O MAIS IMPORTANTE DE TODOS
Introito:
...E lá estava ele – meio que... ‘de bobeira’ – tranquilo, de bem com a vida! Acabara de cumprir a sua missão e – depois de ser lavado com um gostoso banho – bem serelepe, “mandou ver”: Por duas vezes, soltou um "número três”, deu uma piscadela e se fechou. Pensando em descansar um pouco da estafante e excretória labuta diária, aconchegou-se entre as duas gorduchas Dunas que compõem a sua casa, trancou-se para, roncando, dormitar. Ledo engano – constatou!
Lá do alto – novamente, diga-se – lhe chega os alaridos da costumeira, entediante e nefasta discussão entre os oponentes. O objetivo da lide era o de sempre: Saber quem era o mais importante dentro do contexto corpóreo do Corpo Humano.
-Claro sou eu, o mais importante de todos os órgãos – dizia a Boca! É de mim que saem os mais belos e encantadores poemas de amor e – como se não bastassem todas essas minhas e nobres qualidades – sou eu quem colhe o alimento para o sustento de todo vocês que compõem este corpo. Sou eu quem faz o processo químico da salivação, ou seja: Mastigo, preparo o bolo alimentar para, em ato contínuo, enviá-lo a...
-Aham!... Umpf!... Tá se achando, não? É duro, viu? Chega-se ao hilário, ao cúmulo do engraçadíssimo... ouvir tantas asnices, tantas baboseiras – interrompera um dos Pulmões ante as bravatas da loquaz Boca, e concluiu:
- Os mais importantes somos nós – sua tonta, boboca Boca!
Porque somos nós que recolhemos o vital oxigênio e, dentro dos nossos alvéolos pulmonares, captamos o sangue venoso, retiramos dele o gás carbônico proveniente das queimas celulares, quando, então, fazemos a transformação venosa em sangue arterial que – de volta às células de todo o organismo – irão promover novas queimas orgânicas que darão vida às mesmas. É mole ou quer mais, sua sonsa idiota? E dando inúmeras ênfases aos seus exacerbados egocentrismos – disparou:
- Notou seus tolinhos – bem como você, sua tonta Boca bobona – o quanto somos importantes? Se nós não fizermos os nossos papéis, dentro deste contexto, todo o corpo vai parar na ‘cidade de pés juntos’, tá?
-“Chupa essa manga que ela não é pitanga, galera” – dissera, entre risos, os egocêntricos Pulmões!
-Será que estou ouvindo bem? (Era o Estômago, na bronca e pedindo passagem!) Sou eu quem desempenha o papel central – o mais importante, diga-se – no processo de digestão dos alimentos. Sou eu quem faz a liberação do suco gástrico para ajudar na digestão dos alimentos e...
- Opa! Opa! Pode parar com esta sandice, tá? (Eram os intestinos Grosso e o Delgado entrando na briga.) Somos nós – dentre todos vocês – os mais importantes de todos os órgãos. Somos unidos neste processo da alimentação. Sou eu, o Delgado, quem pega bolo (Ou seria a bola? – sei lá!), ‘mato no peito’, absorvo todos os nutrientes sintetizados nos sais, nas vitaminas e proteínas que sustentam e mantém todo este sistema corpóreo! Depois, passo ‘a bola’ ao ‘parceiro’ Grosso (Que de grosso só tem o nome!) e ele, inconteste, faz um dos mais ‘belos gols de placa’ nestes importantes procedimentos do processo alimentar: Mata ‘a bola (ou bolo, sei lá!) no peito’ mistura todos os alimentos com uma boa quantidade de água, que irá, por sua vez, sintetizar este maravilhoso sistema digestivo/alimentar.
-Galera amiga... é preciso desenhar? É pouco ou... querem mais?
Capítulo I:
Ele – calado e sonolento, doidinho para descansar – estava se irritando! Mas, calado estava, calado continuou. Bem que gostaria de esbravejar, soltar uma imprecação. Se conteve! Sério, aborrecido e com a cara enrugada, não soltou uma imprecação, soltou, isso sim, um sisudo, silente e insinuante ‘três’ bem fedido e se fechou.
Vale dizer que, lá em cima, o fedorento ‘três’ não se fez ouvir, mas o sentir – claro sentiram, sim! (E, como bem diria o nordestino: - “Ô xente! “Vixe Maria! Acuda meu Padim Pade Siço! Esse bichim chegou matando a pau!”) E por alguns instantes, a discussão teve uma pequena pausa com os devidos comentários:
- Nossa! Lá em baixo a coisa tá feia – dissera um dos oponentes! Ao que parece, tem carniça que nem os urubus estão resistindo – riram!
-Dona Boca, o que você comeu minha amiga? A ‘coisa’, lá embaixo, está feíssima. Do dito, todos os presentes riram à beça! Mas, e logo em seguida, a discussão recomeçou e, desta vez, bem mais acirrada.
E o tema volta à tona:
-Humpft! Ora, ora, ora... vejam só! Vocês ainda não quiseram enxergar o óbvio ululante, ou seja, compreender e aceitar que os mais importantes de todos, somos nós – dissera o porta-voz da dupla, um dos Rins! Somos nós que controlamos – com eficientíssimo trabalho, diga-se – a pressão arterial, a temperatura corpórea, a limpeza das impurezas orgânicas, como a amônia, a ureia e o ácido úrico – tá legal? Então – dando ênfase à enorme e gritante megalomania – completou: - Sem a nossa perfeita atuação – sei não, meus caros – ‘a coisa ficaria preta’ e, provavelmente, nem estaríamos aqui, discutindo este “quem é mais quem” na ordem do dia!... Sacaram?
