O DISSE ME DISSE DO GALINHEIRO

Como sempre, o galinheiro já amanhecia numa algazarra só. Era só dona Juvência entrar para colocar o milho e pegar os ovos, que todos começavam aquela confusão. A disputa pelos grãos de milho e a teimosia de algumas galinhas que não queriam entregar seus ovos acabava se transformando em uma grande balburdia.

Emengarda foi chegando próximo a comida, e já empurrando as amigas, dizendo na maior cara de pau:

– Afasta! Afasta! Preciso me alimentar! Estou fraca! - as outras olhavam para a gorda galinha e a xingavam.

Bartolomeu se aproximou e foi logo gritando:

– Para com isso Emengarda! Tu tá é gorda demais. Se continuar assim, vai acabar é na panela. Para de querer tudo para ti. Todo mundo aqui precisa comer.

Emengarda arregalou seus olhos, fez cara de mau, balançou as cadeiras e foi logo respondendo o galo, no mesmo tom:

– Você me respeita Bartolomeu! Sou uma galinha aqui de grande valor. A melhor reprodutora de ovos. Ninguém mexe comigo não. Sou a preferida da dona Juvência. Nunquinha que ela vai me colocar numa panela. Tenho mais valor que ouro.

As outras galinhas riam disfarçadamente, e Bartolomeu quase cai para trás na sua risada. E respondeu:

– Tu é muito louca mulher. Desde quando tu vai valer mais que ouro.

E saiu rindo e debochando da gorda Emengarda, que ficou possessa, com tamanho atrevimento daquele galo.

E saiu muito injuriada dali, e voltou para o seu ninho, para maquinar uma vingança contra aquele velho galo, que só sabia ofendê-la. Ele que não perdia por esperar, pois pagaria bem pago. E foi colocar a cachola para funcionar.

Foi aí, que dona Juvência, ganhou um lindo e jovem casal de galo e galinha, de uma raça diferente, e logo colocou eles no galinheiro.

Dona Juvência era uma dona de casa que já beirava seus sessenta e cinco anos, e criar galinhas para ela, era a maior diversão.

Acordar cedo, ir jogar milho para as esfomeadas, ver elas correndo desesperadamente atrás dela, fazendo aquela algazarra, e depois ir juntar os ovos das mesmas, era um dos maiores prazeres que ela tinha.

Só perdia, para o fato de cozinhar. A mulher queria colocar ovo em tudo, era uma apreciadora nata do produto.

O que ela não gostava muito era de comer suas galinhas, pois eram como filhas para ela. Cada uma tinha um nome.

Então, se quisesse fazê-la feliz, era lhe presentear com um galo ou galinha. A mulher ficava numa satisfação só. Imagina com um casal.

Os novos moradores chegaram um pouco tímidos, e por serem diferentes, ficaram mais desconfiados ainda.

Bartolomeu, que se achava o chefe do galinheiro, foi logo se chegando para cumprimentar os dois e se apresentar como o capitão do galinheiro.

Os dois recém-chegados, escutaram o velho galo, mas somente balançaram a cabeça, não falaram nada. E se afastaram, deixando o pobre Bartolomeu indignado com a falta de educação.

Emengarda vendo toda aquela cena, logo maquinou sua vingança. E foi procurar Jussara, a galinha mais fuxiqueira do galinheiro. Jussara falava de todo mundo, ninguém escapava da sua língua ferina. Ela já estava velha e era muito feia, e morria de inveja de muitas galinhas.

Emengarda disse:

- Jussara, não devia, mas tenho que te contar uma coisa. E só falo para ti, porque sei que é de confiança.

Jussara arregalou logo os olhos, e se ajeitou para escutar. Amava um bom fuxico.

– Então, diz Emengarda. Tu sabe que sou um túmulo. Me contou, morro com a história.

E Emengarda continuou, com o seu sorriso malicioso:

– Menina, tu viu o casal novo que chegou?

