AS SERIEMAS

Sará, Sirí e Soró são três amigos que nunca estão só, pois desde que nasceram, andam e fazem tudo juntos. São inseparáveis.

Vivem numa grande fazenda de gado, e passam o dia todo a brincar. Correndo pelo pasto, e se alimentando dos insetos e parasitas que rondam os bovinos e equinos do lugar.

Apesar de saberem voar, eles gostam mesmo é de correr. São pernaltas; pés pequenos; asas curtas, arredondadas e reforçadas; uma cor acinzentada que a ajuda a se camuflar na vegetação; unhas grossas e vigorosamente curvadas; cabeça grande; olhos azulados; um bico forte e avermelhado e uma plumagem na cabeça.

São animais selvagens, e que atacam os humanos se sentirem coagidas.

Apesar de tudo, são muito úteis para os homens, pois comem entre outras coisas, insetos, cobras e roedores. Ajudando assim, em demasia, tanto o ser humano, como o gado que sofre com os parasitas que lhes incomodam.

Sirí é o mais alegre, toma a frente de tudo. Sempre metido a corajoso, e é quem mais tem ideias.

Sará é mais tímido, prefere só ouvir e seguir os amigos.

E Soró, gosta de aprontar. Correr atrás dos roedores até eles cansarem. É energia pura. Depois, captura-os em um pulo, e os bate em uma pedra, até poder comer o mesmo.

E assim, entre disputas de corridas pelos pátios; apostas para saberem quem chega mais perto da casa dos humanos; e quem mais consegue capturar presas é a vida desses três amigos, que vivem felizes e alegres o tempo todo.

Um dia ouviram falar que novas seriemas haviam chegado ao local, e que tinham se estabelecido no lago, próximo a casa principal.

Apesar das seriemas serem selvagens, os humanos têm um grande respeito por elas, devido ao fato de serem grandes predadores de insetos, cobras, lagartos, rãs e roedores, o que é de grande valia para os moradores do campo.

Os amigos não aguentaram a curiosidade, e correram para conhecerem os novos habitantes do lugar.

Chegaram numa correria tão grande que na hora de parar, esbarraram uns nos outros. E ficaram lá, há alguns metros de distância só prestando atenção.

O grupo era grande, e entre eles tinham machos, fêmeas e alguns filhotes. Mas, não pareciam ser muito de conversa.

Sirí, como o chefe do trio, foi o primeiro que se aproximou de um dos machos que parecia ser mais velho, e se apresentou:

– Olá!! Sejam bem-vindos! Moramos aqui, e viemos lhes dizer que aqui é um excelente lugar para morar, e que estamos honrados com a chegada de vocês!

O velho seriema, o olhou com desprezo, e só balançou a cabeça, saindo em seguida, lhe virando as costas, como se não desse a mínima para eles.

Soró viu a cena e ficou chocado, que bicho mais mal educado, disse ele. É melhor sairmos daqui amigos. E Sirí concordou com a cabeça.

Mas, quando iam se virando, Sará deu de cara com uma jovem e bela seriema, com lindos e brilhosos olhos azuis, que sorriu para eles, e falou:

– Olá!! Sou Graciela!! Desculpem os meus parentes, eles são um pouco desconfiados a primeira vista!! - E abriu um lindo e doce sorriso, que deixou os três jovens deslumbrados com tamanha beleza e doçura. E babando por ela.

Sirí respondeu:

– Então seja muito bem-vinda, minha bela Graziela!! Teremos muito prazer de mostrar tudo por aqui. Deixe que nos apresentemos primeiro. Eu sou Sirí! E estes são Soró e Sará!!

Soró logo a cumprimentou, e quase não solta sua asa. Sará, apenas balançou a cabeça muito envergonhado. E Graziela sorriu para os três, se dizendo, encantada.

Ela então perguntou:

– São irmãos? - sempre com um jeito bem meigo, que magnetizava os rapazes.

Sirí respondeu de pronto:

– Na verdade, somos só amigos! Mas, como nascemos aqui, sempre andamos e brincamos juntos. Nunca nos separamos.

Ao que Soró completou:

– Sim, verdade. Nunca nos separamos. Somos unidos.

E Sará novamente concordou com a cabeça.

– Que coisa linda!! Amigos unidos! Adorei! - disse ela já dando uns rodopios para que eles a acompanhassem com o olhar. E continuou:

– Meninos, eu gostaria muito de conhecer tudo por aqui. Me fariam esse favor?

Ao que Sirí, sempre a frente respondeu ligeiro:

– Com certeza linda dama. E não será nenhum favor, e sim um grande prazer de todos nós. Conhecemos as melhores paragens aqui para pegarem alimentos e tudo mais.

– Sim, sim! - completou Soró, sempre agoniado.

Ao notar que Sará não tinha dito nada, pois além de muito tímido estava completamente enfeitiçado com a jovem seriema, ela o tocou na asa, e falou com a voz suave e musicalizada:

– E você Sará? Não vai querer me levar para conhecer a fazenda? - e piscou os olhos para ele.

