A Sapiência da Natureza
 
Capítulo III:
 
O mundo era maravilhoso. Realmente, o mundo era muito lindo, mas..., o que é aquilo? Meu Deus do céu!... O que é aquilo?...

Contrastando com a beleza natural, ‘o aquilo’ que, lá, estava – pousado sobre uma pedra – era um Urubu. E o coitado Urubu era a própria imagem da desilusão e tristeza. Magérrimo, faminto e esquálido por não comer de há muito, reclamava da vida por ser a morte a base da sua sobrevivência. Esticou o pescoço, ergueu a cabeça, farejou o ar na busca de uma possível refeição e nada captou. Passeou o esfomeado olhar pela verdejante relva e nada viu que pudesse aplacar a sua fome! Nenhum corpo morto. Somente vivíssimos e saudáveis, a bailarem em folguedos para aumentar – ainda mais – a tristeza, a dor e todo o seu famélico sofrimento.

Uma sombra paira sobre ele e vai, gradativamente aumentando à medida que dele aproximava. Foi se aproximando até que o corpo produtor da mesma viesse perto do Urubu pousar. Pousou e ‘posudo’ saudou:
-Salve Urubu, velho de guerra!.. E aí, bicho? Que cara é essa, meu irmão?
O Urubu, volvendo cabeça e olhar, respondeu ao recém-chegado, o fardola Gavião:
-É a vida, meu!... Cara, a coisa está boa demais – para os outros, claro! Estou com uma fome brava. Há dias que nada morre por essas bandas. Tudo que é bicho está aí, veja: vendendo saúde, “batendo um bolão”. Ninguém morre, meu! A coisa para mim, (Humpf!) ‘tá feia’ – lamentou-se!
-‘Peraí, ô mané’ – retruca o Gavião!... Você tem que mudar o seu “modus operandis”! Você tem é que caçar, matar para comer comida quente que é muito mais saborosa!
-É!... Penso que você tem razão!... Mas Deus me fez assim, e não tenho como modificar as coisas feitas por Ele! A missão que me fora dada é esta: ser o carniceiro, o lixeiro, o limpador do mundo e...
-Bah – desdenhou o Gavião!... Isso é conversa fiada, papo mole de quem é incompetente para enfrentar a dura vida! E emendou com escárnio: - Babaca! Frouxo!

Em seguida, o Gavião, retira do canto do bico um palito – estrategicamente ali colocado para causar inveja ao infeliz Urubu. Queria o Gavião – com toda pompa e empáfia – demonstrar ao pobre coitado que acabara de fazer uma lauta refeição. Ato seguinte, e com incontido orgulho, diz:
-Urubu, você está vendo aqueles Gansinhos passeando na beira do lago? (Hum,  hum – recuou um pouco! Acho melhor não! Deixa isso pra lá, velho Gavião – entre risos íntimos falou para os próprios botões – pensou e desistiu!) A desistência (Vale ressaltar) em atacar os Gansinhos deveu-se ao fato de o Papai Ganso ter-lhe dado uma tremenda surra, quando de um ataque, numa frustrada tentativa de almoçar os seus filhotinhos. E esse pensamento fizera-o mudar o seu alvo de apresentação do seu egocêntrico poderio.
-Urubu, você está vendo aquela Pomba-rola à beira do lago?
O Urubu levantou a asa direita, postou-a – como se fosse uma mão sobre o bico –, assestou o olhar, vê e balança a cabeça respondendo, humílimo, que sim.
-Sim, vejo!... E daí?...
-E daí?... Pois bem! Agora, presta bastante atenção no meu modo de atuar para comer carne fresca, saborosa e quentinha. Ok, amigão?... Vamos lá!
 
 
 
Final do capítulo 3
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 27/06/2020
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