A Porca e a Loba de Esopo
A Loba ficou sabendo que a porca estava para parir lindos e tenros porquinhos. A espertalhona encheu-se de água na boca pelos bichinhos, mas precisava de um plano para conquistar tão apetitosa refeição. Pensou! A esperta pensou até que chegou a uma conclusão.
Colocou na cara uma expressão deslavada de irmã caridosa e dirigiu-se ao chiqueiro essa loba odiosa.
- Dona Porca, parabéns. Serão muito lindos os seus nenéns! (Nesse momento não conseguiu reprimir uma lambida nos beiços nem abafar o som de seu estômago a revelar seus desejos).
A Porca que não era uma jumenta dissimulou ao perceber que a Loba más intenções mostrou.
- Muito obrigada, irmã. Agradeço imensamente seu sincero e espontâneo elogio nesta manhã.
A Loba com os olhos brilhando e com a baba escorrendo da boca foi falando:
- A senhora não se acanhe de pedir o que precisar, pois nenhum esforço medirei para lhe ajudar.
- Muito obrigada, irmã – disse ela, – eu sei que tem uma preocupação sincera.
- Posso ajudar no que precisar agora durante o parto e depois, poderei olhar os filhotes para que possa sair, lembre-se que amigos vós sois, – disse ela tentando esconder sua verdadeira intenção – pode ficar tranquila que em boas mãos estarão – mas pensou: - estarão em boa barriga – e suspirou.
- Muito obrigada – respondeu a Porca, – mas por hora estou tranquila, isso é o que importa.
- Tenho experiência – a Loba insistiu –, já pari filhotes e ajudei outra Loba em abril. E depois do parto posso olhar os bebês. E você poderá esticar um pouco as pernas por sua vez?
A Porca vendo que ela não desistiria de seu intento disse de certo:
- Agradeço por ser tão prestativa, mas confesso que não conseguirei parir enquanto estiver por perto. Tenho vergonha assim. Você pode compreender a mim?
- Ah tá, então! – fez a loba não conseguindo disfarçar sua decepção.
- Façamos o seguinte – pôs-se a falar – você se afasta o mais que puder e depois que eu der a luz poderá voltar para me ajudar.
- Tudo bem, isso farei – respondeu – já que essa é tua lei.
- Vá para bem longe, pois enquanto sentir a sua presença não poderei parir – frisou a Porca para que não restasse dúvida ao que estava a proferir.
E assim a Loba fez e a Porca por sua vez, pariu 10 lindos porquinhos e tratou de arrumar um lugar seguro para ficar com seus filhotinhos.
Moral da história: Não permita que um predador lhe preste auxílio, nem deixe que tome conta de seu filho. Se aquele que tem fama de mal e devorador, de repente aparecer com um discurso persuasivo querendo se fazer de protetor e salvador, não espere pelo que ele prometeu, não lhe dê voto de confiança e o mantenha bem longe de você e dos seus.
Aberio Christe - adaptado da Fábula de Esopo.