O peba que se acha pavão
O tatupeba (mais conhecido em minha terra por peba simplesmente) possui coloração amarronzada. Sua carapaça contém poucos pelos. Com seis ou oito cintas de placas móveis, a cabeça é achatada em formato cônico. Trata-se de bicho rasteiro. Porém, não raras vezes, aparece em árvores. Quem o colocou lá? Só Deus sabe!
Aqui acolá, dialoga com a formiga. Esta - sempre ocupada - possui rotinas, horários e trabalhos a cumprir. Ele, por outro lado, permanece na toca durante o dia, saindo à noite em busca de alimento.
O problema é que a formiga gosta de trabalhar. No auge da concentração, chega o peba e diz compassadamente para ganhar tempo - já que não dispõe de conteúdo teórico ou prático que viabilize uma discussão:
-"Oh formiga, tudo bem?"
Esta nem consegue responder e o peba mesmo responde:
-"Tá tudo bem. E tudo fica bem. E tudo se resolve…"
Peba faz questão de dizer o nome, sobrenome e apelido da angustiada formiga.
E o tempo passa nesse monólogo absolutamente irrelevante. Meio sem assunto, peba começa a fofocar. O assunto é quase sempre o mesmo: falar mal do escorpião que, na verdade, é um rato! O pior: pensa que o carcará é grande amigo. Formiga tenta se livrar de tudo isso, sem êxito.
E o peba é vaidoso. Não tem o mínimo senso do ridículo. Vive do seu passado. De haver sido colocado em árvore. Inclusive, orgulha-se do fato. Não é, contudo, de índole má.
O problema não é exatamente o fato de o peba ter sido colocado em árvore, mas os dogmas “consensuados” as condutas supostamente irrefutáveis, os preconceitos postos no topo das árvores. A (ousada) pergunta que não quer calar: não há vivente com coragem para retirar esse tipo de bicho das copas?
Do livro: PRINCÍPIO DO FIM.
@engenhodeletras