Presente à assembleia, o Fígado – com a sua tez de púrpura cor – até então, alheio a tudo, a tudo ouvia sem, todavia, se manifestar. Limitava-se a – tão somente, diga-se – rir e ressorir das ‘baboseiras dos contendores’. Mas – e por estar bastante acirrada –, o Fígado também, se pronunciou:
Vale, contudo, ressaltar que – até então, como bem antes diziam: estava na sua! Ele bem sabia e estava cônscio das suas obrigações e importância, bem como, o que deveria fazer dentro do contexto. O resto era – nada mais, nada menos – que meros restos. Eram as vaidades afloradas à flor da pele!
Assim pensando, pede a palavra:
-Pessoal, melhor seria que fosse encerrada esta tola discussão! Discutir a importância de cada um dentro de um corpo contextual é algo sem a menor importância. Cada um faz – ou deveria fazer – tudo aquilo que nos diz respeito fazer. Somente assim tudo funcionará a contento. Eu – como todos os demais – tenho a minha função, todas elas importantes como são as de cada um dos senhores dentro deste contexto. Tenho a obrigação de fazer, e faço, a minha parte. Sou eu quem faz o armazenamento e liberação da glicose; metabolismo dos lipídeos; metabolismo das proteínas (Conversão de amônia em ureia!); síntese da maioria das proteínas do plasma; processamento de drogas e hormônios. Se fosse argumentar sobre o meu trabalho dentro do contexto, levaria tempos na explanação sem, contudo, chegar a lugar algum. Mas – entendam, por favor – eu preciso de cada um dos componentes deste corpo. Sem a devida importância de cada um dos senhores as minhas funções não funcionariam. Existe na natureza algo muito importante – a simbiose. É ela que nos une para que, juntos, possamos – no exercício das nossas árduas tarefas – promovermos o bem estar de todo o corpo. Bem sei da importância de cada uma das minhas funções, mas, e nem por isso, me arvoro em ser o mais ou o menos importante – dissera o sapiente Fígado!
Os contendores se entreolham, riem e – em uníssono, como se tivessem ensaiado a fala – em coro bradaram: - Fica na sua, Figueiredo!
O sapiente Fígado se recolhe ao seu canto. Antes, porém, lança a sua ‘nostradâmica’ profecia: - Isso vai dar merda, galera – dissera!
Na sala os risos recrudescem e a tola discussão retorna à pauta do dia.
-Helôôô!.. Ai, ai, ai minha santíssima paciência! Como vocês são idiotas! Povinho, vocês ainda não perceberam que o mais importante de todos, sou eu – vociferou o egocêntrico e megalomaníaco Cérebro! Sim! É evidente que sou – numa linguagem mais moderna – o maior computador do organismo humano. Sou o centro do sistema nervoso, onde toda informação que vocês recebem é convergida ‘por euzinho’. Eu tenho – sob meu comando e a mim interligados – 86 bilhões de neurônios. Sou o responsável pelos pensamentos; sentimentos; memória e imaginação, além de comandar todos os movimentos – voluntários e involuntários – deste sistema corpóreo. Sou, portanto, o mais importante de todos que compõem este sistema de vida que vocês desfrutam. Quem dá as ordens, hem? – ‘Euzinho’, claro! Sou eu quem controla as emoções, a visão, o tato, o paladar, a audição, o olfato. O único ser pensante de todo este sistema corporal. Portanto, meus caros e tolos, sou eu – e mais ninguém, tá? – o único a ser o detentor da primazia e liderança de todo este sistema! Agora, ‘tchau, tchau... tchauzinhos’ e bênçãos, galera! ‘Bye, bye’ e fim de papo! Fui!.. E foi-se!
Cabisbaixos, os demais membros da assembleia – reconhecendo o gênio Cérebro como o grande líder inconteste – o aplaudem e lhe entregam o cetro e a Coroa Real.
Capítulo II:
E é neste exato momento que os parvos contendores ouvem uma voz – nunca dantes ouvida por eles – que dizia:
-Querem parar com esta chatice, este estrupício tolo, incomodativo e sem sentido? O mais importante sou eu – entenderam?
Os contendores, entre sorrisos de escárnio, se entreolham sem, contudo, entenderem. Como aquela voz – que até então – nunca manifestada, agora, se fizera presente nos debates, contestando-os? Quanto desrespeito e audácia é essa? Vociferaram! E para dirimir as dúvidas o Cérebro perguntou:
-De onde você fala e, acima de tudo, quem é você, mísero ser? – quisera saber!
-Eu sou o Ânus, e a minha função é... O Ânus – tadinho do Ânus! – nem sequer chegou a terminar sua breve apresentação.
Os contendores, novamente, se entreolharam e, sem se conterem, foram tomados de um acesso de incontidos risos, gargalhadas e eufóricos gritos que fizeram o humílimo Ânus se calar! Não satisfeitos com os deboches, humilharam-no, escarneceram-lhe ao dizerem:
-Tadinho! Ô Ânus... psiu! Fica aí na sua insignificante função, tá? Você não é ninguém na ordem do dia, meu! (Mais risos, gargalhadas de todos – e que por todos eram dadas – são repetidas e, por todos, ouvidas com escárnio!)