Jussara balançou a cabeça em afirmativa, e respondeu:

– Se vi! Diferentões!! Achei um pouco estranho. A fêmea não tem cara de ser boa de colocar ovos não.

– Pois é Jussara. Mas, parece que o galo veio para tomar o lugar do Bartolomeu, porque ele já está velho, nem canta mais direito. Tem perdido o nascer do sol, só acorda tarde. E como reprodutor, está acabado. Acredita? - Emengarda, fazia cara de sonsa, e esperava a reação da colega.

Jussara arregalou os olhos, e colocando as asas na cabeça, horrorizada, falou:

– Meu Deus!! Não acredito! Coitado do Bartolomeu. E ele vai para panela?

E Emengarda fez cara de tristeza, e balançou a cabeça em afirmação, e continuou:

– Mas, não antes de levar uma pisa do novato, que disse que vai acabar com a raça dele. Vai servir só para caldo.

Jussara ficou mais indignada ainda. E fez cara de muita preocupação, dizendo:

– Amiga, estou abismada, que tragédia. Mas, se preocupa não, que não pretendo contar para ninguém. Coitado do velho Bartolomeu.

E Emengarda feliz com a confusão que tinha começado, foi se saindo de fininho. Alguns minutos depois, olhou para trás, e notou que Jussara já tinha se mandado para espalhar a história por todo o galinheiro.

Logo todo o galinheiro já sabia da surra que Bartolomeu ia levar, e o mesmo não gostou nem pouco. Foi logo de encontro ao jovem casal, e já chegou aos berros:

– Olha aqui seu galinho de meia pataca, tu não é páreo para mim não. Se tu pensa, que vai chegar aqui de fora, com toda essa pomposidade, e tomar meu lugar, e ainda ameaçar que vai me dar uma surra, tu tá muito enganado meu amigo. Não estou aqui à toa não.

E antes, que o jovem galo pudesse falar, Bartolomeu baixou a sarrafa no garoto, que tentava se defender sem muita destreza. Enquanto a sua companheira, gritava para tentar ajudá-lo.

Nesse meio tempo, dona Juvência chegou com o seu marido no galinheiro, agarraram Bartolomeu e o outro galo, que já estava muito machucado, gritou com o velho galo, e o levou para prendê-lo numa gaiola separada do galinheiro para o mesmo se acalmar.

E levaram o outro galo para tentar curá-lo. Dona Juvência estava muito zangada, pois aquilo nunca acontecera no seu galinheiro.

Quando em fim, os humanos saíram do lugar. A jovem franga chorava sem parar, e Emengarda se aproximou dela para saber o porque do choro. Só aí, entenderam, que o jovem casal não se achavam superior, o fato é que nem entendiam a língua daquelas outras galinhas, pois tinham vindo de outro País.

Depois, Emengarda se sentiu arrependida pela confusão que começou. E quando finalmente, trouxeram Bartolomeu e o jovem frango de volta para o galinheiro, ela foi pedir desculpas a ambos, pois estava muito arrependida.

Bartolomeu ralhou com ela e com Jussara, porque disse que um pequeno fuxico, pode se transformar em uma grande desgraça. Que elas pensassem mais antes de espalharem histórias mentirosas.

As duas ficaram cabisbaixas.

E Bartolomeu por fim, falou:

– E parece, que a filha de dona Juvência vai casar, e vão fazer uma grande festa. E vão precisar de muita galinha para alimentar o povo.

E as galinhas todas saíram em desespero, correndo de um lado para o outro do galinheiro, enquanto Bartolomeu ria que se espocava.

E depois, se apresentou novamente, ao novo casal de frangos, que dessa vez tentaram ser mais receptivos, e começaram a tentar entender o que os outros moradores do galinheiro falavam.

E tudo voltou a ser como era antes no velho galinheiro.

Mas, Jussara e Emengarda agora pensavam bem melhor, antes de começar um fuxico.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 14/07/2019
Código do texto: T6695774
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.