Chapeuzinho Diferente

Depois de vários ataques do lobo às vovós da região, dois caçadores decidem se reunir para tomar uma atitude contra tal situação. O caçador mais velho presidiu a reunião e sugeriu jogar o jogo do lobo.

— Caro colega, o lobo sempre ataca da mesma forma: engana uma menina que desobedece a mãe e vai visitar sua avó pelo caminho da floresta. O que temos a fazer é montar uma armadilha para ele seguindo esse mesmo padrão.

— Eu gostei da ideia — disse o outro caçador que há tempos tenta capturar o lobo — e conheço a menina certa para essa missão. A danadinha é capaz de colocar até fogo na casa com o lobo dentro.

— Dessa vez, nós o pegaremos antes que ele devore a vovozinha. Na cestinha, vamos colocar umas surpresinhas para aquele lobo maldito.

O plano para capturar o tal lobo incluía retirar a vovó de casa antes da sua chegada. Com a casa vazia, ele pularia para a parte de vestir a roupa da boa senhora e esperar a menina chegar para devorá-la. Já a menina escolheu como figurino uma capa vermelha com um capuz, que lhe deu o apelido de Chapeuzinho Vermelho.

Ela pegou uma cestinha e colocou algumas cocadas, um pedaço de bolo saído do forno com aquele aroma que atrairia o lobo onde ele estivesse. Ela também colocou alguns materiais extra como um vidrinho pimenta em pó, um alicate, uma marretinha e uma escova de lavar roupa.

Depois de tudo pronto, lá se foi a menina, pela estrada da floresta. Além do aroma dos quitutes da cestinha, ela estava cantando para que o lobo ouvisse e a localizasse com mais facilidade. E foi isso o que aconteceu, pois encostado em uma árvore estava o lobo como quem não queria nada.

— Olá, linda garotinha! Para onde vai assim cantando?

— Vou levar essa cestinha cheia de guloseimas para a minha avó que mora em uma casinha branca de varanda no meio dessa mata, às margens do riacho.

— Eu também adoraria visitar a sua vovozinha. Vamos ver quem chega primeiro? Você segue por este caminho e eu vou por aquela outra estrada.

— Tudo bem! Vamos lá!

Como o lobo conhecia muito bem aquela floresta, pegou um atalho e chegou à casa da vovó bem antes da menina. A porta estava entreaberta, ele chamou e ninguém respondeu. Daí, entrou e percebeu que a casa estava vazia, seguiu para o quarto, vestiu os trajes da vovozinha e se deitou na cama.

Ao chegar à casa da vovozinha, Chapeuzinho encontrou a porta entreaberta.

— Vovó, a senhora está aí?

— Estou, minha querida netinha. Entre! — Disse o lobo simulando uma voz fraca e meio rouca.

A falsa vovó estava deitada na cama vestindo uma camisola e usando uma touca na cabeça na tentativa malsucedida de esconder as orelhas. Ao falar, tentava esconder o focinho puxando o cobertor para a altura dos olhos.

Chapeuzinho se aproximou do lobo com a cestinha ao braço.

— Vovó, que mãos grandes você tem! Pegou a marretinha e lhe deu uma pancada nos dedos da falsa velha.

— São para te segurar melhor, meu docinho! Ai! O que é isso?

— Oh, vovozinha, é para combater doenças nos ossos. E que olhos grandes você tem! A menina abre o vidrinho e sopra pimenta nos olhos do lobo.

— São para te enxergar melhor, minha menina! Ui, ui! Está ardendo...

— Calma, vovó! É um novo tipo de colírio em pó. Mas que orelhas compridas você tem! E puxa uma com o alicate tirado da cestinha.

— São para te ouvir melhor, anjinho! Está doendo! Solta a minha orelha!

— Vovozinha, isso é um tipo de massagem para melhorar a audição. E que boca enorme você tem!

— É para te devorar!

E quando o lobo mostrou os dentes, a menina pegou a escova e passou na boca do malvado com toda a sua força e saiu correndo em direção à porta de frente da casa. O lobo pulou da cama e a seguiu.

Ao passar pela porta, Chapeuzinho parou e a puxou para fechar e o lobo, que vinha correndo, chocou-se com ela e caiu tonto perdendo os sentidos.

Os caçadores que observavam tudo escondidos atrás das árvores próximas à casa, aproximaram-se da menina e encontraram o lobo caído no chão.

— É agora que eu acabo com esse lobo! — disse um caçador preparando a espingarda para atirar no animal.

— Antes disso, deixe-me pregar uma última peça nesse danado! Esses quitutes estão bem temperados com pimenta e essa garrafinha tem molho de pimenta no lugar da água. Já que ele gosta tanto de comer, vamos obrigá-lo a devorar tudo e será o fim dele!

E assim o fizeram. Quando o lobo despertou, os caçadores o obrigaram a comer as guloseimas da cesta, caso contrário levaria uns tiros de espingarda. O animal começou a devorar as comidas na maior ferocidade e quando percebeu que estava tudo apimentado, com a focinho todo ardido, destampou a garrafinha e a virou na boca de uma só vez. A situação só piorou: o lobo disparou para o riacho a fim de beber água fresca, ao tentar alcançar a água, escorregou, bateu a cabeça em uma pedra e caiu dentro do riacho sendo atacado por um cardume de piranhas.

Era uma vez o lobo.