O JACARÉ E O SABIÁ
O JACARÉ E O SABIÁ
O jacaré não podia ver o sabiá.
toda a manhã quando o retumbante e festeiro pássaro pousava em uma árvore ao lado do charco onde a hedionda criatura vivia, sentia as ameaças mortais e ferinas daquela besta que passava, dia a dia o espreitando na intenção de o devorar, não dava descanso, aquela fúnebre criatura.
Até que um dia, já não suportando mais aquela interminável perseguição, mais psicológica que física, do alto da árvore o sabiá pergunta ao jacaré.
_Por quê tu me persegues tanto seu jacaré, por acaso faço parte da tua cadeia alimentar.
_Olha digníssimo pássaro, fazer parte propriamente tu não fazes, pois alimento-me principalmente de peixes e anfíbios e, particularmente tenho horror a comida que tenha penas e similares e outras cositas mais.
_Já te prejudiquei alguma vez na vida seu jacaré, ou por ventura falei mal de ti ou dos teus progenitores ai pela redondeza?
_Pelo que eu saiba não.
_Algum mal físico que eu te fiz ou algum parente meu tenha te feito, por exemplo, invadir tua propriedade, ou algo que não me recordo?
_Não, ti não fez nada disso que estás me questionando.
_Então seu jacaré, por quê tu me persegue tanto e quer me devorar?
_Olha seu sabiá, sabe por quê que eu faço isso... ...É eu tenho horror desta tua cantoria matinal... ... ... ... ...
*JORGE LUIS BORGES