Antes de Chegar a Nós o Amor...
Há milhares de milhares de anos... Nos remotos inícios da vida em nosso planeta. Antes mesmo dos Dinossáurios existir... Naquele primeiro tempo, daquelas iniciais raças flogísticas, existia uma ilha, ao Norte. Uma ilha dentro dum único continente sobre a imensidade dum oceano, de auga primordial. Sendo aquela a ilha única, de todas as lendas, a ilha misteriosa de todas as mitologias... Aquela ilha do inicio da vida, da qual falam, ainda hoje, todas as tradições mais antigas... Aquelas tradições, cujas raizes se perdem na noite remota dos tempos...
Em essa ilha existia um único monte: o sagrado Monte MERU, o Monte Santo de essência indestrutível. Único monte, na única ilha, do único continente. Celebre Ilha que nunca chegará a fundar, por ser princípio e fim de todo os trabalhos a realizar na terra. Pois esta ilha continente é o inicio de todos os continentes, em todas as eras, em todas as raças, que já habitaram ou habitamos o azul e verde planeta.
Naquela altura, antes de na densa carne todo materializar-se, os sentimentos habitavam livremente, juntando-se a corpos etéreos, arredor da Sagrada e Esplendorosa Montanha. MERU, era pois o centro do nosso anterior universo.
Assim foi durante eons de anos. Todos aqueles sentimentos que tinham convivido com corpos etéreos, deviam agora acordar em novos copos mais fortes e densos.
Em esse tempo de mudança os sentimentos tinham de abandonar a Ilha Sagrada, partir e ver finalmente sumir no horizonte seu amado monte MERU; embargados pela saudade da despedida e embalados pela ânsiedade do por vir incerto... Mas assim tinha de ser feito; assim que quando chegou o tempo de embarcar, cada sentimento procurou construir o navio mais adequado para si. Para com ela rumar a latitudes distantes daquela maravilhosa Ilha Paraíso e, dos belos cumes nevados do Monte imponente.
Todos construíram suas barcas para iniciar a travessia indicada, pelos ventos do universo, ate uma vida nova em um novo invólucro, mais adequado para nova evolução da nossa amada Terra.
Mas o vento informou, devidamente, a todos os variados sentimentos, que somente era permitido de todas as árvores que rodeavam a ilha, cortar madeira para sua embarcação, da árvore mais grossa e alta, frondosa e dúctil. Arover de Poder que ficava chantada perto duma praia ao sul, numa baia de clima bastante temperando, dentro da frieza geral daquela ilha, hoje tão distante...
Somente poderia a madeira ser retirada desta magestuosa árvore, pois ela tinha a peculiar condição de sua cortiça ser impermeável: jamais um navio construído desta casca podia, no mar, afundar-se...
Assim os sentimentos tinham garantido chegar, apesar da difícil e dura travessia, aos novos continentes de promissão, onde os corpos dos primeiros seres humanos estavam a sua espera...
E naquele dia primeiro do inicio da construção das respetivas barcas; justo quando sol o começou a raiar depois da alvorada, todos os sentimentos aproximaram-se da árvore, com seus machados respetivos. Cada qual para colher o pedaço de tronco que considera-se necessário para construir, aquela que ai ser durante alguma semana, ia ser sua casa flutuante...
Todos com certa ânsia se aproximaram velozmente. Todos, menos o Amor, que ficara sentando na areia da praia observando...
Passou a seu lado a Inveja, que assim lhe falou:
- Ó amor! Que fazes aí! A espera de que estás? Não percebes que a Avareza na praia... Ela não vai deixar madeira que reste... Então que farás? Realmente não sei o que estás aguardando!
- Aguardo meu turno chegar - contestou o amor - Quando todos meus irmãos tenham-se já aprovisionado...
A inveja, com as pressas de não ser a última em chegar, deixou o amor ainda com a palavra saíndo de seus lábios...
