Festa No Céu
Por Nemilson Vieira (*)
Conta-se que São Pedro convidou uma comunidade de pássaros; para uma festa nos céus. Os instrumentistas, poderiam levar os seus instrumentos musicais, à confraternização celeste.
O sapo (mesmo sem fazer parte do público alvo) ao saber do evento, colocou na cabeça de participar da festa. — Anunciava seu desejo aos quatro cantos.
Tudo bem, mas como? — Sem asas e sem convite?!
Dia chegado, os convidados alados, se apresentaram para a partida; ao aguardado evento. E como nuvens acrobáticas, sincronizadas alçaram os seus voos festivos, rumo à imensidão azul...
Chegaram ligeiro à festividade, pois o céu não é tão distante para quem se propõe voar para lá…
Foram recebidos com honras devidas (a criação também tem seus momentos de glória).
Numa grande euforia, corais de aves — das mais variadas espécies — tomavam os seus lugares para as apresentações devidas. — Num frenético bater de asas e cânticos solenes…
De repente deu-se um alvoroço daqueles; pois, para surpresa de todos lá estava 'ele' o sapo. - Como acontecera isso?
O esperto sapo havia-se alojado dentro da viola do especialista da limpeza do mundo: o camarada urubu; num descuido deste, ao deixar por um instante o seu instrumento ao chão.
O bicho batia no peito a dizer: não falei que vinha!
A confraternização estava tão envolvente que boa parte nem o ouviam.
O urubu foi avisado da esperteza do 'intruso' e não mais se desgrudou da viola; a deixava sempre nas maiores alturas.
O sapo não pôde mais pular para dentro do instrumento e voltar de carona para casa.
A festa nem teve tanta graça a ele. Arrasado, só pensava no retorno; depois de tanto espernear Inflou-se no seu silêncio.
Festa acabada e pé na estrada…
“Agora quem poderá-me salvar, levar-me à terra?” Por certo interrogou-se o sapo.
São Pedro compadecido conversou com o bicho:
— Olha para mim, seu sapo! Ele não pôde olhar e São Pedro continuou à explicação:
Farei-lhe um par de asas apenas para a sua volta à terra; cuidado, pois as mesmas são de cera pura. O sapo saltitou de alegria que nem queria mais parar.
Assim foi feito…
O bicho pegou o caminho de volta num voo próprio. Nunca teve tal experiência e se empolgou grandemente a voar nas maiores alturas!
Depois de voar, voar, disse a si mesmo: “Vou aproveitar e dar mais umas voltas pelo espaço”.
Voou além do necessário que nem lembrava das orientações de Pedro.
De tão maravilhado que estava, que não percebeu que, uma asa derretia ao calor do sol.
Perdeu o equilíbrio e não conseguia mais voar dentro das normalidades e desabou de vez…
Ao aproximar-se do solo em queda livre; via a morte por certo.
Avistou duas mulheres ao lavar as suas roupas num rio do lugar. — Com os seus cobertores a quarar num sol ardente.
De cima bradou numa alta voz:
“Abram um lençol ligeiro que lá vai um anjo do céu!”
As lavadeiras ao achar ser um ser de luz, a cair das alturas, não pensaram duas vezes:
Seguraram firmemente nos extremos do espesso lençol e o apararam do céu, com sucesso!
Sem nenhum ferimento o sapo saltou do lençol jubiloso; em terra firme.
As mulheres logo perceberam que não se tratava de anjo algum; — ao ver o 'olhudo' sapo as agradecer:
— Obrigado, senhoras, pelo grande livramento!
Se não fosse a bondade de Pedro e a vossa intervenção eu estaria nestas horas no inferno pelas minhas vãs astúcias.
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/AcadêmicoLiterário.
(06:10:18)