Humilhado, aborrecido e irritado, o Ânus se retirou, não sem antes dizer:
-“Nunca mais falem comigo – ouviram?” “Nunca mais” – repetira!
O Ânus se dirige aos seus aposentos. Chega junto às dunas e dá a seca ordem: - Abra-te Sézamo! Obediente, as dunas se abrem. Nova ordem é dada: - Fecha-te Sézamo! As dunas se fecham e o Ânus – de cara amarada – dentro delas se tranca!
O tempo passa (E nem fora tanto tempo assim!) – de três a quatro dias, se tantos – para os problemas começarem a aparecer!
O Grosso reclamou para o Delgado:
-Meu..., não estou me sentindo bem! Uma cólica brava está, há alguns dias, infernizando a minha vida!
-É meu amigo, eu também estou do mesmo jeito, reclamou o Delgado, sendo acompanhado – na reclamação, diga-se – pelo Estômago! Não sei o que está acontecendo! Que será que a Boca andou mandando para nós? - Vamos pedir ao nosso Líder, o Cérebro, que marque uma reunião com os demais para discutirmos e vermos o que está acontecendo – sugeriu o Estômago.
Reunião marcada, chamada feita, com todos os convocados presentes. Então, todos que se fizeram presentes, em coro, passaram a reclamar de que ‘algo não estava certo, e que algo deveria ser feito’. Acordaram em relação ao “algo que deveria ser feito”, sem, contudo, definir qual algo seria!”
-“Até eu – que sendo o ser pensante e Líder inconteste – não estou me sentindo bem. Esta cefaleia está me tirando do sério. Estou sentindo tonturas e dores inexplicáveis.” Dissera o egocêntrico “Band Líder” Cérebro que – mesmo estando abatido e alquebrado, diga-se – não perdera a empáfia de sempre!
-“Estamos lotados de carga fecal, que não quer sair de jeito nenhum” – disseram, em uníssono o Grosso e o Delgado!
-“Eu avisei que ‘isso ia dar merda’. Pois é, não me ouviram e, por isso, deu no que deu: pura merda! Também, como todos, estou sentindo o nefasto resultado da nossa idiotice – dissera o sapiente Fígado!”
-É isso! Eis, aí, o que já suspeitava! Chamemos o Ânus para participar da reunião – dissera o Band Líder proferindo a ordem!
-Ânus!.. – vociferou o Cérebro! Apresente-se aqui! Você está convocado em caráter de urgência urgentíssima. Venha assentar-se à mesa e participar da nossa reunião – dissera!
O Ânus, apresentando-se à convocação, se aproxima dos demais e, ainda – com a cara enrugada e ‘trancado’, tomou assento à mesa. E, sem dar muita atenção, vociferou alto e em bom som:
-O que vocês estão querendo comigo? – irritado, dispara!
-Sabe? É que... bem... nós gostaríamos de saber por que você está tão chateado, macambúzio, de cara amarrada e, o que é pior, trancado? Há dias que você não cuida da sua função e...
-Façam isso, vocês mesmos – dissera o Ânus interrompendo a fala do líder Cérebro. Em seguida, foi-se levantando da cadeira, cortando o papo! Vocês que são – como bem se apregoam ser – tão importantes dentro do contexto... se virem! Assumam cada um ‘o cargo de suma importância que julgam ter’ – por direito ou pseudológico direito – aquele que melhor exercer a função inerente! Fui maltratado e, por isso mesmo, estou em greve. Se virem – vociferou o Ânus! Tchau e bênção para todos! Bye, bye!... Fui galera! E de cara amarrada e ainda trancadíssimo... foi-se!...
-Viram no que deu estas suas pendengas, sem pé nem cabeça? – dissera o Fígado! Sabia que ia ter estas nefastas consequências. Agora, paguemos nós pelos erros cometidos, por tamanha idiotice nesta tola luta pelo poder, cuja mesma não nos levou a lugar algum! Estamos derrotados pelas nossas próprias idiotices e, o que é pior, condenamos à morte todo o sistema funcional do qual fazemos parte – concluiu!
Capítulo III:
Mais alguns dias se passaram, as coisas se complicando, as dores – desta feita mais intensas – recrudescem!
Novamente, o Conselho é convocado pelo, agora, doentio e acabrunhado Cérebro. Sem a costumeira empáfia, o Líder declara: - Está aberta (Ai, ui, ui!) a sessão! Dito isso, o Band Líder foi direto ao âmago da questão, ordenando:
-Amigos, (Ui!.. Ai!..) a coisa está feia! Convidemos o Ânus! Precisamos falar com o Ânus. Chamem-no – dissera!
-Ânus!... – vociferou a boca! Por favor, venha cá, nosso amado e querido Ânuzinho! Venha participar da nossa reunião! Venha amorzinho... Ânuzinho das nossas vidas! Venha benzinho, venha depressa!
O Ânus chega com a ‘cara amarrada’, enrugada – e ainda trancado, diga-se – assenta-se à mesa sem cumprimentar ou mesmo dizer uma só palavra para os demais. Demonstrava estar, ainda, muito chateado, aborrecido, emburrado e trancado – trancadíssimo, diga-se!
