QUAL A COBRA DESVENDADA DO PARAÍSO
Ela vinha pelo seu tempo como sempre veio:de olhos vendados.
Não porque ela quisesse não ver mas porque assim lhe havia sido determinado por tradicional e cuidadosa missão: imparcialidade seria sua meta, a de enxergar sem olhar de lado...
Não conhecia a verdade, portanto, teria que desvendá-la pelos fatos!
Certa vez, ouviu dizer que a verdade tinha muitas faces e como um camaleão poderia ela ser manipulada e disfarçada ao gosto dos prazeres e dos interesses mundanos.
Todavia, se mantinha firme e vendada, no seu propósito imaculado de até então.
Assim, vinha ela algo desprotegida de enxergar o meio, embora sempre nas boas intenções: a de fazer a diferença que lhe cabia por missão.
Era ilibada e sabia ser ela a única ferramenta em prol da paz.
Um dia, se viu enredada.
Desprecavida, cedeu sua nobre missão às mãos dos Homens incautos, velhacos que lhe romperam a venda ocular.
Perdera, portanto, sua mágica proteção de não ver...
Assim como já ocorrera com a cobra do paraíso.
Quando olhou para si e para o lado, já era tarde demais, já não pode resistir a todos os vícios.
Então, apenas seguiu o fisiologismo dos caminhos, no triste destino de ser só Justiça por tradição, sem nunca mais recuperar sua essência imparcial, na sagrada missão de sentenciar ao erro o justo veredicto e de honrar a verdade com a Justiça dos justos.
Foi enfeitiçada pela perdição do poder.
Soube que seguiu apática e moribunda para todo o sempre, escrava da própria batuta negada ao mal e subserviente aos açoites dos horrores da INJUSTIÇA que plantou pelos caminhos...
Seguiu como o tudo que nega a própria finalidade existencial.