Três Pedidos Dum Caipira Mineiro

Por Nemilson Vieira (*)

Conta-se que um caipira mineiro carpia o seu pequeno roçado com um toco velho de enxada.

Na sua labuta diária plantava de tudo um pouco, para a subsistência da família.

O sol o castigava por fora a fome o roía por dentro.

Com a barriga nas costas, um suor frio, incessante, escorria pelo corpo…

De repente, bateu com a ferramenta em algo, que emitiu um som. Trec!

Apurou a visão ao solo, sob os seus pés, e viu na superfície terrena, um objeto pequeno, semelhante a uma bolha incandescente. — O apanhou nas suas mãos admirado…

Havia aquilo milhões de anos, enterrado? Talvez sim.

Na medida que removia o excesso de material ferruginoso, grudado na parte metálica da estrutura…

O seu brilho ressurgia, intensificava-se mais e mais.

Quanto mais esmerava-se na limpeza, mais beleza se via naquela coisa reluzente.

Como num passo de mágica, o objeto nas suas mãos deu um estalo e fragmentou-se todo.

Se tornou pingos de luz, soltos pelo ar num pisca-alerta ofuscantes, desencantados. — À sua volta.

Naquela iluminura estrelada, um Gênio  flutuante, apareceu em cena.

O caipira assustou com o estranho personagem que via.

Pela desconfiança e religiosidade do mineiro…

O caipira puxou um rosário que trazia no bolso da calça e, começou a rezar… Achava tratar-se de uma cilada do tinhoso.

— Por que se pôs a rezar, meu senhor…

Não sou o que pensa. Pelo contrário, estou aqui para servi-lo.

— Quero recompensá-lo por ter-me tirado da inércia. Dessa eternidade a viver limitado sob árido solo, dentro desse invólucro.

Agora sou novamente um ser livre, leve e solto…

— Pode-me pedir sem receios, três coisas que, sem demora os darei, como gratidão.

Como bom minero, o caipira não pensou duas vezes:

— Uai! A ser assim…

Dê-me um queijo!

O gênio recorreu aos seus poderes e imediatamente fez com que saltasse aos seus olhos um enorme e suculento queijo canastra.

Sacou do canivete tirou uma isca da iguaria e a degustou com prazer.

— Faça-me o próximo pedido e o atenderei ágil e gentilmente.

O caipira sem muito pensar…

— Me outro queijo!

Sem demora, num mesmo procedimento, o Gênio fez com que um queijo similar ao primeiro, com o mesmo aroma e sabor caísse diante dele, num instante.

Enfim chegou ao momento do terceiro e último pedido.

O caipira, homem simples do interior, tinha lá os seus acanhamentos…

— Faça o meu caro senhor, o seu derradeiro pedido. — Disse o Gênio.

O matuto matutou, matutou…

Tirou da capanga uma revista masculina que achou jogada pelo caminho; folheou-a e se deteve numa página qualquer.

Mostrou ao Gênio o objeto do seu pedido: uma loira linda de viver.

O Gênio, como das outras vezes, recorreu aos seus poderes, e do nada apareceu a linda garota em carne e osso. — Do jeito que nasceu…

O caipira ao ver a moça à sua frente esboçou um sorriso meio sem graça…

O Gênio notou o seu modo desconcertante e o interrogou:

— Espera aí, senhor, por que não me pediu outra coisa? Visto que o vejo sem jeito, em vez de se alegrar…

— Na verdade, seu Gênio, eu pedi uma mulher para não te deixar sem graça, eu queria mesmo, era outro queijo.

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário

(23.09.18)