A LENDA DA IARA.

Quando a noite caiu e o sol morreu no horizonte, num dos braços do grande Amazonas, emanava um doce perfume de jasmim. O jovem indígena xavante, Anuerê, forte e esguio, aspira o odor trazido pelo vento. Fosse um curumim, iria pra tribo, com medo de onça. Já tem dezesseis janeiros e hormônios em ebulição. Ele olha pra Jaci, a lua brilhante e imponente no firmamento. Arco e flecha nas mãos. Um canto ao longe. O índio franze a testa e apura os ouvidos. Ele vai em direção ao igarapé. A mão em concha pra beber um pouco de água. Vai se afastando da aldeia. Anuerê brinca com os peixinhos da margem. Parecia ouvir o conselho da mãe. -" Não demora, filho. Tem sopa de Iurará." Ninguém fazia sopa de tartaruga igual a velha Juraci. O jovem ouviu o canto mais perto. Era lindo. -" Se escutar a mãe dágua, foge!!! É linda mas é a morte!!! Fica e ela te leva pro fundo do grande rio gigante!!!" Também aconselhavam os anciãos. Anuerê sempre achou que aquilo era lenda, coisa pra botar medo em curumim bobo. Ele deixou o arco cair. O coração bateu rápido. Os olhos saltaram e os lábios se abriram. Um suspiro. Um cantar mágico, doce. Deitada no areial, os cabelos longos se misturavam aos cipós e as flores. Anuerê a viu, de costas. Um corpo perfeito. A corrente lhe banhava as pernas torneadas. Ela estava nua. De vez em quando ela ajeitava os cabelos, negros como a noite. Anuerê caiu de joelhos, admirando aquela beleza sem igual. A índia virou suavemente o pescoço. Um sorriso saiu daqueles lábios carnudos. Uma piscadela. O indígena está fisgado pelo amor. Ofuscado. Contemplativo. Embasbacado. Uma brisa fresca, gostosa. A índia se levanta. Anuerê encantado. Munusaua. Munusaua. Essa palavra surge em sua mente. Morte. Morte. -" Saiam da minha cabeça!!! Ela é real e é linda!!! É minha!!!!" Disse a si mesmo, em pensamento. A índia sorri. Estende a mão ao jovem. Ele se aproxima. O coração parece que vai saltar pra fora. Ela o beija, sutilmente. Ela canta só pra ele. -" Tenho frio. Seu amor poderá me aquecer!!!" Ela entra na água e ele a segue. Ela tem um rabo de peixe agora!! Os dois em meio as vitórias-régias. O sol estava alto quando Juraci deu falta de Anuerê. -" As aves não cantaram hoje!!!!" Isso é sinal de mau agouro. O pajé reuniu os homens. Algumas dezenas deles desceram o rio, em canoas. Olhavam as margens. Outros foram pra mata. Acharam o arco no areial. Os homens seguiram a correnteza. Os homens gritam pelo xavante O corpo de Anuerê é encontrado, entre cipós da margem do rio, coberto de gramíneas. Há marcas de mordidas de piranhas. A tristeza se abateu sobre a aldeia. Juraci olha o grande rio, enquanto vela o filho. -" Iara o pegou!!!! Iara o pegou!!!!" FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 10/11/2019
Reeditado em 12/11/2019
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