MÁSCARA DE CERA
Devasso-me intenções, nas reuniões subalternas dos píncaros do poder. Abaixo a transversalidade, a obtusidade dos pêagádês chinfrins, de cátedras serviçais. Desdigo e desobedeço às normas imputadas à base de transgressões medievais, cientificismo marginal e deslírico, paladar de orador sob entorpecentes. Fogueiras queimaram ideias e ideais, crenças viraram cinzas nos lombos dos templários, quando o cavaleiro de máscara branca irrompeu das fumaças dos restos dos tempos e se impôs nos púlpitos empoeirados. Falou-me que viera destruir o não feito, queria-me servo e mestre de obras da sua revolução lúdica, que as comportas da insensatez e da decadência humanas foram dinamitadas pelo septo descerebral das inquietudes.
Desvesti-me dos vazios e da passividade de que estava possuído e montei nos planos surreais e desmistificadores do guerreiro mascarado; pus-me desatento ao apelo desregrado do desconhecido e meti uma máscara de cera na cara descarada deste lapidador de desregras. Bem me quer quem mal me quer por meus despreceitos, recuso os refugos da temperança; as teses das antíteses nas orações gramaticais me enervam, me oprimem. Encaverno-me de axiomas, medro-os, são isquemias de cabedais paupérrimos, jogo-os aos leões de Tebas. Os ácratas da Democracia estão sob pele de fardas, mancomunando-se com os predadores dos hebdomadários atávicos, e eu, herói de parcos segundos, devo mandá-los à universidade de Anacreonte, fazê-los despoemar as vicissitudes dos incrédulos.
Com o pequeno exército de mim e do desconhecido mascarado, varo as noites uivosas e despejo verborragia rouca nos ouvidos moucos da desumanidade. Contra-atacam com as verminosidades e seus aliados alados de asas de cera, não os temo; sou um conjunto de desmantelamento de seres deificados, um malagma de laboratórios fronteiriços com a Perfeição! Espio e estudo a multidão de inimigos que nos insultam e assacam, às vezes parábolas, às vezes contos de idade média, bruxas e gnomos ventando nos olhos e nos cabelos seus venenos de realismo fantástico. Minha máscara de cera ameaça derreter e temo expor-me ridiculamente a eles, a essa plebe barbitúrica; procuro meu companheiro de luta e exército de dois e não o vejo! Feriram-no, mataram-no, incendiaram-no com o fogo da fogueira de bojão de gás de cozinha, ou gasolina de postos atarracados nas esquinas dos grandes feudos.
Sou intenso e infenso a recuadas, covardias dos desacreditadores de objetivos abortados. Desmascaro-me de vez e uivo ao dragão aprisionado nas despensas dos castelos de palha dos quarteis emasculados pelas cartilhas analfabetas. Desaponto-me ao vê-lo lambendo labaredas nos becos e favelas. Só resta eu, o herói dos teclados aberrantemente figurativos, dadaístas; eu, um exército singular, cópia mal engendrada de um personagem de Walter Scott, personagem sem leitor e sem editora, um ramo de sonho neste matagal de estribos cancerosos.