(Lembro-me do adágio que dizia: “Em boca fechada não entra mosquito.” Pois bem, parodiando o adágio digo que: - Em Ânus – Ânuzinho ou Ânusão, tanto faz – trancado não sai merda nenhuma!)
O Cérebro – agora, sem a empáfia anterior e suando frio pelo ataque da cefaleia – abre a sessão dizendo:
-Sabe – adorado, amadíssimo, conspícuo, querido e insofismável amigo Ânuzinho –, gostaríamos de nos desculpar com você. Saiba você que, por unanimidade, chegamos à conclusão de que ‘o mais importante deste sistema corpóreo é você!’ Sem você – adorado, amadíssimo, conspícuo, querido e insofismável amigo Ânuzinho –, nada funciona. Se você continuar com esta sua greve, todo o sistema estará comprometido. Portanto – e em assim sendo, claro – resolvemos lhe conceder essa honraria: -Esta coroa de Líder, agora, vai estar na sua cabeça – dissera! Você, a partir de então, será o nosso Líder, o mais importante de todos os membros do corpo do qual fazemos parte.
Em ato contínuo o Cérebro – puxando o saco do Ânus (Ops! Será que o Ânus tem saco? Na fábula, sim!) – gritou alto e em bom:
-Viva o Ânus! Vivas para o nosso novo Líder – o amado Ânuzinho – o órgão mais poderoso do corpo. Vivas! E todos ovacionaram o poderoso “Band Líder” Ânus!
Sério, altaneiro, o Ânus se levanta, recebe as honrarias – a coroa e cetro, os símbolos da discussão e poder. Ato contínuo atira-os numa lixeira.
Atônitos, todos se entreolham sem nada entenderem. O Ânus, solenemente diz:
-Nunca, e em momento algum, almejei ser Líder! Nunca almejei nenhuma ostentação. Ninguém é mais importante que o outro – somos iguais! Ninguém é uno, singular dentro de um contexto – somos pares! E, somente assim, com o pensamento no coletivo, é que se pode almejar o melhor para o todo e para todos! Tudo só funcionará corretamente quando cada um fizer a sua parte em benefício do bem comum – o bem de todos e para todos!
Boquiabertos (Menos o Fígado) estavam – boquiabertos continuaram! O Ânus acabara de dar uma inegável aula de ética, civismo, humildade e humanitarismo. Cabisbaixos, solenemente, todos aplaudiram o grande e venerável Líder Ânus!
O Ânus, encerrando a sua greve – ‘se destranca!’ E com o Ânus – agora, liberado (Ops!), aberto (Mais Ops!), tudo voltou a funcionar maravilhosamente – diga-se! As cólicas, cefaleia e tonturas – do então, ex-Líder Cérebro – os males que a todos perturbavam – se tornou um mero passado de nefastas, porém, belas e eloquentes lembranças de civismo e coletividade.
Todavia, vale ressaltar: - Que esta grande lição – dada pelo magnânimo, humílimo e despretensioso Ânus, ao demonstrar que somos todos iguais – não passe pelo despercebimento nosso – exortou o sapiente Fígado!
Se quisermos vencer uma batalha, o melhor a ser feito – em princípio, diga-se – é nos mantermos unidos em prol de todos, para o bem de todos e em todos pensando. Ninguém nunca foi, é ou será, uno – somos todos iguais! Mesmo porque, de todos somos dependentes e, por certo, dependemos de cada um para o bem de todos. Esta simbiose é – e sempre será – o mais importante elo evolutivo de todo ser vivo. Um mero e “insignificante grão de areia”, se retirado diariamente das bases de um edifício, em breve o fará ruir, tombar por terra, perdendo toda a sua empáfia de ser admirado por todos pela sua – até então – altivez e beleza arquitetônica!
Então, amigos, vivas para o Ânus! O mais sapiente de todos os membros do nosso corpo! O mais querido e desejado (Ops! Hum, hum!...) por todos!
-Vivas para o Ânus! Viva! Viva!...
Epílogo:
Sem se importar com a opinião dos demais, o Ânus se levantou e fora se aconchegar, refestelar-se entre as dunas – as amigas e quentinhas Nádegas – a sua casa, seu lar, o seu “home sweet home!”
Os inseparáveis amigos do Ânus – o Pênis, o Saco Escrotal e as duplas Nádegas – lhe parabenizaram:
-Valeu amigo Ânus! Parabéns! Aqueles bobocas se achavam – julgavam serem os maiorais, as últimas bolachas do pacote, agora, se estreparam de vez e de muito! E complementaram:
-Parabéns, amigo Ânus! Estamos contigo e não abrimos – disseram as Nádegas, fiéis e aconchegantes dunas onde ele se agasalhava juntamente com seus amigos o Saco Escrotal e o Pênis que disseram:
- Valeu amigo Ânus!
Lá de cima veio uma pulsante voz que, também, o parabenizava:
- Parabéns amigo Ânus! – era o sapiente Fígado. E ele comenta:
- Ânus, eu avisei para aqueles idiotas que isso ia dar merda – e não deu outra!
Riem o Ânus, o Fígado, o Pênis e o Saco Escrotal – queridos, fieis e inseparáveis amigos do, agora, Band Líder Ânus!
