O CARACOL E O RATO
(Ct/Fáb)
Cansado de viver rastejando e carregando sua casa nas costas, na humidade e no escuro sob troncos caiados, folhas e sem rumo, o caracol decidiu se aventurar em busca de claridade, de um amigo e de um solo mais consistente, para sair da mesmice para conhecer novos horizontes. "Simples assim!"
Gosmento e fatigado resolvera tirar um cochilo ainda embrenhado no seu habitat natural, uma vez que não era de costume focar em um objetivo tão altivo e que devia ser posto em prática. Exaurido, em seu permanente silêncio, se recolheu e adormeceu no mesmo lugar, tão logo ele decidira. Nada o fustigava, embora no sonho que tivera algo o incomodava como a incerteza de como se daria essa travessia; mas, a decisão e a vontade o fortificava ao seu intento. Tentou expandir um pouco mais sua visão para situar-se. Seu único empecilho: A travessia do rio. Disse à si mesmo: - Meu esqueleto, de concha calcárea, pesa um bocado. Conseguirei atravessar? - Um tanto indeciso com o olhar embaçado, porém, em dia com os seus neurônios, pensou: - Nada me fará mudar de ideia; tenho que continuar - Lembrou-se, o gastrópode terrestre, do sonho que tivera: - Hum! Um canteiro verde, repleto de folhas tenras, cestas de frutas carnosas e adocicadas ... que delícia. - Salivava sob o sol que aquecia-lhe o juízo e tão logo caiu na real. - Destemido sou, tenho que atravessar, disse pra si mesmo, custe o que custar.
Eis que de repente, alguma coisa bateu em sua concha e uma voz rouca disse: - Para onde vais meu amigo. Estas querendo atravessar? - O caracol surpreso reerguendo suas anteninhas disse: - Estás a me seguir e/ou tivestes a mesma ideia que eu? - O rato, que também sofria de tédio por inúmeras coisas, pela escassez de alimento, no seu reino, se manifestou: - Confesso, seu molusco, que ando exausto de tanto lutar para implantar alterações para melhorias nas colônias, onde vivo, sem êxito.. Expulso fui, pela cúpula de insensatos, do reino canibal roedor e agora vivo ao relento sem mesmo ter o que comer. Estou fraco, doente, mal consigo abrir meus olhos. Estou em busca de tranquilidade, comida e um lugar, permanente, para ficar. - O Molusco achando tudo isso um tanto esquisito, dito por um roedor, mas, acreditando, dissera: - Toparias então fazer essa travessia comigo? Juntos podemos angariar forças e tentar. E ... eis que uma forte chuva começou a cair e a estrada árida, fora coberta por lama, alagando tudo, próximo ao rio - Teremos de aguardar essa chuva passar e retomaremos tão logo, amaine. - Disse o gastrópode tranquilo. Porém, o rato esperto, rapidamente, pensou no molusco, a quem deveria ajudar, na sua lerdeza e outros quesitos mais pela própria condição de um gastrópode; nem esperara a chuva passar. Tomou logo a direção oposta, enquanto o caracol cochilava, atravessando sozinho o rio, sem olhar para trás.
O caracol, horas depois, acordara sem a presença do roedor, que lhe dera esperanças de travessia, porém, tão logo a chuva passara o molusco repensou, ponderou, recolheu-se em sua concha calcárea, lançou um olhar ao rio e resignado, tomou seu caminho de volta, lento e só.