Sará quase desmaia, nunca tinha visto algo tão primorosa e amável. E finalmente, um pouco gago, respondeu:

– Com com com certeza!! Irei também!!

E ela sorriu, e se afastou dos três, dizendo que na manhã seguinte esperaria por eles.

Os três todos ouriçados com a jovem, ficaram a apreciando se afastar.

Retornaram para casa, e apesar de não discutirem o assunto, cada um no seu âmago, pensava na esplendorosa seriema. A primeira paixão dos jovens rapazes.

No dia seguinte eles não se aguentavam de tanta ansiedade para reencontrar a fascinante jovem, e logo cedo partiram ao seu encontro.

Sará, Sirí e Soró puxavam Graziela para todo lugar, riam e se divertiam. Cada um queria mostrar mais novidades, ficar mais perto dela, era uma disputa acirrada, e a seriema era só simpatia com eles.

A partir daquele dia, surgira uma certa disputa entre os amigos, eles já não se olhavam da mesma forma, pois todos queriam conquistar a graciosa Graziela.

A amizade parecia estar se dissolvendo, e a cada dia que se passava, mais distantes eles ficavam. E a seriema, fazia questão de ser um doce com cada um deles.

Soró parecia ser o mais enfeitiçado por todo aquele charme. Até que Graziela saiu apenas com Sirí, e os dois passaram um dia maravilhoso, enquanto Soró e Sará, não entenderam o porque do sumiço do amigo, pois aquilo nunca havia ocorrido antes.

Eles entristeceram, e o procuraram por todo lugar, e de repente se sentiram traídos. Já não parecia mais existir confiança entre eles.

No dia seguinte, Graziela saiu com Soró, e Sirí e Sará também acharam estranho, porque o amigo os abandonara.

Naquela noite, Sará começou a repensar a amizade deles, e passou a noite em claro.

Logo cedo, Graziela surgiu para Sará, e o convidou para ir passear com ela. Sará olhou para aqueles lindos e flamejantes olhos azuis, e perguntou:

– Eu vou, mas primeiro me diga uma coisa Graziela?

A garota se assustou com Soró, pois ele sempre fora o mais apaixonado, e ela nunca esperou nenhuma reação dele, ainda mais por ser tímido, e nunca falar. E disse:

– Pergunte Sará! - ela estava um pouco sem jeito, pois estava acostumada a só ela falar e mandar.

– Eu queria saber, se você gosta de forma especial de algum de nós três? Se tem intenção de ficar com um de nós. - Ele a fitava com seriedade, como nunca tinha feito com ninguém. A preocupação tomara conta de seu rosto.

Antes que ela respondesse, Sirí e Soró chegaram, e perguntaram o que estava acontecendo. E Sará logo disse:

– Meus amigos, estou perguntando a seriema, se ela tem interesse em algum de nós.

Os amigos ficaram sem palavras e logo quiseram defendê-la, mas, Sará, pela primeira vez na vida, se impôs, e não deixou que eles continuassem a falar. Pediu que se calassem, para ouvirem a resposta de Graziela, que já não tinha aquele doce sorriso no rosto. Ao que ela respondeu:

– Não! Não tenho interesse em nenhum de vocês. Mesmo porque tenho um namorado na minha casta, e não nos misturamos. Eu só queria ver até onde a amizade de vocês seria mais forte que o meu charme. E me admirei, de você Sará, que parecia o mais apaixonado por mim, ser o primeiro a se manifestar. Bem, vou indo. Não temos mais nada o que conversar. E a jovem saiu faceira, a se balançar.

Sirí e Soró olharam abismados para o amigo, e perguntaram o que tinha acontecido. Ao que ele prontamente falou:

– Meus amigos, nos conhecemos desde sempre. Somos unidos, nunca discutimos por nada sério. Adoramos correr, brincar, disputar, e de repente senti que tudo isso estava se esvaindo, e notei que o veneno vinha da coisa mais bela ao nosso redor, então resolvi analisar bem, para saber se valia a pena, perder meus melhores amigos, por uma seriema, que nem sei direito quem é, e conclui que tinha que confrontá-la, para saber se realmente o fim de nossa amizade era necessário. É lógico que um dia iremos nos apaixonar e constituir famílias, mas será que não podemos continuar amigos, mesmo assim?

Sirí e Soró ficaram impressionados com o amigo, o abraçaram, e compreenderam que a amizade deles tinha um valor bem maior, e que não poderia ser destruída desta forma.

E ficaram tão felizes que deram seus gritos de vitória, que se espalhou por todo o cerrado, tanto que chamou a atenção de todos das redondezas.

E desde então, entenderam que a amizade deles era sincera e preciosa, e que se mais alguém quisesse fazer parte da vida daqueles jovens, deveriam primeiramente aceitar seus amigos/irmãos, pois eram como uma família.

E quando estiver caminhando pelo cerrado, ainda pode ver e ouvir os três inseparáveis amigos: Sirí, Soró e Sará, a se divertir naquele lugar.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 14/07/2019
Código do texto: T6695772
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