Introito:
...E lá estava ele – meio que... ‘de bobeira’ – tranquilo, de bem com a vida! Acabara de cumprir a sua missão e – depois de ser lavado com um gostoso banho – bem serelepe, “mandou ver”: Por duas vezes, soltou um "número três”, deu uma piscadela e se fechou. Pensando em descansar um pouco da estafante e excretória labuta diária, aconchegou-se entre as duas gorduchas Dunas que compõem a sua casa, trancou-se para, roncando, dormitar. Ledo engano – constatou!
Lá do alto – novamente, diga-se – lhe chega os alaridos da costumeira, entediante e nefasta discussão entre os oponentes. O objetivo da lide era o de sempre: Saber quem era o mais importante dentro do contexto corpóreo do Corpo Humano.
-Claro sou eu, o mais importante de todos os órgãos – dizia a Boca! É de mim que saem os mais belos e encantadores poemas de amor e – como se não bastassem todas essas minhas e nobres qualidades – sou eu quem colhe o alimento para o sustento de todo vocês que compõem este corpo. Sou eu quem faz o processo químico da salivação, ou seja: Mastigo, preparo o bolo alimentar para, em ato contínuo, enviá-lo a...
-Aham!... Umpf!... Tá se achando, não? É duro, viu? Chega-se ao hilário, ao cúmulo do engraçadíssimo... ouvir tantas asnices, tantas baboseiras – interrompera um dos Pulmões ante as bravatas da loquaz Boca, e concluiu:
- Os mais importantes somos nós – sua tonta, boboca Boca!
Porque somos nós que recolhemos o vital oxigênio e, dentro dos nossos alvéolos pulmonares, captamos o sangue venoso, retiramos dele o gás carbônico proveniente das queimas celulares, quando, então, fazemos a transformação venosa em sangue arterial que – de volta às células de todo o organismo – irão promover novas queimas orgânicas que darão vida às mesmas. É mole ou quer mais, sua sonsa idiota? E dando inúmeras ênfases aos seus exacerbados egocentrismos – disparou:
- Notou seus tolinhos – bem como você, sua tonta Boca bobona – o quanto somos importantes? Se nós não fizermos os nossos papéis, dentro deste contexto, todo o corpo vai parar na ‘cidade de pés juntos’, tá?
-“Chupa essa manga que ela não é pitanga, galera” – dissera, entre risos, os egocêntricos Pulmões!
-Será que estou ouvindo bem? (Era o Estômago, na bronca e pedindo passagem!) Sou eu quem desempenha o papel central – o mais importante, diga-se – no processo de digestão dos alimentos. Sou eu quem faz a liberação do suco gástrico para ajudar na digestão dos alimentos e...
- Opa! Opa! Pode parar com esta sandice, tá? (Eram os intestinos Grosso e o Delgado entrando na briga.) Somos nós – dentre todos vocês – os mais importantes de todos os órgãos. Somos unidos neste processo da alimentação. Sou eu, o Delgado, quem pega bolo (Ou seria a bola? – sei lá!), ‘mato no peito’, absorvo todos os nutrientes sintetizados nos sais, nas vitaminas e proteínas que sustentam e mantém todo este sistema corpóreo! Depois, passo ‘a bola’ ao ‘parceiro’ Grosso (Que de grosso só tem o nome!) e ele, inconteste, faz um dos mais ‘belos gols de placa’ nestes importantes procedimentos do processo alimentar: Mata ‘a bola (ou bolo, sei lá!) no peito’ mistura todos os alimentos com uma boa quantidade de água, que irá, por sua vez, sintetizar este maravilhoso sistema digestivo/alimentar.
-Galera amiga... é preciso desenhar? É pouco ou... querem mais?
Capítulo I:
Ele – calado e sonolento, doidinho para descansar – estava se irritando! Mas, calado estava, calado continuou. Bem que gostaria de esbravejar, soltar uma imprecação. Se conteve! Sério, aborrecido e com a cara enrugada, não soltou uma imprecação, soltou, isso sim, um sisudo, silente e insinuante ‘três’ bem fedido e se fechou.
Vale dizer que, lá em cima, o fedorento ‘três’ não se fez ouvir, mas o sentir – claro sentiram, sim! (E, como bem diria o nordestino: - “Ô xente! “Vixe Maria! Acuda meu Padim Pade Siço! Esse bichim chegou matando a pau!”) E por alguns instantes, a discussão teve uma pequena pausa com os devidos comentários:
- Nossa! Lá em baixo a coisa tá feia – dissera um dos oponentes! Ao que parece, tem carniça que nem os urubus estão resistindo – riram!
-Dona Boca, o que você comeu minha amiga? A ‘coisa’, lá embaixo, está feíssima. Do dito, todos os presentes riram à beça! Mas, e logo em seguida, a discussão recomeçou e, desta vez, bem mais acirrada.
E o tema volta à tona:
-Humpft! Ora, ora, ora... vejam só! Vocês ainda não quiseram enxergar o óbvio ululante, ou seja, compreender e aceitar que os mais importantes de todos, somos nós – dissera o porta-voz da dupla, um dos Rins! Somos nós que controlamos – com eficientíssimo trabalho, diga-se – a pressão arterial, a temperatura corpórea, a limpeza das impurezas orgânicas, como a amônia, a ureia e o ácido úrico – tá legal? Então – dando ênfase à enorme e gritante megalomania – completou: - Sem a nossa perfeita atuação – sei não, meus caros – ‘a coisa ficaria preta’ e, provavelmente, nem estaríamos aqui, discutindo este “quem é mais quem” na ordem do dia!... Sacaram?