E certamente a Inveja, não estava de todo errada; pois quando todos os sentimentos tinham recolhido a madeira precisa para suas barcas construir, a Avareza, com muita rapidez (antes mesmo de que o Amor pudesse incorporar-se) tinha roubado todos os restos que ficaram... Desta forma o Amor ficou impossibilitado de construir sua barca. Mesmo assim o Amor não se entristeceu, seguiu sentando observando, calmo e confiante...
Nessa altura a Vaidade se aproximou, e olhando com ar superior, perguntou com frieza para o Amor:
- E agora Amor, com pensas chegar a nova Terra Sacra, que o criador nos reservou, para ativar nos seres humanos, as nossas qualidades?
- Não sei! - Respondeu o Amor - Mas alguém de seguro vai deixar um lugar, para mim, na sua barca...
Deste jeito ficou sentando o Amor, perto, muito perto daquele local inicial, onde fazia apenas um par de horas, existia uma vigorosa árvore...
Aos poucos minutos por ali se aproximou a Altivez, que ao ver o Amor contemplando o mar, teve curiosidade por perguntar-lhe:
- Boa tarde Amor – Cumprimentou - Que fazes que não te apressuras a construir a tua barca? Dentro dumas horas a tarde chegará, e todos nós devemos iniciar nossa viagem...
- Tenho que aguardar, por aquele que me quiser consigo levar... Pois a Avareza também colheu para si, a madeira com que ia construir a minha barca...
- Pois o sinto muito Amor, mas eu não vou poder levar-te. Muitas e pesadas riquezas tenho aqui acumulado, como para deixar meus tesouros, em esta ilha abandonados... Que tenhas, pois a sorte que aguardas...
No entanto o Amor sorridente, também a Altivez cumprimentou, e ficou de novo a espera de alguém que tiver deixado um lugar livre na sua barca. Aquele que pudesse consigo levá-la
Quase ao instante da Altivez marchar, a alegre Felicidade a beira do Amor passou; mas tão ensimesmada, tão imbuída nos seus pensamentos e sonhos, que nem sequer reparou o Amor ficar ali a sua beira deitado, aguardando... E deste modo começou o dia a deixar seu local ao cuidado da tarde...
Nesse instante a Preguiça apareceu, já com sua pequena e frágil embarcação na mão, rumando para ondas do mar, devagar, muito de vagar, cansa, muito cansa... Esforçando-se em demasia para partir rumo os novos locais de novas aprendizagens... Olhou para o Amor, parou um instante, a cumprimentá-lo. Sentou-se também para descansar, muito fadigada. Com a sua fadiga lhe falou suave, muito baixinho e suave:
- Boa tarde Amor.
- Boa tarde Preguiça - cumprimentou, a sua vez, o Amor, acrescentando:- Por casualidade tu não terás um lugar livre, para levar-me na tua barca? - A Preguiça respondeu:
-Sinto Amor, sinto de coração... Mas olha: não reparas? Não vês o frágil e pequena que é a minha barca? Estava cansa de mais e não dei feito a sério meu trabalho. Tão esmagador era e tão pesado... Como podes observar, apenas eu tenho lugar para esta viagem...
Boa viagem - Despediu-se o Amor, não querendo demorar mais sua amiga cansada, sabendo da Preguiça, ainda ia precisar dum certo tempo, antes de chegar arrastando sua barca ate a beira da praia...
A tarde estava quase a finalizar, o lusco-fusco, ameaçava com fazer-se o dono das augas... O amor seguia a observar, confiante, calmo... E aquele preciso momento um elegante espectro vestido de branco, arribou junto a Amor, e com simpatia, para ele falou. Amável, muito amável:
- Olha Amor, vejo que estás ai parado, sem um sitio onde embarcar, nem madeira para uma embarcação poder fabricar, e no entanto, aparentas nem sequer estar contrariado...
- A Avareza meu tronco roubou, e finalmente não pude construir minha barca... Estou a espera daquele que seguro, me há de levar, pois deixou por se der o caso um lugar na sua barca..
