O balseiro

Na travessia da vida existia um balseiro, de um lado para o outro, atravessava o rio levando pessoas. Ele conhecia bastante histórias de pessoas que por ali passavam. Mas nunca parava para analisar sua própria história. O balseiro era um homem bom, estava sempre sorrindo para os seus inquilinos de travesia, geralmente fazia muitos amigos, alguns todos os dias ele encontrava, outros só os via naquelas poucas horas de travesia e nunca mais.

O rio era seu irmão, ele o conhecia muito bem, sabia de seus dias e horas de calmaria e tranquilidade, também seus dias revoltos de correnteza forte e apesar de saber muito sobre o rio, sabia que ele sempre podia lhe surpreender, pois as suas águas nunca eram as mesmas.

A balsa era sua companheira da vida toda conheciam-se desde que ele nasceu, seu pai era balseiro, ser balseiro era tudo que ele sabia. Ele vivia simplesmente, amava a natureza pensava que fazer o bem e seguir o seu destino era o que importava, assim como o rio que estava constantemente em movimento, desviando os obstáculos quando havia um imprevisto.

Um dia veio um viajante que contou- lhe várias histórias de um mundo, além do rio, o balseiro ficou intrigado, passou alguns dias pensativo imaginando sua vida longe dali, e pensava, e se ele deixasse tudo e resolvesse conhecer outros lugares, outras realidades diferentes da sua de balseiro que amava, mas que, talvez precisasse viver um tempo longe da balsa e do rio.

O balseiro precisava experienciar tudo aquilo que o homem lhe contara do lado de lá, onde o mundo não girava em torno do rio.

O balseiro pegou um trem, seguiu rumo a uma cidade grande, nada ali parecia com o lugar de onde ele vinha, os pedestres andavam rápido e conectados em seus mundos virtuais, tudo ali, era pressa e tinham um pouco do caos, ele andou no meio daquilo tudo e percebeu, que ele via muita coisa, mas parece que ninguém o havia notado, porque todos estavam imersos nas suas bolhas . Poucos estavam dispostos a ver, além de seus mundos. Ele desejou passar rápido por aquela cidade, entrou em um ônibus e chegou e uma cidade mediana, nem grande nem pequena, mas bem diferente da sua, lá todos as pessoa já olhavam mais, uma para outra, reparavam bastante no outro e faziam de tudo para não parecer daquele lugar, queriam ser diferentes, mas ainda tinham algo que fazia o balseiro querer ficar por mais tempo ali. Chegou no meio da cidade e se deparou com um lugar cheio de gente, mulheres, homem, um comércio, lá tinha gente de todo tipo novo, velho atrás do que era necessário para o seu momento atual, os novos também, atrás do que lhes satisfazia os desejos no momento, o que lhes era necessário ter para ser o que buscavam parecer.

O balseiro caminhou pelo comércio todo achou coisas incríveis e pensou, se eu tivesse dinheiro compraria isso, mas logo em seguida pensou de novo, mas pra que, eu preciso mesmo, e segui o seu caminho, compreendendo mais do vazio do ter pra ser. Desejou conhecer mais ainda, chegou em uma cidade bem pequena parecia com a sua, só que não tinha um rio, lá parece que as coisa andavam bem mais devagar tudo fluíam naturalmente, desceu na única rodoviária da cidade que ficava na rua principal, e saiu andando a pés, viu passar por ele um homem de meia idade em uma bicicleta antiga, o homem pedalava sem pressa, certamente tinha segurança pra onde ia, tinha uma expressão tranquila parecia que assobiava. Passou por algumas casas onde via moradores trabalhando, limpavam a frente de suas casas, caprichosamente, outros construíam algo, talvez para melhora sua casa, em outra uma senhora sentada em uma cadeira se balançava e tercia algo, em outro um homem só, observava os que passavam na rua, andou mais um pouco e viu crianças correndo de pés descalço, outras sentadas no chão brincando com terra. Lá podia ver outros também querendo ser diferentes dos demais, como se não pertencesse aquele lugar, como na cidade mediana.

O balseiro passou anos andando onde ele conseguia ir, conheceu algumas pessoas, aprendeu a trabalhar de várias formas para ganhar dinheiro, para ir cada vez mais longe para experiênciar a vida, sabia que para ser completo precisava de experiências que lhes ensinariam muito sobre a vida e sobre as pessoas. Mas o balseiro com todas as sua aventuras e vivências não perderá sua essência nem suas raízes, tudo que ele acreditava estava bem ali, dentro dele, e o seu coração o seu ser, no fundo pedia para ele voltar para sua balsa e seu irmão rio, ele sentia saudade do balanço do rio na sua balsa, na sua alma, do cheiro do rio e de sua rotina, então decidiu voltar para o seu lugar, para seu ofício não porque era tudo que ele sabia fazer agora, mas porque era o que ele amava fazer.

O balseiro entendeu o que no fundo já sabia, que ser é feliz fazer o que se gosta, o que escolhemos ser quando nascemos nesse mundo, a nossa missão, que não importa se é grande ou pequena, o que importa é se a cumprirmos da melhor forma.

Taiana Carvalho Paiva
Enviado por Taiana Carvalho Paiva em 30/06/2020
Reeditado em 24/03/2021
Código do texto: T6992666
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