Uma história encantadoramente simples

Um belo dia uma arvorezinha de sumaúma, ainda muito pequena, olhou lá pra cima no céu e perguntou a sua mãe:

– Mamãe, eu quero ficar com você. Como eu faço pra crescer?

Sua mãe, forte, enorme e espaçosa, como toda sumaúma, pensou e depois respondeu:

– Não é difícil. Você tem que esticar os galhos assim pra cima e… ahhhhh.

Assim que a mãe se lembrou do gesto de erguer os galhos, começou a bocejar e dormiu.

Sumaúmas são árvores que levam tempo para crescer, mas é bem rápido no tempo de árvores. A pequenina, então, ergueu os galhos o máximo que podia, e começou a esticar o tronco o máximo que conseguia. Ela foi subindo aos poucos e deixando para atrás as amigas: andirobas, cajuaçus, maçarandubas, tatajubas.

De repente, tudo o que ela conhecia e conviveu por longo tempo ficou lá embaixo, distante. Sua mãe, por outro lado, estava pertinho. A árvore, agora enorme, se voltou para a mãe e disse:

– Oi, mãe. Senti muito sua falta. Mas agora sinto falta das minhas amigas.

A árvore mãe olhou para baixo demoradamente e depois respondeu:

– Hum… eu sentia sua falta e você apareceu. Você sentia a minha falta e você cresceu e chegou até aqui. Será que tudo que desejamos acontece?

Ao que a filha logo respondeu:

– Eu quero ficar com minhas amigas.

De repente, nuvens pesadas começaram a se juntar. O céu furioso mascou e mascou até enfim cuspir um raio que, como uma espada, cortou o tronco da filha de sumaúma, que despencou e se deitou no chão. Sentindo uma tristeza de árvore, a mãe se despediu da filha:

– Adeus filha.

Passou-se o tempo e o tronco da pobre sumaúma se tornou alimento da terra. Terras não gostam de falar muito, elas preferem passar seu precioso tempo digerindo coisas. Orgânicas, de preferência. Mas elas são sempre gratas pela refeição. Sabe o que elas fazem? As terras, que muita gente não dá nenhum valor, criaram um ritual de agradecimento no qual pegam as sementes, abraçam, beijam e alimentam até que estas sejam capazes de se virar sozinhas. As sementes, por outro lado, mantêm uma parte de si conectada às terras, para não abandoná-las totalmente. E depois vão embora.

Curiosa para saber o que viria desta vez, a grande árvore mãe fez um esforço para olhar lá embaixo, mas havia outras árvores encobrindo a terra. Ela então se lembrou de uma música antiga, do tempo em que só havia árvores, terra, água, ar, céu, estrelas, sol, lua, nuvens, chuva e alguns animais e todos viviam em harmonia.

A grande mãe sumaúma começou a cantar assim:

“Sonho é a lua alcançando sol,

Triste é a nuvem chorando ao léu,

Água enche o espírito dos animais,

Estrelas são gratidão de tamanha paz,

Árvores são a terra tocando o céu,

Árvores são quem faz tudo acontecer.”

De repente, a mãe ouve dezenas de pequenas árvores de sumaúma lá embaixo, bem distante, falando todas juntas:

– Mamãe, eu quero ficar com você. Como eu faço pra crescer?