1149-SONHO HOLOGRÁFICO

SONHO HOLOGRÁFICO

Era uma festa animada, com muitos convidados. Casamento de algum dos primos, filho de Maria da Gloria e Orlando, por isso havia muitos conhecidos. Os filhos de Natal e Marta estavam por toda a parte.

Vejo Anita (minha prima, filha de tia Rosa): magra como sempre, muito elegante, usando um vestido de cor escura — marrom ou castanho carregado — , que lhe descia colado ao corpo até abaixo dos joelhos; cabelos curtos e grandes brincos, simples aros dourados que balançavam quando ela ria (aquela risada gostosa, ás vezes um pouco debochada, só dela mesma) para o interlocutor, que não vi. Segurava elegantemente uma taça de fino e longo pé na mão direita.

Quando me aproximei dela, o ambiente escureceu e uma área próxima ao teto do grande salão ficou negra.

Apareceu então uma holografia de um rosto de mulher. Bem oval, a cútis branca, com leve vestígio de maquiagem rosada. Olhos escuros, pequenos. Cabelos ao redor da cabeça, em penteado do estilo “permanente” muito usado na década de 1940.

Estremeci quando ela olhou para mim e reconheci a minha amada professora do curso primário: dona Maroscas!!!

Nada disse; apenas sorriu para mim e a imagem holográfica desapareceu.

Desperto, fecho os olhos, tentando captar novamente o sonho, tão lindo era.

Inutilmente.

Dirijo meu pensamento para recordações dos tempos de garoto, aluno da amada mestra nos quatro anos do curso primário. Especialmente dos últimos meses ou o último semestre do quarto ano. Ela fez com que os colegas me escolhessem para orador da turma. Em seguida, me orientou para que eu escrevesse o discurso. E por diversas vezes fui a sua casa, na parte da tarde, para melhorarmos o texto e para ensaios da fala.

Eu era bem tímido mas gostava muito daquelas tardes.

Então invadiu-me uma tristeza imensa e uma grande sensação de arrependimento. Depois da cerimônia de formatura do curso primário, em uma quente tarde de dezembro, á saída do Cine São Sebastião, ela veio cumprimentar mamãe e abraçou-me com força.

Nunca mais a vi. Nunca fui incentivado a visitá-la e eu mesmo não tive a ideia de revê-la.

Ela está na minha memória e em minha saudade. Eu a escolhi para minha Mestra Espiritual. Como singela e tardia homenagem, diversos contos escrevi para minha amada professora DONA MAROCAS.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Sítio Estrela ao pé da Serra da Moeda, Brumadinho, MG

22 de março de 2020

Conto # 1149 da série INFINITAS HISTÓRIAS

2º. Conto escrito em retiro devido à pandemia do Corona Virus-Covid 19

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/10/2020
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