SOPA DE PEDRA

Há muitos anos, quando o cristianismo era dominante por toda Europa, jovens e velhos peregrinos enxameavam pelas estradas, mas as aldeias nem sempre os acolhiam por serem tempos de vacas magras, colheitas frustradas, doenças até então incuráveis que esses peregrinos serviam de vetor uma vez que eram mínimas as noções de higiene.

Os banhos eram raríssimos e quando ocorriam, vestia-se a mesma roupa surrada e suja.

Era comum verem-se animais e humanos beberem água nos mesmos tanques sob chafarizes daquelas praças no centro das cidades medievais.

Os cronistas daquela época contam que numa tarde excepcionalmente fria, um jovem peregrino tentou abrigo num povoado, mas o pessoal não lhe deu atenção.

Sem se abater, o jovem fez uma pequena fogueira e com parte dos galhos que conseguiu juntar, improvisou o tripé para colocar o caldeirão.

Enquanto lavava os três seixos que apanhou perto do chafariz, o rapaz falava alto como se estivesse conversando com alguém invisível:

- acho que esses seixos são de bom tamanho para prepararmos a sopa de pedra... vou encher o caldeirão, porque se aparecer alguém necessitado eu poderei dividir até com mais de uma pessoa.

Coletou também folhas de urtiga e de azedinha que nasciam entre as pedras do chafariz e foi para o centro da praça, atiçou o fogo e colocou o caldeirão no tripé com as pedras e as folhas picadas.

A notícia da sopa de pedra correu rápida entre os moradores e muitos deles vieram conferir de perto.

- O irmão está fazendo sopa de pedra? – Perguntou uma velha enrolada no xale grosso de lã.

- Estou sim, santa irmãzinha.

- E é boa?

- É um néctar dos deuses. Experimente um pouco. (E deu um pouco do caldo na concha)

- Está insossa!

- É porque eu não tenho sal, se a senhora tiver, pode trazer que lhe darei uma tigela.

A velha foi para casa e além do sal trouxe batata.

Ouvindo da conversa entre os dois e na esperança de também ganhar uma tigela da sopa, outra pessoa trouxe cebola, a outra trouxe fatias de bacon, outra um bom punhado de cevada, outra trouxe alho, outra trouxe couve e cenoura ...

Com o cheiro do cozinhado se espalhando pela praça, alguém trouxe pão e por fim, todos ganharam uma tigela de sopa com um pedaço do pão.

Quando só restavam as pedras no fundo do caldeirão a velha perguntou e o que fazemos com as pedras, irmão?

O peregrino respondeu:

- jogamos fora porque elas já cumpriram sua missão que era de ensinar a todos que se nos juntarmos e contribuirmos com o pouco que temos, todos terão suas necessidades satisfeitas.