O JUMENTO PACO E O CAVALO FOGOSO

Havia um pequeno sítio onde morava uma família e eles tinham além de duas vaquinhas leiteiras um jumentinho pequeno, porém forte.

Essa família era composta de quatro pessoas: o pai Josué, a mãe Clara e os filhos João e Mariana. Levavam uma vida simples. Eram agricultores. Cultivavam alguns cereais e verduras para o próprio consumo e o que sobrava vendiam na cidade para alguns comerciantes ou feirantes.

Paco, o jumentinho, era um animal muito manso e prestativo, Era utilizado para arar a terra, montaria e até carregar sacos de alimento para serem vendidos na cidade.

Havia também uma família que morava num sitio vizinho: uma propriedade bem maior, com bastante gado e vários cavalos de raça para criação. Plantavam apenas para consumo próprio, pois a renda vinha da produção de gado e cavalos. Essa família também era composta de quatro pessoas: o pai Jeremias, a mãe Carlota e os filhos Guilherme e Janaina. Apesar de terem mais cavalos para a montaria, as crianças gostavam mais de andar num cavalo de raça muito bonito chamado Fogoso.

As crianças das duas famílias se davam bem. Frequentavam a mesma escola e brincavam algumas vezes na casa de João e Mariana. Outras vezes, na casa de Guilherme e Janaina. Quando saiam para cavalgar é que surgia o problema: o Paco, coitadinho, ficava tão escondidinho enquanto o Fogoso, todo esnobe, mostrava sua beleza. Mas João e Mariana não se importavam com o que as pessoas diziam sobre o jumentinho. Guilherme e Janaina, algumas vezes, zombavam dele e comparavam a beleza e a elegância de Fogoso com o Paco que de bonito não tinha nada. Mas Mariana e João sempre diziam que Paco era, para eles, o animal mais bonito do mundo.

Certo dia, quando todas as crianças se encontravam brincando no sítio do senhor Jeremias de esconde-esconde, de bola, de pula-pula e etc., Janaína resolveu dar uma volta de bicicleta ali por perto antes do lanche que Dona Carlota preparara para eles. Era difícil andar de bicicleta naqueles arredores porque o terreno era cheio de pedras e buracos. Quando precisavam ir à cidade não iam no Fogoso, usavam os outros cavalos. No sítio do senhor Josué era o Paco que fazia esse transporte.

Janaína saiu pedalando e Dona Carlota disse:

- Volte logo para você lanchar com seus colegas!

De repente a roda da bicicleta bate numa pedra e Janaína leva um tombo daqueles. Logo perceberam que ela não conseguia se levantar e todos correram para acudi-la.

Janaina chorava e se queixava muito de dores na perna e no braço. Chamaram o senhor Jeremias e ele a levou carregada para casa. E agora o que fazer? Teriam que levá-la para a cidade e procurar socorro. Mas como carregar Janaina no lombo do cavalo com a perna machucada se ela nem conseguia ficar em pé? O Fogoso nunca tinha puxado uma carroça. Ficaram desesperados, pois Janaina continuava chorando de dor.

Mariana e João também ficaram aflitos de ver sua amiga e os pais naquela preocupação. Aí tiverem uma ideia:

- O Paco puxa a carroça quando o nosso pai precisa levar coisas mais pesadas ou mais urgentes para a cidade, então vamos lá em casa falar com ele.

Logo apareceu o Paco puxando a carroça para socorrer a menina e, com cuidado, seguiram para a cidade. Janaína foi acompanhada por Josué, Jeremias e Carlota. Guilherme ficou na casa dos coleguinhas, acompanhados por Dona Clara, até os pais dele voltarem.

Quando chegaram à cidade procuraram logo o Pronto Socorro. Por ser domingo, achar médicos de plantão naquela hora era mais difícil. Havia muita gente aguardando atendimento, mas como Janaina chorava de dor, o único médico a atendeu prontamente, pois as pessoas que estavam esperando cederam a vez para que ela fosse socorrida logo.

O médico após examiná-la a encaminhou à sala de raio-X, pois suspeitava de fratura na perna. Realmente a suspeita foi confirmada: Janaina estava com uma pequena fratura, felizmente, não era coisa muito grave.

- Com um mês de repouso ela se recupera! Disse o Dr. Afonso.

Com a perna engessada e agora sem dor, Janaina voltou para casa juntamente com os acompanhantes, então, mais aliviados. A menina estava bem mais tranquila. Paco com sua força veio trotando puxando a carroça e em pouco tempo estavam todos em casa.

Jeremias agradeceu muito a Josué e levou o Paco, o jumentinho que achavam feio e zombavam dele, para o estábulo e deu a melhor ração que tinha lá para ele comesse até se fartar. Assim que notaram que tinham voltado, Dona Clara chegou com as crianças para ver Janaina e todos ficaram felizes de saber que logo ela se recuperaria do trauma sofrido. Jeremias também disse para João e Mariana que sempre que quisessem podiam trazer o Paco para que tivesse todas as regalias de alimentação e cuidados como o Fogoso tinha.

A partir desse acontecimento, Janaina e Guilherme passaram a pensar diferente em relação às diferenças físicas e sociais e a tratar melhor às pessoas e aos animais.

Perceberam que o que vale é a bondade e a amizade sem preconceitos, e que nesse mundo todos necessitam uns dos outros, principalmente nos momentos de emergência.

There Válio 14/08/2018