Mi menor

Era a terceira vez que tentava e o som não parecia bom o suficiente. A noite estava quente e as mariposas voavam em torno da lâmpada enquanto a fumaça do cigarro de Joey irritava seus olhos. Ele queria dizer algo através de seu violão, mas seus dedos gaguejavam. O seu velho parceiro era seu inimigo naquela noite. O jovem de 28 anos apoiou seus pés no toco de madeira à sua frente e pôs seu instrumento de lado.

Eles o esperavam lá dentro, mas ele estava bem ali fora. Eles queriam ouvir algo para alegrar o coração, para exaltar a alma, para inflamar seus sentimentos, mas nada havia no coração de Joey além de tristeza e frustração.

Ele queria dizer. Ele queria compor. Ele queria berrar toda a beleza da jovem que havia conhecido mais cedo naquele dia. Meg era seu nome e era filha do patrão daquela noite. Enquanto caminhou pelo salão o pequeno homem com um violão nas costas e roupas empoeiradas não pareceu impressioná-la, mas ao som de seus passos a mente de Joey se calou. De repente nada mais importava: suas viagens, os caminhos dolorosos de cidade em cidade, as mulheres que havia levado para a cama, suas músicas, todo o trabalho interminado, seus pecados, sua alma imortal. Tudo apagado por uma dúzia de passos, tudo completamente destruído em alguns segundos. A morte no deslumbramento.

Joey soube quase imediatamente, ainda um pouco mergulhado no torpor, que não havia espaço para ele nos olhos daquela mulher. Ela era um troféu que apenas os melhores carregavam em seus braços e Joey era apenas... uma mariposa, perseguindo uma luz que apenas o queimaria.

E por isso seus dedos gaguejavam. Joey abaixou os pés, apoiou os cotovelos nos joelhos e abaixou a cabeça, deixando seus cabelos castanhos tamparem seu rosto tristonho. O fio estava para se arrebentar, a corda que o segurava e impedia que a escuridão o engolfasse pendia por alguns fiapos preguiçosos. Talvez fosse hora de admitir, dizer em voz alta para si mesmo:

Ele não era um bom músico.

Houve um sonho certa vez.

Quão real havia sido no início e quão real era agora? Quão forte ele seria diante do maior dos obstáculos? Talvez fosse a hora de desistir, talvez hora de voltar. Mas para onde? Ele havia apostado tudo em si mesmo e em seu talento, talvez alto demais.

Seus dedos gaguejavam e os estilhaços de um sonho começavam a cortar.

A música mais bela para a mais bela das criaturas. Onde estava ela? Em algum lugar ela já existia. No infinito universo dos infinitos conjuntos de notas ela já esperava, talvez ansiosa para vir.

Mas seus malditos dedos gaguejavam! Seu maldito talento o traía!

A corda estava irremediavelmente rompida. A escuridão estava lá, sorridente, abraçando feliz seu mais novo parceiro.

A porta à sua esquerda se abriu e seu patrão daquela noite perguntou com um toque levemente impaciente na voz:

- Joey, você está bem?

- Sim, senhor, - Joey ergueu o rosto e sorriu com dentes levemente amarelados pela nicotina - estarei lá em alguns minutos.

Talvez o patrão tivesse visto algo estranho, algum traço de escuridão, talvez até mesmo algo familiar, pois disse de maneira mais branda:

- Tudo bem. Já estamos prontos para você.

Joey aquiesceu.

Apagou o cigarro e com seus dedos inúteis alcançou seu violão inútil e caminhou para dentro.

Era tudo uma perda de tempo, um meio para fim nenhum. Um maldito meio longo demais.

O ambiente lá dentro era escuro e abafado, o bar estava razoavelmente cheio, preenchido com risadas, sussurros, beijos, abraços, fumaça de cigarros, bebidas e Meg, sentada em um canto escuro com um belo homem. Joey não olhou para lá uma segunda vez. Foi até o balcão e pediu uma dose dupla de uísque. Cowboy. Logo em seguida pediu outra, On the rocks, e levou consigo para o palco.

Sentou-se no banquinho, posicionou o copo no amplificador, ajustou a altura do microfone e o testou. A música silenciou, as pessoas silenciaram e o olharam com um misto de desprezo e expectativa, como geralmente acontecia. Foi a vez de testar o violão: tão afinado quanto sua idade permitia.

Joey não disse nada, simplesmente tocou, e com seus dedos gaguejantes alegrou corações, exaltou almas e inflamou sentimentos.