Presente à assembleia, o Fígado – com a sua tez de púrpura cor – até então, alheio a tudo, a tudo ouvia sem, todavia, se manifestar. Limitava-se a – tão somente, diga-se – rir e ressorir das ‘baboseiras dos contendores’. Mas – e por estar bastante acirrada –, o Fígado também, se pronunciou:
Vale, contudo, ressaltar que – até então, como bem antes diziam: estava na sua! Ele bem sabia e estava cônscio das suas obrigações e importância, bem como, o que deveria fazer dentro do contexto. O resto era – nada mais, nada menos – que meros restos. Eram as vaidades afloradas à flor da pele!
Assim pensando, pede a palavra:
-Pessoal, melhor seria que fosse encerrada esta tola discussão! Discutir a importância de cada um dentro de um corpo contextual é algo sem a menor importância. Cada um faz – ou deveria fazer – tudo aquilo que nos diz respeito fazer. Somente assim tudo funcionará a contento. Eu – como todos os demais – tenho a minha função, todas elas importantes como são as de cada um dos senhores dentro deste contexto. Tenho a obrigação de fazer, e faço, a minha parte. Sou eu quem faz o armazenamento e liberação da glicose; metabolismo dos lipídeos; metabolismo das proteínas (Conversão de amônia em ureia!); síntese da maioria das proteínas do plasma; processamento de drogas e hormônios. Se fosse argumentar sobre o meu trabalho dentro do contexto, levaria tempos na explanação sem, contudo, chegar a lugar algum. Mas – entendam, por favor – eu preciso de cada um dos componentes deste corpo. Sem a devida importância de cada um dos senhores as minhas funções não funcionariam. Existe na natureza algo muito importante – a simbiose. É ela que nos une para que, juntos, possamos – no exercício das nossas árduas tarefas – promovermos o bem estar de todo o corpo. Bem sei da importância de cada uma das minhas funções, mas, e nem por isso, me arvoro em ser o mais ou o menos importante – dissera o sapiente Fígado!
Os contendores se entreolham, riem e – em uníssono, como se tivessem ensaiado a fala – em coro bradaram: - Fica na sua, Figueiredo!
O sapiente Fígado se recolhe ao seu canto. Antes, porém, lança a sua ‘nostradâmica’ profecia: - Isso vai dar merda, galera – dissera!
Na sala os risos recrudescem e a tola discussão retorna à pauta do dia.
-Helôôô!.. Ai, ai, ai minha santíssima paciência! Como vocês são idiotas! Povinho, vocês ainda não perceberam que o mais importante de todos, sou eu – vociferou o egocêntrico e megalomaníaco Cérebro! Sim! É evidente que sou – numa linguagem mais moderna – o maior computador do organismo humano. Sou o centro do sistema nervoso, onde toda informação que vocês recebem é convergida ‘por euzinho’. Eu tenho – sob meu comando e a mim interligados – 86 bilhões de neurônios. Sou o responsável pelos pensamentos; sentimentos; memória e imaginação, além de comandar todos os movimentos – voluntários e involuntários – deste sistema corpóreo. Sou, portanto, o mais importante de todos que compõem este sistema de vida que vocês desfrutam. Quem dá as ordens, hem? – ‘Euzinho’, claro! Sou eu quem controla as emoções, a visão, o tato, o paladar, a audição, o olfato. O único ser pensante de todo este sistema corporal. Portanto, meus caros e tolos, sou eu – e mais ninguém, tá? – o único a ser o detentor da primazia e liderança de todo este sistema! Agora, ‘tchau, tchau... tchauzinhos’ e bênçãos, galera! ‘Bye, bye’ e fim de papo! Fui!.. E foi-se!
Cabisbaixos, os demais membros da assembleia – reconhecendo o gênio Cérebro como o grande líder inconteste – o aplaudem e lhe entregam o cetro e a Coroa Real.
Capítulo II:
E é neste exato momento que os parvos contendores ouvem uma voz – nunca dantes ouvida por eles – que dizia:
-Querem parar com esta chatice, este estrupício tolo, incomodativo e sem sentido? O mais importante sou eu – entenderam?
Os contendores, entre sorrisos de escárnio, se entreolham sem, contudo, entenderem. Como aquela voz – que até então – nunca manifestada, agora, se fizera presente nos debates, contestando-os? Quanto desrespeito e audácia é essa? Vociferaram! E para dirimir as dúvidas o Cérebro perguntou:
-De onde você fala e, acima de tudo, quem é você, mísero ser? – quisera saber!
-Eu sou o Ânus, e a minha função é... O Ânus – tadinho do Ânus! – nem sequer chegou a terminar sua breve apresentação.
Os contendores, novamente, se entreolharam e, sem se conterem, foram tomados de um acesso de incontidos risos, gargalhadas e eufóricos gritos que fizeram o humílimo Ânus se calar! Não satisfeitos com os deboches, humilharam-no, escarneceram-lhe ao dizerem:
-Tadinho! Ô Ânus... psiu! Fica aí na sua insignificante função, tá? Você não é ninguém na ordem do dia, meu! (Mais risos, gargalhadas de todos – e que por todos eram dadas – são repetidas e, por todos, ouvidas com escárnio!)
