OS CHUPINS E AS TITICAS
O Chupim e sua companheira passeavam pela mata procurando um local que tivesse um bom ninho para Chupanela botar seus ovos — Os chupins também são chamados por outros nomes: anu, azulão, corvo, engana tico-tico e muitos outros; um deles é vira bosta, pois, para achar alguma semente eles viram a bosta dos animais, principalmente do gado. A cor do chupim macho é escura e com a luz solar fica um lindo azul brilhante. A cor da fêmea é de um marrom escuro parecendo um preto meio apagado.
Como sempre, o folgado casal de passarinhos, que não eram muito apegados ao trabalho, saía no seu passeio matinal tranquilamente depois de terem se alimentado com algumas sementes de arroz ou outras que encontrassem. Após isso, voavam até acharem algum ninho com o propósito de ali tomarem posse para que a fêmea, Chupanela, botasse seus ovinhos. O Chupim macho não queria saber de fazer nada a não ser cantar, achava que seu canto alegrava sua amada para que ela gerasse mais ovinhos. Foram vasculhando em vários lugares; em árvores, em meio às ramagens de plantas e até em lugares um pouco estranho em que algum casal de pássaros construísse seu ninho. Alguns constroem seus ninhos até em local de ferragens velhas sem uso, desde que sejam um local seguro e protegido da chuva e de outros animais, como gatos, cães e tantos outros que os passarinhos procuram dos quais ficarem longe. E num desses lugares um pouco diferente, pois se tratava de uma parte de uma cabine velha de caminhão, um casal de titica gostou e construiu seu ninho com todo o cuidado e carinho para ali criar seus futuros filhotinhos. E o casal de chupins na constante procura, enxergaram esse ninho bem arrumadinho e seguro. O Chupim macho achou que o lugar era ideal para sua companheira Chupanela botar seus ovinhos donde nasceriam para os futuros filhotes. Deixou sua parceira aguardando, e quando fosse a hora certa para a posse do ninho avisaria. A Chupanela ficou esperando num certo lugar e seu companheiro Chupim ficou à espreita esperando o casal de titicas sair e verificar se realmente ali pudesse ser o local em que seus filhos fossem criados, pois trabalhar para criar os filhotes não era o dom do casal dos folgados chupins. Assim que percebeu que os titicas haviam saído, olhou e achou o ninho bem arrumadinho mesmo sendo naquele local rústico. Aprovado o local, começou a cantar avisando a parceira que estava na espera. Chupanela o ouviu e imediatamente seguiu na direção donde vinha o cantar do seu amado e assim começar o processo de posse do ninho alheio para colocar seus ovos. No ninho em que os donos eram um casal de Tico-Tico ou Titica, como eram mais conhecidos, já havia dois ovinhos. A Titica e o seu companheiro Titico haviam saído para se alimentar, então a ocasião era ideal para a fêmea Chupanela colocar seus ovinhos.
O Chupim jogou fora os ovinhos que estavam no ninho e Chupanela imediatamente lá botou o primeiro ovinho. Feito isso, já começado o trabalho usurpador do ninho da outra ave, saíram os dois felizes para continuar suas andanças livres sem nenhum compromisso de cuidar da sua futura prole. Nos dias seguintes voltariam para que Chupanela fosse botando os ovos até completar a quantia certa para ser gerada. Enquanto isso, quando a Titica e o Titico voltaram para seu ninho ficaram um pouco confusos, antes haviam dois ovinhos e agora somente um e ainda um pouco maior. Mas como não tinha malicia não desconfiaram de nada e assim foi por alguns dias. Quando o casal de titicas saía para se alimentar, os malandros aproveitam a ausência deles e lá ia a Chupanela botar seus ovos, até que no final deixou lá quatro ovinhos. Cumprida a missão e sem nenhuma responsabilidade de chocar seus ovos, o casal de chupim foi todo feliz curtir a vida livre, e nenhum dos dois malandros se preocupou com a coitadinha da Titica que para cobrir aqueles ovos tinha que se esticar o máximo seu corpinho, pois ela é menor que a Chupanela. O Titico também teria seu trabalho dobrado para ajudar sua parceira cuidar da prole. — Infelizmente, até entre as aves e outros animais há os aproveitadores da bondade e trabalho alheio.
Foram passando os dias até que finalmente os ovinhos foram se quebrando um a um. Os pais Titicos estavam felizes demais pois nasceram todos. Agora quatro boquinhas abertas querendo alimento e os novos pais teriam que se revessar para conseguir alimentar os filhotinhos. E assim saíam todos os dias à procura de alimentos para a prole fomerenta. O casal de chupins nem sequer se preocuparam em colaborar com a alimentação dos chupinzinhos. De longe davam, de vez em quando, uma espiada para ver como estavam os filhotes do ninho usurpado dos Titicas. O Titico e a Titica se empenhavam muito para que não faltasse nada para seus filhotes. Cresciam rápido e logo já não caberiam no ninho. Comiam muito e os pais de criação voavam pra lá e pra cá o tempo todo para alimentar os esfomeados chupinzinhos. Apesar de serem diferentes dos pais titicas, estes tinham o maior carinho pelos filhotinhos e nunca deixavam eles passar fome ou frio. Nas noites frias os dois cobriam os bebês chupins com suas asinhas e os protegiam. E assim os chupinzinhos-titicas adotados foram crescendo. Seus pais, Titico e Titica, sempre os alimentando para crescerem fortes e saudáveis O casal de chupim nunca se preocupou em ajudar a alimentar os filhotes e já estavam de novo procurando outro ninho que pudesse novamente botar seus ovos.
Os filhotinhos criados pelo casal Titico e Titica já estavam adultos e logo teriam vida própria. Como estavam começando aprender a voar, seus pais incentivava-os para que buscassem a liberdade. E assim, os filhotes que eram dois machos e duas fêmeas começaram a voar sozinhos, sempre vigiados pelos pais adotivos. Até que um dia seguiriam seus caminhos e assim, como seus pais, tomando posse de ninhos alheios e vivendo folgadamente e, desta maneira, mantendo sua espécie de ave da família dos chupins.
Em alguns ninhos em que os pássaros eram mais espertos, como por exemplo o João de Barro, se os chupins botavam lá seus ovinhos eles abandonavam o ninho. Em alguns casos que se tem notícias, foram encontrados muitos ovos onde provavelmente casais de chupins colocaram indevidamente seus ovos.
E assim, a própria Natureza nos mostra que também no reino animal existem os que não têm a responsabilidade de cuidar dos seus e deixa esse encargo para os que são de boa índole e possuem muito amor. Estes cuidam dos filhos dos outros com o mesmo carinho que zelam pelos seus próprios filhotes.
(Fábula inspirada em fatos reais) There Válio – Novembro/2020