AS AVENTURAS NO JARDIM DA D. CARMEM – EPISÓDIO 2 - O PAPAGAIO APAIXONADO
O JARDIM DA D. CARMEM – EPISÓDIO 2 - O PAPAGAIO APAIXONADO
Tudo em paz no jardim. Os moradores envolvidos em suas funções, nem perceberam que alguém acabava de chegar ao recinto. Era o Lourinho, Papagaio do João, filho da Dona Carmem. Às vezes, ele vinha para contemplar o jardim e aperrear o juízo dos insetos, com as suas cantorias. Dessa vez chegou calado, que nem notaram de imediato a sua presença.
Porém, Beijinho, o beija-flor dourado, gostava da presença do papagaio, e logo que o viu, correu para colocar o papo em dia.
- Olá caro colega! Quanto tempo hem! – Falou o colibri estranhando o silêncio do amigo. – Vamos lá, o que houve para estares tão calado? – insistiu.
- Oi, não foi nada. Estou apenas observando o Jardim, pois faz tempo que não venho aqui, né. – Respondeu calmamente.
A resposta não deixou Beijinho satisfeito, pois sabia que o colega era bem barulhento. Continuou:
- Ah, fala logo o que foi, já estou ficando nervoso com o seu silêncio.
Quando Lourinho ia responder, o saguim Chico chegou já tirando onda:
- Olha quem chegou, a bandeira do brasil de penas. Adoooooro!!! – Exclamou todo entusiasmado. Adorava aperrear o papagaio. – Oxente, o que ele tem, bicudo? – Perguntou ao beija-flor
- Não sei! E mesmo que soubesse, não diria a você. – Retrucou o passarinho chateado. –
Mas o Chico não se deu por vencido. – Pô cara, esses são modos de tratar um visitante? Vim de tão longe, se você soubesse...
- Não quero saber, sem noção! Só chega caçoando dos outros. Nem respeita. Não está vendo que ele está triste? – disse Beijinho batendo as asas mais do que o normal.
Dona Aranha, de longe, só observava a situação. Alguma coisa aconteceu para o barulhento do Lourinho chegar calado e cabisbaixo. Por isso, resolveu agir. Esperou Beijinho e Chico saírem, para aproximar-se dele.
- Estou vendo que tem algo errado contigo. Qual o problema? O João andou brigando com você? – Perguntou ela com a esperança dele responder. Milagrosamente, Lourinho abriu as asas e falou para d. Aranha.
- Não! O João é bom para mim. Eu não queria estar aqui hoje. Só isso!
De repente Dona Carmem entra no jardim se senta no batente próximo ao suporte em que Lourinho estava. Trazia algo em sua mão que reluzia a luz do sol.
- Lourinho, Lourinho! Canta pra tia: “boi, boi, boi da cara preta... – Começou a cantarolar, tentando alegrar o pássaro. Ele continuou calado, apenas a olhava de lado.
D. Carmem era bem habilidosa e sabia fazer de tudo um pouco. A pequena escada que dava acesso ao Jardim, estava com um tijolo a mostra. Ela, como sempre, foi tentar consertar. Com uma colher de pedreiro nas mãos, preparou uma mistura com areia, cimento e água. Quando começou a esfregar a colher de pedreiro na calçada, lourinho mudou o comportamento. Todos que estavam perto olharam para ele espantados.
- Ela voltou, crrác, crrac... Ela está aqui! Crrác, crrác. – Tatareava o papagaio enquanto abria as asas do poleiro onde estava. – quero um abraço, quero sim! Crrác, crrác. – Continuou desesperado de alegria.
Com o barulho, Chico e Beijinho voltaram apressados para ver o ocorrido. Chico exclamou:
- Pirou de vez na batatinha!
- Calma Lourinho, calma! Quem voltou? – Falou Beijinho.
Dona aranha apenas observou o rebuliço.
D. Carmem quase morreu do susto pelo tumulto que Lourinho fez. Continuou a relar a colher na calçada. A ave voou tão rápido, indo em direção a colher de pedreiro, agarrando-a e acariciando. Todos ficaram bobos com a cena. D. Aranha fez um sinal e Beijinho foi voando chamar os outros insetos, pois aquele espetáculo deveria ser compartilhado. Em menos de 10 minutos, todos estavam a contemplar o episódio: Lourinho agarrado a colher de pedreiro, esfregando o bico.
D. Carmem, resolveu sair de perto. Lourinho, percebendo o alvoroço que causou, decidiu falar:
- Crrác, crrác, apresento-lhes minha namorada, o amor da minha vida todinha. Estava triste porque fiquei longe da minha paixão. Mas, crrác, crrác, ela veio ao meu encontro, cantar para mim. – esclareceu ele.
Os insetos não paravam de murmurar.
- Você só deve estar louco. Isso é uma colher de pedreiro. – Falou Joaninha.
- Esse papagaio é cheio esquisitice. – Também falou o saguim Chico com ar de reprovação.
D. Aranha arrependida por tê-los chamados, subiu numa folha de uma roseira e exclamou para todos.
- Que coisa feia! O respeito deve reinar neste jardim, portanto, não importa a forma de amar. Ele se sente feliz agindo assim. Lourinho não tem culpa, pois, não escolhemos a quem amar, apenas amamos. Não foi para isso que os chamei aqui. Espero que tenham entendido o recado. – Exortou-os com certa autoridade.
Os insetos os outros habitantes do jardim respeitavam demais a D. Aranha. Devido a sua boa reputação, eles a admiravam por sempre chegar com as palavras certas. Entenderam e aos poucos foram indo embora.
Não importa como o papagaio olhava a colher, sabia apenas que o fazia feliz.
Débora Oriente