Humilhado, aborrecido e irritado, o Ânus se retirou, não sem antes dizer:
-“Nunca mais falem comigo – ouviram?” “Nunca mais” – repetira!
O Ânus se dirige aos seus aposentos. Chega junto às dunas e dá a seca ordem: - Abra-te Sézamo! Obediente, as dunas se abrem. Nova ordem é dada: - Fecha-te Sézamo! As dunas se fecham e o Ânus – de cara amarada – dentro delas se tranca!
O tempo passa (E nem fora tanto tempo assim!) – de três a quatro dias, se tantos – para os problemas começarem a aparecer!
O Grosso reclamou para o Delgado:
-Meu..., não estou me sentindo bem! Uma cólica brava está, há alguns dias, infernizando a minha vida!
-É meu amigo, eu também estou do mesmo jeito, reclamou o Delgado, sendo acompanhado – na reclamação, diga-se – pelo Estômago! Não sei o que está acontecendo! Que será que a Boca andou mandando para nós? - Vamos pedir ao nosso Líder, o Cérebro, que marque uma reunião com os demais para discutirmos e vermos o que está acontecendo – sugeriu o Estômago.
Reunião marcada, chamada feita, com todos os convocados presentes. Então, todos que se fizeram presentes, em coro, passaram a reclamar de que ‘algo não estava certo, e que algo deveria ser feito’. Acordaram em relação ao “algo que deveria ser feito”, sem, contudo, definir qual algo seria!”
-“Até eu – que sendo o ser pensante e Líder inconteste – não estou me sentindo bem. Esta cefaleia está me tirando do sério. Estou sentindo tonturas e dores inexplicáveis.” Dissera o egocêntrico “Band Líder” Cérebro que – mesmo estando abatido e alquebrado, diga-se – não perdera a empáfia de sempre!
-“Estamos lotados de carga fecal, que não quer sair de jeito nenhum” – disseram, em uníssono o Grosso e o Delgado!
-“Eu avisei que ‘isso ia dar merda’. Pois é, não me ouviram e, por isso, deu no que deu: pura merda! Também, como todos, estou sentindo o nefasto resultado da nossa idiotice – dissera o sapiente Fígado!”
-É isso! Eis, aí, o que já suspeitava! Chamemos o Ânus para participar da reunião – dissera o Band Líder proferindo a ordem!
-Ânus!.. – vociferou o Cérebro! Apresente-se aqui! Você está convocado em caráter de urgência urgentíssima. Venha assentar-se à mesa e participar da nossa reunião – dissera!
O Ânus, apresentando-se à convocação, se aproxima dos demais e, ainda – com a cara enrugada e ‘trancado’, tomou assento à mesa. E, sem dar muita atenção, vociferou alto e em bom som:
-O que vocês estão querendo comigo? – irritado, dispara!
-Sabe? É que... bem... nós gostaríamos de saber por que você está tão chateado, macambúzio, de cara amarrada e, o que é pior, trancado? Há dias que você não cuida da sua função e...
-Façam isso, vocês mesmos – dissera o Ânus interrompendo a fala do líder Cérebro. Em seguida, foi-se levantando da cadeira, cortando o papo! Vocês que são – como bem se apregoam ser – tão importantes dentro do contexto... se virem! Assumam cada um ‘o cargo de suma importância que julgam ter’ – por direito ou pseudológico direito – aquele que melhor exercer a função inerente! Fui maltratado e, por isso mesmo, estou em greve. Se virem – vociferou o Ânus! Tchau e bênção para todos! Bye, bye!... Fui galera! E de cara amarrada e ainda trancadíssimo... foi-se!...
-Viram no que deu estas suas pendengas, sem pé nem cabeça? – dissera o Fígado! Sabia que ia ter estas nefastas consequências. Agora, paguemos nós pelos erros cometidos, por tamanha idiotice nesta tola luta pelo poder, cuja mesma não nos levou a lugar algum! Estamos derrotados pelas nossas próprias idiotices e, o que é pior, condenamos à morte todo o sistema funcional do qual fazemos parte – concluiu!
Capítulo III:
Mais alguns dias se passaram, as coisas se complicando, as dores – desta feita mais intensas – recrudescem!
Novamente, o Conselho é convocado pelo, agora, doentio e acabrunhado Cérebro. Sem a costumeira empáfia, o Líder declara: - Está aberta (Ai, ui, ui!) a sessão! Dito isso, o Band Líder foi direto ao âmago da questão, ordenando:
-Amigos, (Ui!.. Ai!..) a coisa está feia! Convidemos o Ânus! Precisamos falar com o Ânus. Chamem-no – dissera!
-Ânus!... – vociferou a boca! Por favor, venha cá, nosso amado e querido Ânuzinho! Venha participar da nossa reunião! Venha amorzinho... Ânuzinho das nossas vidas! Venha benzinho, venha depressa!
O Ânus chega com a ‘cara amarrada’, enrugada – e ainda trancado, diga-se – assenta-se à mesa sem cumprimentar ou mesmo dizer uma só palavra para os demais. Demonstrava estar, ainda, muito chateado, aborrecido, emburrado e trancado – trancadíssimo, diga-se!
