OS EUCALIPTOS E O OLHO D'ÁGUA
Quando a pequena capivara foi saciar sua sede no olho d'água, ele chorou, porque já estava quase seco. E a capivara lhe perguntou o que estava acontecendo, cadê sua água maravilhosa?
O olho d'água muito triste, e inconsolável, respondeu:
– Estou no fim, por causa desses pés de eucalipto. Eles estão secando o solo, bebem água demais. Logo, logo sumirei de vez.
O grande eucalipto olhou para o olho d'água e respondeu zangado:
– Alto lá! Não pode nos responsabilizar pelo seu fim. Afinal, se morreres, também ficaremos prejudicada, pois de onde vamos beber água? Quem te disse esse absurdo.
E o olho d'água falou:
– Você não ouviu? Vieram uns homens aqui, e eles disseram que vocês consumiam muita água, por isso, eu estou morrendo, e nada poderá me salvar.
E o eucalipto:
– Óbvio que não. Isso é pura ignorância. O que destrói o olho d'água é o desmatamento para aumentar as áreas de produção; as queimadas feitas sem nenhuma moderação; o número excessivo de animais criados na beira dos rios; as estradas construídas desordenadamente nas áreas de encosta; os loteamentos sem planejamento e a falta de reflorestamento.
Esse negócio de nos culparem de tudo, é só mania. Porque nós eucaliptos, não retemos tanta água, e absorvemos mais água em época de chuva do que na seca, e nossas raízes não chegam até os lençóis freáticos, logo consumimos bem menos água que muitas outras plantações.
Também, não deixamos o solo mais pobre, porque quase tudo que tiramos, nós devolvemos após a colheita, em cascas, folhas e galhos que tem bastante nutrientes, e voltam para a terra como matéria orgânica.
O olho d'água se manifesta:
– Mas, vocês são conhecidos por criarem desertos verdes.
O eucalipto;
– Não meu amigo! Não criamos deserto. O único problema é que se não nos plantarem da forma correta, aí sim, a água pode se esvair. Mas, não nos culpe, porque quem faz essas coisas erradas são os humanos, que tem uma ganância sem tamanho, e fazem tudo sem pensar no amanhã, visando apenas o agora.
A capivara concordou, com a cabeça:
– Verdade. Eles não são como nós, pelo contrário. Cada vez mais invadem as matas, e daqui a pouco não teremos nem onde morar. É triste ver essa ambição desmedida, pois esse planeta é tão grande, que dá para todos nós vivermos bem, mas, eles não deixam.
E o olho d'água se manifesta:
– E eu amigos? Será que vou deixar de existir? Eu gosto de molhar a terra, saciar a sede dos animais, sentir as gotas de chuva caindo em mim, e aumentando a minha quantidade de água. Eu não quero partir, quero continuar aqui, no meio da terra, deixando-a úmida e gostosa para as plantas.
E o olho d'água chorou. Suas lágrimas começaram a descer. O eucalipto sentiu uma tristeza imensa, e também a capivara.
E naquele instante, uma tempestade começou, e durante dias a água da chuva se embrenhou pela terra, e encheu o olho d'água de esperanças, e também os eucaliptos e a capivara.
E todos sonharam com dias melhores.
A chuva foi tão forte, que o olho d'água pode novamente se sentir privilegiado pelo seu papel naquelas terras.
E o grande eucalipto, o olho d'água e a pequena capivara se tornaram amigos.
A capivara ficou tão feliz com a salvação do olho d'água, e em saber que o eucalipto não era um vilão maldoso, e sem escrúpulos, que resolveu trazer toda a sua família para conhecer seus novos amigos: o eucalipto e o olho d'água.
E as crianças se empolgavam com as histórias e os ensinamentos passados pelo grande pé de eucalipto, com suas folhas tão cheirosas, que deixava todo o lugar com um aroma especial; e pelo precioso olho d'água, com sua água sempre tão geladinha, límpida e saborosa.
E assim, a vida continuou feliz por muito tempo naquele belo lugar.