uma boneca linda de presente.

A tia parecia mais bonita, alegre, diferente de quando saíram. Foi quando a tia foi para o quarto e trouxe a mala misteriosa. Colocou-a sobre a mesa da cozinha, abriu e disse à sua irmã que a única coisa que trouxe da antiga casa, fora aquela ânfora que era muito estimada do finado marido. Tirou da mala, era linda toda dourada, Ester fez cara de espanto, mas concordou com a tia. Ela deu de presente para a irmã, pois daquele dia em diante, sentia que deveria fazê-lo em gratidão pela hospedagem, amor e carinho com que foi recebida.

Ester ficou indignada, será que a tia não sabia que ele era ou foi mágico? Ela não perguntou, apenas acompanhou a mãe que o colocou num lugar de destaque na casa. A menina ficou de início sem saber se tudo foi verdade ou não passou de um sonho. Mas ela relembrava cada coisa que aconteceu naquele dia.

E um belo dia Ester estava passando pela ânfora e escutou: - Knock Knock

Saiu correndo em disparada, de novo, não!

Sissili
Enviado por Sissili em 22/03/2021
Código do texto: T7213237
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