O LEÃO O CASCAVEL O SAPO
E O COELHO
 

(Saudoso Felix Duque – um velho amigo
Negro analfabeto e sábio)
 
 
       Era uma vez um leão, um cascavel e um sapo que moravam na mesma casa. Os três amigos eram muito unidos. Acontece que muito longe dali vivia um coelho com a família sem moradia. A mulher do coelho a dona coelha vivia enchendo o saco e torrando a paciência do nosso coelho dizendo:

        - Olha coelho: a bicharada toda tem uma casa para morar, mas você é o único que não tem uma toca para se esconder. Você é um preguiçoso, uma vida mansa, um folgado é que você é... O João de Barro tem até uma casinha de barro no arvoredo, o tatu bola tem um buraco na floresta, o sabiá tem um ninho, o morcego tem uma caverna e os homens têm uma morada de madeira. Então, o coelho ficou muito aborrecido com a esposa e lhe disse:

        - Olha mulher: eu não tenho uma casa porque eu não quero. Na hora que eu quiser eu consigo. Ai a dona coelha lhe respondeu:
        - Eu pago pra ver! Você não tem nem coragem de trabalhar? Quanto mais de adquirir um casebre? 
 
        Ouvir isso foi á gota d’água que o amigo coelho esperava. Pegou um bornal, colocou as suas coisas e saiu mundo a fora... Andou, andou e andou mais até que chegou a noite e ele não tinha onde se agasalhar para dormir. Foi ai que ele viu uma fogueira acesa em uma toca e resolver pedir uma noitada. A toca era do amigo leão, do amigo cascavel e do amigo sapo. Então, o coelho bateu na porta de bananeira e pediu uma dormida ao sapo:

        - Amigo sapo: eu posso passar uma noite aqui com você? O sapo, então, lhe respondeu:
        - Por mim tudo bem, amigo coelho. Agora você tem que ver se o amigo leão e o amigo cascavel também lhe aceitam aqui? O amigo cascavel que estava em casa lhe respondeu:

        - Não vejo nenhum problema em lhe aceitar entre nós. Agora você tem que ver se o amigo leão também lhe quer aqui? Mais tarde quando o leão chegou á toca veio logo á notícia dada pelo sapo:
        - Olha amigo leão: esse é o amigo coelho que deseja passar uma noite entre nós. Eu e o amigo cascavel concordamos sem nenhum problema. Afinal de contas uma noite só é pouco tempo e não vai nos custar nada. E se a gente um dia estiver no lugar dele, também vai querer ser aceito por um desconhecido em sua moradia. O leão, então lhe respondeu:
        - Por mim tudo bem, pode dormir.
 
        Todos sabem da fama do nosso amigo coelho. Nos bastidores da floresta o coelho é tido como o mais esperto, o mais sagaz, o mais ardiloso e o mais astuto dos bichos. O coelhinho põe no bolso a onça, o macaco e os demais animais. Digamos que o coelho seja o político dos nossos dias entre a bicharada. Então, os amigos o leão, o cascavel, o sapo e o coelho se reuniram em volta de um foguinho no meio da toca. Tudo estava muito bem... Até que o coelho começou a resenhar e pegar no pé do sapo:

        - Eu acho que o amigo leão é homem, o amigo cascavel também é homem, mas o amigo sapo? Deixa a duvidar! Sei não! Ele tem uns pulinhos meio boiola! Esse jeito dele não me engana!  O sapo então, lhe respondeu:
        - Que é isso amigo, coelho? Eu lhe dei hospedagem e agora você me paga com essa prosa ruim?
       O coelho fingiu que não escutou nada e começou de novo a arreliar o sapo: 
        - Eu penso que o amigo cascavel é homem, o amigo leão também é homem, mas o amigo sapo? Sei não! Tem uns trejeitos de uma bicha da cidade em cima do formigueiro!Esse pulinho dele não me engana...
 
        Quando o coelho foi infernizar pela terceira vez o pobre do sapo? Esse perdeu a paciência e tentou da uns murros no coelho, mas ele se desviou do golpe e o murro pegou na fuça do leão... O leão muito irado deu um tabefe no sapo que lhe arrancou a cabeça inteira. Acontece que no meio da briga sobrou também para o cascavel. Quando o leão foi esquartejar o sapo, acabou pisando na espinha dorsal da cobra que imediatamente lhe deu uma picada fatal que o matou. O cascavel ainda meio zonzo, atordoado, meio grogue pelo pisoteio do leão, pediu que o coelho lhe ajudasse a se estirar mais, a fim de lhe curar os ferimentos. Percebendo a malicia da víbora o coelho pegou um porrete grosso e terminou de matar ao cascavel.
 
      No outro dia, o coelho estava sozinho em uma larga toca confortável, graças a sua astucia e sagacidade. Retornou ao antigo lugar e pegou a dona coelha e os filhinhos e foram viver ali.
 
       O coelho nos mostrou que a astúcia, a esperteza e a lábia, ás vezes supera a força e o poder facilmente. Não tem nenhum Sansão, que não caia aos pés de uma Dalila!  
      
        “Entrou por um pé de pato
        E saiu pelo um pé de pinto. 
        Manda ao rei o meu senhor,
        Que me contasse mais cinco”!     

 
DO LIVRO: CONTOS DE BICHOS PARA CRIANÇAS
DO POETA BIRCK JUNIOR