(Lembro-me do adágio que dizia: “Em boca fechada não entra mosquito.” Pois bem, parodiando o adágio digo que: - Em Ânus – Ânuzinho ou Ânusão, tanto faz – trancado não sai merda nenhuma!)
O Cérebro – agora, sem a empáfia anterior e suando frio pelo ataque da cefaleia – abre a sessão dizendo:
-Sabe – adorado, amadíssimo, conspícuo, querido e insofismável amigo Ânuzinho –, gostaríamos de nos desculpar com você. Saiba você que, por unanimidade, chegamos à conclusão de que ‘o mais importante deste sistema corpóreo é você!’ Sem você – adorado, amadíssimo, conspícuo, querido e insofismável amigo Ânuzinho –, nada funciona. Se você continuar com esta sua greve, todo o sistema estará comprometido. Portanto – e em assim sendo, claro – resolvemos lhe conceder essa honraria: -Esta coroa de Líder, agora, vai estar na sua cabeça – dissera! Você, a partir de então, será o nosso Líder, o mais importante de todos os membros do corpo do qual fazemos parte.
Em ato contínuo o Cérebro – puxando o saco do Ânus (Ops! Será que o Ânus tem saco? Na fábula, sim!) – gritou alto e em bom:
-Viva o Ânus! Vivas para o nosso novo Líder – o amado Ânuzinho – o órgão mais poderoso do corpo. Vivas! E todos ovacionaram o poderoso “Band Líder” Ânus!
Sério, altaneiro, o Ânus se levanta, recebe as honrarias – a coroa e cetro, os símbolos da discussão e poder. Ato contínuo atira-os numa lixeira.
Atônitos, todos se entreolham sem nada entenderem. O Ânus, solenemente diz:
-Nunca, e em momento algum, almejei ser Líder! Nunca almejei nenhuma ostentação. Ninguém é mais importante que o outro – somos iguais! Ninguém é uno, singular dentro de um contexto – somos pares! E, somente assim, com o pensamento no coletivo, é que se pode almejar o melhor para o todo e para todos! Tudo só funcionará corretamente quando cada um fizer a sua parte em benefício do bem comum – o bem de todos e para todos!
Boquiabertos (Menos o Fígado) estavam – boquiabertos continuaram! O Ânus acabara de dar uma inegável aula de ética, civismo, humildade e humanitarismo. Cabisbaixos, solenemente, todos aplaudiram o grande e venerável Líder Ânus!
O Ânus, encerrando a sua greve – ‘se destranca!’ E com o Ânus – agora, liberado (Ops!), aberto (Mais Ops!), tudo voltou a funcionar maravilhosamente – diga-se! As cólicas, cefaleia e tonturas – do então, ex-Líder Cérebro – os males que a todos perturbavam – se tornou um mero passado de nefastas, porém, belas e eloquentes lembranças de civismo e coletividade.
Todavia, vale ressaltar: - Que esta grande lição – dada pelo magnânimo, humílimo e despretensioso Ânus, ao demonstrar que somos todos iguais – não passe pelo despercebimento nosso – exortou o sapiente Fígado!
Se quisermos vencer uma batalha, o melhor a ser feito – em princípio, diga-se – é nos mantermos unidos em prol de todos, para o bem de todos e em todos pensando. Ninguém nunca foi, é ou será, uno – somos todos iguais! Mesmo porque, de todos somos dependentes e, por certo, dependemos de cada um para o bem de todos. Esta simbiose é – e sempre será – o mais importante elo evolutivo de todo ser vivo. Um mero e “insignificante grão de areia”, se retirado diariamente das bases de um edifício, em breve o fará ruir, tombar por terra, perdendo toda a sua empáfia de ser admirado por todos pela sua – até então – altivez e beleza arquitetônica!
Então, amigos, vivas para o Ânus! O mais sapiente de todos os membros do nosso corpo! O mais querido e desejado (Ops! Hum, hum!...) por todos!
-Vivas para o Ânus! Viva! Viva!...
Epílogo:
Sem se importar com a opinião dos demais, o Ânus se levantou e fora se aconchegar, refestelar-se entre as dunas – as amigas e quentinhas Nádegas – a sua casa, seu lar, o seu “home sweet home!”
Os inseparáveis amigos do Ânus – o Pênis, o Saco Escrotal e as duplas Nádegas – lhe parabenizaram:
-Valeu amigo Ânus! Parabéns! Aqueles bobocas se achavam – julgavam serem os maiorais, as últimas bolachas do pacote, agora, se estreparam de vez e de muito! E complementaram:
-Parabéns, amigo Ânus! Estamos contigo e não abrimos – disseram as Nádegas, fiéis e aconchegantes dunas onde ele se agasalhava juntamente com seus amigos o Saco Escrotal e o Pênis que disseram:
- Valeu amigo Ânus!
Lá de cima veio uma pulsante voz que, também, o parabenizava:
- Parabéns amigo Ânus! – era o sapiente Fígado. E ele comenta:
- Ânus, eu avisei para aqueles idiotas que isso ia dar merda – e não deu outra!
Riem o Ânus, o Fígado, o Pênis e o Saco Escrotal – queridos, fieis e inseparáveis amigos do, agora, Band Líder Ânus!
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Altamiro Fernandes da Cruz
Altamiro Fernandes da Cruz