FOLHAS EM SÉPIA...

Ele sempre foi remanso. É da sua natureza.

Discreto e sereno vinha para arrefecer o cenário de sol alto e agitado, palco sempre parco de consciência, tomado pelo Hedonismo crescente dos seres pensantes.

Vinha de cima, doutrinado pelo determinismo agnóstico, aquele, que movimenta os mares, acende todas as luas, eleva os sóis das manhãs, liga, desliga e religa todas as estrelas, a fazer a Terra girar sem, no entanto,nos explicar os porquês.

Vinha acariciando a atmosfera cansada e seca, como poesia que desce a roçar as peles queimadas de vida, a umidificar os fôlegos, a soar uma canção cá e acolá pelo balanço manso de suas mãos apaziguadoras das realidades.

Vinha humildemente sacro, como é próprio do tudo que é sem precisar se anunciar, com inútil precedência, à própria existência de ser.

Vinha num tom quase vintage de tela, como a mesclar esforços de cores perdidas ao cinza da aquarela judiada e sedenta de tudo.

Ele apenas vinha como tinha de ser...

Vinha sem bagagens porque à natureza nada se traz além dum coração respeitoso...e nada se leva que não seja o necessário acalento das altruístas mãos de mãe.

Um dia ele chegou com uma missão diferente: a de tudo parar e escurecer.

Soprou sua brisa gélida, silenciosa e angustiante sobre toda a vida desvitalizada sob os soprados ventos dos tempos desperdiçados e, embora ainda como o sazonal remanso do Outono de sempre, vinha com a brava batuta de esparramar suas folhas em sépias pelos quatro cantos do mundo, para o consciente resgate da já tão fosca Humanidade.

E de repente...o milagre brotou do sépia.

Foi quando a seiva dos tempos ressuscitados de si vitalizou-se em folhas verdes, qual viçosos frutos desprendidos em redenção pelo todo e à Terra lançados sob a autoridade e o comando das horas certas...

Ao dobrar dos sinos quânticos de toda a existência, ouviu-se vozes dum aliviado passaredo a cruzar a Terra e a lhe soar em êxtase:

"-Aleluia!".