- Não te preocupes Amor, eu tenho um lugar para levar-te... Falou o espectro vestido com um fato branco...
- Fico muito grato. Mas... - Amor ia sobre seu benefactor indagar – Mas este espectro elegante, apressuro a marcha, com estas incisivas palavras:
- Devemos dar-nos presa, a noite está a chegar, e temos o tempo justo, para iniciar a nossa viagem. Devemos rumar antes do Criador esta Ilha Sagrada fechar, para por nós, nunca mais ser habitada...
Foi deste jeito, que depois duma longa travessia, de várias semanas, com muito sofrimento e grandes dificuldades, o Amor aportou a nova terra de aprendizado. Chegou ao lado da sua nova amizade; tornados pela união do sacrifício, mais que amigos, camaradas...
- Prezado camarada, tenho já aqui que deixar-te - Falou, justo ao pousar o pé sobre o novo continente, o elegante companheiro do Amor
- Gostei muito de ter-te conhecido - Cumprimentou a sua vez o Amor
- Foi de grande ajuda, ter-te conhecido e comigo ter-te levado... Afinal a travessia houvesse sido muito mais longa, dura e dificultosa sem a tua ajuda - Confidenciou o espectro vestido de branco...
Depois da sua marcha, o Amor reparou, que não tinha perguntado a sua elegante amizade, qual era realmente seu nome... Tentou fazê-lo na praia, antes de partir, mas Ele o apresara. Tentou na travessia, mas sempre eram prioritários os diversos e duros trabalhos. Muitas noites, pensou perguntar, mas do cansaço adormeceu... E agora Ele tinha-se ido embora.
Estavam a chegar, naquela hora, a chegar todos os diversos sentimentos a praia. Em meio deles observou, também aparecer, voando com duas grandes e brancas assas a Deusa da Sabedoria.
A Deusa Magnánima parou acima da praia, e começou a orientar aos recém chegados.
O Amor aproximou-se dela, por ser uma duma das deusas favoritas. E sabendo que para Ela também, ele era um dos sentimentos dos que mais gostava.
- Olá amiga Sabedoria - diz o amor - Por acaso, quando tiveres um segundo, quisera fazer-te uma pergunta, tu que todo o sabes e todo respostas, se aquele que te perguntar está no momento de saber sobre o que questiona...
- Diz-me bom Amor, sabes que para ti sempre tenho um tempo livre
- Por acaso não me saberias dize-me o nome do companheiro, que me trouxe nesta viagem? Era um sentimento tão esquisito! E agora mesmo tenho dele saudades...
- Não era nenhum sentimento Amor... Em realidade, os outros sentimentos, obsessionados consigo mesmos, em ti não repararam... Mas não te apures, no seu momento, voltarás a encontrá-lo!
- Então, seu posso saber: quem ele era? - inquiriu de novo o Amor
O Tempo, Amor... Aquele elegante e magnânimo cavaleiro que consigo te levou, era o Tempo...
- O Tempo? Estranhou-se o Amor
Sim, respondeu a Sabedoria - O Tempo que tudo renova, o Tempo que tudo repara, o Tempo que sara as feridas. Tempo que sempre está disposto a ajudar-nos, quando pelo Tempo preciso sabemos com confiança aguardar. Tal como tu amor fizeste...
- Gratidão pela Informação, amiga Sabedoria
- Gratidão a ti amigo Amor!
- Mas a mim, por quê? Fui eu que perguntei
Gratidão sim a ti Amor, por que si tu não houvesses perguntado, eu nunca teria reparado, que o Tempo com o Amor sempre viaja. Por isso o tempo sempre deixa um lugar para o Amor na sua barca. Dado que o Amor, com confiança, a pesar de todo o que possa acontecer, pelo Tempo sempre Aguarda.
E assim o Amor comprendeu sua união e a Sabedoria conheceu melhor do Amor a paciência...